O privilegiado espaço que o amendoim conquistou ao longo de décadas como tira-gosto está ganhando novas dimensões ao entrar também na rotina de quem busca uma opção de proteína para acompanhar atividades físicas e rotinas de treino. Ao oferecer o prazer do paladar combinado à satisfação nutricional, o pequeno grão passou a atrair consumidores de várias partes do mundo e ganhou novas perspectivas.
A produção nacional de amendoim, na safra 2024/2025, foi estimada em mais de 1 milhão de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – mais exatamente 1,042 milhão –, o que representa aumento de 42,1% sobre o volume colhido na temporada anterior.
Boa parte desse crescimento está relacionada à eficiência produtiva, pois a área plantada avançou apenas 6,2%. Na safra 2023/2024 foram cultivados 255,4 mil hectares com o grão, enquanto a estimativa para 2024/25 é de 271,2 mil hectares. Já a produtividade para o atual período foi projetada em 3.846 kg/ha, 33,9% a mais do que no período anterior.
Vários motivos impulsionam esse momento favorável do amendoim brasileiro, em especial vindos do mercado mundial. Em relação ao consumo, além da crescente demanda por alimentos ricos em proteína, avança o interesse dos segmentos farmacêutico e de cuidados pessoais no óleo do grão.
Essa situação impacta direta e indiretamente no campo. Frente a novas e maiores oportunidades, os agricultores buscam soluções tecnológicas que garantam resultados superiores, do cultivo à colheita.
Fora da porteira, essa mesma demanda chega a ser uma provocação aos fornecedores de insumos e maquinário, para que providenciem as inovações que o setor necessita. A reação em cadeia parece estar funcionando.
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), grande exemplo da transformação pela qual passa o setor do amendoim é o crescimento do uso de sementes certificadas, o que tem proporcionado ganhos significativos em produtividade e segurança quanto à qualidade do grão.
Diante da crescente demanda de exportação e da maior exigência do mercado consumidor quanto ao padrão de qualidade do amendoim, muitos agricultores foram deixando para trás o uso de “sementes salvas”, quando aproveitam os grãos da própria colheita para plantar na safra seguinte.
Essa prática tem sido substituída pela utilização de sementes produzidas sob controle de geração e sob as regras do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). O impacto dessa mudança é percebido pelas informações sobre os fornecedores dessas sementes.
Conforme dados da Superintendência de Agricultura e Pecuária no Estado de São Paulo (SFA-SP), somente sete fornecedores de sementes de amendoim certificadas estavam inscritos no Mapa na safra 2015/2016, com 7,9 mil hectares de campos de produção. Na safra 2023/2024, esses números foram quadruplicados: 27 produtores de sementes certificadas inscritos no Mapa e 32,3 mil hectares de campos de produção.
A oferta de cultivares geneticamente superiores também contribuiu efetivamente para o salto de produtividade e para a conquista de mercado. Instituições como a Embrapa Algodão e o Instituto Agronômico (IAC) têm contribuído bastante para essa questão. Sobretudo o IAC, que em 2022 respondia por 80% das cultivares plantadas em São Paulo, o principal estado produtor de amendoim do Brasil.
Os agricultores paulistas respondem por 90% do amendoim brasileiro, tendo como maiores produtores os municípios de Tupã, Marília, Jaboticabal e Presidente Prudente. O cultivo do grão está avançando para além das terras paulistas, ganhando espaço em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Triângulo Mineiro e Goiás, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab).
Aceleração do maquinário
A evolução tecnológica é necessária em todas as etapas da produção do amendoim, inclusive na colheita, momento crucial para definir a produtividade das lavouras. A Indústrias Colombo, fabricante de maquinário com sede em Pindorama (SP), começou a aproveitar essa onda em 1973, ano de sua fundação.
A companhia surgiu exatamente a partir da necessidade de seus fundadores de terem equipamentos apropriados para a colheita do amendoim, de forma a garantir o melhor resultado, com menor desperdício. O equipamento que desenvolveram naquela época chamou a atenção de vizinhos, que se tornaram clientes.
Hoje, a empresa tem na linha de frente de seu portfólio uma colhedora automotriz que trabalha com amendoim, feijão e soja. “É a primeira máquina agrícola que colhe vagem e grão”, disse o gerente de Relações Institucionais da Colombo, Luiz Antônio Vizeu. A evolução no desenvolvimento do maquinário levou a companhia a montar subsidiárias em Córdoba, na Argentina, e na Geórgia, nos Estados Unidos.
A relação com os norte-americanos se tornou um valioso intercâmbio tecnológico. Segundo Vizeu, a área plantada deles com amendoim é o dobro do que se tem no Brasil e há dois fabricantes de máquinas específicas para o grão.
“Levamos nossa máquina para fazer testes por lá, fizemos adequações, pois o solo por lá é diferente, mais arenoso”, afirmou o gerente, que ainda ressaltou uma das vantagens que levaram para os Estados Unidos: “Nossa máquina tem um desempenho diferente, quebra menos a vagem”.
Por conta dessa aproximação, desde 2012 a Colombo realiza uma viagem técnica para os Estados Unidos – a Colombo Peanut Tour –, levando representantes da cadeia produtiva de amendoim para conhecerem o setor por lá, oferecendo aos participantes um pouco da experiência que sua própria equipe tem vivenciado. A visita mais recente aconteceu entre os dias 21 e 26 de outubro, no estado da Geórgia.
Segundo Vizeu, que até fevereiro deste ano presidia a Câmara Setorial do Amendoim na Secretaria de Agricultura de São Paulo, a Colombo também organiza a vinda de norte-americanos para conhecerem a cadeia produtiva do amendoim no Brasil. “E eles mesmos dizem que seremos uma potência mundial”, disse.
Oportunidades existem, e há um caminho considerável a ser trilhado. O Brasil é o sexto maior produtor de amendoim, atrás de China, Índia, Nigéria, Estados Unidos, Indonésia, Argentina e Senegal, conforme a consultoria Mordor Intelligente. Já em relação às exportações, as quatro primeiras posições pertencem a Argentina, Índia, Estados Unidos e China. O Brasil lidera as exportações de óleo de amendoim.
Estudo realizado pela Mordor mostra que o mercado global do amendoim é estimado em US$ 90,4 bilhões em 2024 e pode chegar a US$ 102,8 bilhões daqui a cinco anos – com taxa anual de crescimento médio no período em 2,6%.
A empresa indica ainda que exportadores de amendoim nos chamados “países em desenvolvimento” devem prestar atenção em Holanda, Alemanha e Reino Unido, onde o consumo do grão tende a aumentar.
Com todos os fatores que têm sustentado a evolução da produção de amendoim, em volume e qualidade, o Brasil pode almejar fatias maiores desse mercado.
“Em 2023, 75% do amendoim brasileiro foi exportado, seja em grão, seja em óleo”, afirmou Vizeu. Até a década de 1990, era impossível pensar nessa possibilidade, pois o país nem sequer cultivava as variedades que os importadores buscavam. Agora, o quadro é bem diferente.
No entanto, ainda falta promoção para o setor, segundo o gerente da Colombo. “O marketing da cadeia é muito pequeno, estamos engatinhando. Só a Abicab faz um trabalho maior nesse sentido. O amendoim é um alimento de excelente qualidade, tem diversas características favoráveis”, afirmou.
Como em várias áreas do agronegócio brasileiro, a resposta pode estar em ações coletivas bem direcionadas. “Na Geógia, que responde por 50% de todo o amendoim dos Estados Unidos, cada produtor contribui com US$ 2 por tonelada do grão para pesquisa. E uma cadeia forte beneficia todo mundo”, disse Vizeu.