O futuro da agropecuária brasileira passa pela recuperação de pastagens degradadas. É o principal caminho para seguir aumentando a produção de alimentos e fibras sem a necessidade de abrir novas áreas.

O grande desafio, no entanto, vinha sendo o custo elevado para fazer essa recuperação das pastagens. O investimento necessário em sementes e fertilizantes, por exemplo, para voltar a ter um pasto de qualidade, ficava acima das possibilidades de receita que a pecuária poderia gerar em determinadas regiões.

Nesta terça-feira, 29 de outubro, a Embrapa Agropecuária Oeste, de Dourados, Mato Grosso do Sul, está fazendo o pré-lançamento online de um sistema produtivo que promete solucionar esse desafio da viabilidade econômica.

É o chamado “Sistema Diamantino”, que foi desenvolvido em conjunto com a empresa Latina Seeds e vinha sendo testado em campo há quatro anos. Agora estará disponível para ser adotado comercialmente pelos produtores.

“Ele é um consórcio de sorgo biomassa com uma braquiária ou panicum, que são capins perenes”, explicou a pesquisadora da Embrapa, Marciana Retore, em entrevista ao AgFeed.

A pesquisa foi combinando determinadas quantidades de sementes de capim, assim como as variedades de sorgo, buscando as melhores produtividades e chegando ao modelo recomendado.

Pelo sistema, o produtor planta o sorgão gigante, que já foi conhecido como sorgo boliviano, em consórcio com o capim. O objetivo é produzir e colher uma silagem que será comercializada em pouco tempo, gerando renda e ajudando a financiar o sistema como um todo.

“É um sorgo muito produtivo. Por isso ao fazer a renovação do pasto com o sorgo, o produtor vai ter a silagem e, no prazo de 3 a meses terá o valor investido de volta”, afirmou a pesquisadora.

Quem comercializa a variedade de sorgão gigante que foi utilizada na pesquisa é a Latina Seeds, que fez a parceria com a Embrapa para que os pesquisadores encontrassem o modelo ideal.

Segundo o CEO da Latina Seeds, Willian Sawa, hoje o Brasil planta em torno de 950 mil hectares de sorgo silagem. “Podemos ir facilmente para 3 milhões de hectares, considerando que hoje o produtor brasileiro já faz uma renovação de cerca de 5 a 7 milhões de hectares por ano”.

O cálculo otimista também leva em conta o projeto do governo federal que visa estimular a recuperação de pastagens degradadas no Brasil. O Ministério da Agricultura tem buscado parcerias internacionais, uma delas já encaminhada com a JICA, do Japão, para financiar a conversão de áreas em lavouras ou em pastos de alta produtividade.

A estimativa é de que o Brasil tenha 27,7 milhões de hectares de pastagens com nível de degradação alto. A meta seria fazer a recuperação de pelo menos 10 milhões de hectares nos próximos cinco anos.

E por que o caminho deveria ser o Sistema Diamantino? A pesquisadora da Embrapa diz que a vantagem econômica, segundo os estudos que estão sendo divulgados agora, se mostrou muito relevante.

O custo de produção é mais alto para fazer o consórcio, ficou em R$ 8.366 por hectare, enquanto a renovação exclusiva de pastagem demandou R$ 4.288. Mas o grande diferencial é a lucratividade.

Ao longo de 230 dias, na área que fez o consórcio sorgo mais capim o lucro ficou em R$ 10.144 por hectare. Isso porque houve a venda da silagem já nos primeiros meses. Já no caso da pastagem exclusiva a conta final foi um prejuízo de R$ 1.648 por hectare. “Sem o milho para vender, só o arrendamento da área para pecuária não cobria o custo do investimento na recuperação do pasto”, explicou Marciana Retore.

A pesquisadora acredita que o Sistema Diamatino tenha grande potencial para integrar as políticas públicas do programa do governo de renovação de pastagens degradadas. Segundo ela, além dos testes em Mato Grosso do Sul, também houve validações do sistema em outras regiões do Cerrado e do bioma Amazônia.

“A ideia nao é concorrer com área onde tem indicação pra milho e soja. É mesmo trabalhar só com pecuária e não lavoura. Em solos mais arenosos esse sistema pode entrar”, ponderou.

A recomendação para que for iniciar o sistema é adotar o capim marandu, começar com braquiária e só depois utilizar o panicum.

Sawa, da Latina Seeds, também acredita que a retomada do ciclo positivo da pecuária deve favorecer o interesse pelo sistema. “Isso motiva o pecuarista a renovar a pastagem e o clima vinha reduzindo a oferta de pasto e silagem”.