No ano passado, durante a feira Seafood Show Latin America, realizada anualmente em São Paulo, a Brazilian Fish, empresa do grupo Ambar Amaral especializada na produção de tilápias, ganhou um prêmio de inovação com um produto inusitado: uma coxinha de tilápia.
A meta neste ano era o bicampeonato. E ele veio com outra inovação ainda mais ousada: o “gelafish”, um picolé feito à base do peixe. O sabor é doce, e mesmo sem açúcares, utiliza as altas doses de proteínas do animal para buscar um mercado fit.
O movimento mostra um pouco da estratégia da empresa, que tem apostado na diversificação de portfólio e em alternativas para agregar valor aos peixes e, assim, aumentar sua receita.
“O sorvete de tilápia pode ser algo que não vai ter grande representatividade de faturamento, mas ajuda a fortalecer a marca. ‘Fazer barulho’ numa feira como essa fortalece nosso objetivo”, afirmou o CEO da Brazilian Fish, Ramon Amaral.
Aí, mais uma vez, o discurso é incomum. Segundo Amaral, a proposta da empresa é “vender o filé de tilápia a preço de filé de frango”. Ou seja, reduzir pela metade o custo do seu produto principal graças ao melhor aproveitamento de tudo o que o pescado tem a oferecer.
Antes do sorvete e da coxinha, a empresa já havia desenvolvido uma pururuca de tilápia, quibe e até a venda de refeições prontas com o peixe.
Agregar valor ao peixe é importante pois, segundo Ramon Amaral, a cada um quilo de tilápia, somente 330 gramas viram filé. “O restante são subprodutos que vendemos. Nada se joga fora”.
A companhia ainda exporta a pele e as escamas do peixe para o Japão, comprado por empresas que produzem colágeno. Das entranhas e vísceras do peixe, a empresa ainda aproveita para produzir uma carne moída.
Para atingir seu objetivo, porém, o primeiro passo é aumentar a capacidade produtiva, desde a originação até a parte frigorífica.
Hoje, a empresa processa cerca de 60 toneladas por dia de tilápia, o grande carro-chefe do negócio, em suas duas plantas. A ideia é chegar em fevereiro com 100 toneladas diárias.
Ramon Amaral estima que a companhia investiu cerca de R$ 100 milhões nos últimos 24 meses para atingir essa meta.
Mais de 80% da produção é própria, feita nos próprios tanques da empresa, e cerca de 17% é comprada de quatro produtores integrados.
De acordo com Ramon Amaral, os investimentos em infraestrutura passam dos R$ 40 milhões. A maior parte do montante foi aplicado na biomassa, ou seja, nos peixes.
A empresa investe desde o momento em que coloca os alevinos na água, nas rações e despesas para que, em sete meses, o peixe vá para a indústria.
O CEO não divulga o número de faturamento da Brazilian Fish. Já o grupo Ambar Amaral – que conta também com a Raguife, de rações para peixes e pets, e uma área de pecuária –, deve “beirar o primeiro bilhão” neste ano. Os outros negócios são tocados pelos seus irmãos mais novos, Felipe e Guilherme.
Na companhia focada na produção de peixes, a perspectiva é crescer 16% em volume e um percentual próximo a isso no faturamento frente ao ano de 2023.
Por mais que a tilápia seja o grande carro-chefe, nos últimos meses a empresa também passou a importar e embalar polaca, salmão, merluza, cação e pescada branca.
Antes disso, em 2022, ingressou no mercado de camarões. Hoje, metade das vendas dos produtos são feitas por marcas terceirizadas, como Seara e Swift, da JBS, e Qualitá, do Pão de Açúcar.
A maior parte do mercado está em São Paulo e Minas Gerais, mas nos últimos dois meses a Brazilian Fish iniciou operações em Santa Catarina, Paraná, Amazonas e Roraima.
Do peixe ao fertilizante
A proposta de criar uma economia circular a partir da criação de tilápias abriu outras frentes para a Brazilian Fish, a partir da utilização de parte dos resíduos dos peixes que iam para graxarias.
Desde 2017, com o cantor sertanejo Zé Neto (dupla com Cristiano) como sócio, a empresa passou a desenvolver uma marca de fertilizantes feitos à base de resíduos da produção de peixes.
A Biotil, como foi nomeada, demandou quatro anos de desenvolvimento junto à Unesp de Jaboticabal e começou a vender os biofertilizantes organominerais para clientes restritos na safra 2021/2022.
Na última safra, o produto passou a ser comercializado para agricultores da região em que a empresa atua, no extremo oeste paulista, em Santa Fé do Sul.
Hoje a fábrica produz cerca de 4 milhões de litros por ano, algo em torno de 350 mil litros por mês, e, segundo Amaral, utiliza apenas 7% de todos os resíduos dos peixes aptos a virarem o produto.
“O fertilizante serve para tudo. Começou por conta da pastagem, dentro do grupo, e passou a atender produtores de soja e milho. Hoje já tenho clientes que plantam cebolinha e até pitaya”, diz o CEO, que também toca os negócios da Biotil.
Amaral conta que era chamado de “doido” ao citar a meta de colocar a tilápia ao mesmo preço do frango, mas hoje, com a diversificação nos negócios e novas avenidas de receita, já vê um mercado mais crente na possibilidade.
Segundo ele, o universo que envolve a agregação de valor serve para “reduzir a carga de custo em cima do filé de tilápia”, que é o principal produto do negócio.
“Quem paga conta de energia e salário da equipe é o filé de tilápia. Vamos aproveitar melhor esses outros produtos de baixo valor agregado e aí poderemos começar a produzir o peixe a preço de filé de frango”, afirmou Ramon Amaral.