Terceira maior empresa do segmento no Brasil, a Lar Cooperativa Agroindustrial é gigante (sua receita ultrapassou R$ 21 bilhões em 2023) e diversificada (com atuação em aves, suínos, leite e grãos). Assim, na hora de investir, o olhar estratégico precisa estar afiado para escolher a frente que receberá o maior volume de recursos.
Em 2024, por exemplo, a cooperativa completou 60 anos e se presenteou com um pacote de R$ 1 bilhão em novos aportes. O destaque ficou com a área de esmagamento de soja, que conquistou a maior fatia.
Para o próximo ano, a ideia é investir, no mínimo, mais R$ 600 milhões na expansão da sua estrutura, segundo antecipou Irineo da Costa Rodrigues, presidente da Lar, ao AgFeed.
Mas o histórico recente mostra que a cooperativa com sede em Medianeira, no Paraná, indica que os recursos podem ser até maiores, conforme mostrou Rodrigues em conversa com a reportagem nesta quinta-feira, 24 de outubro, durante a 9ª edição do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, evento realizado nesta semana em São Paulo.
“Neste ano, por exemplo, estava previsto investirmos em torno de R$ 517 milhões e chegamos a R$ 1 bilhão, porque surgiram oportunidades e porque o ano financeiro está bom, nos deu condições de fazer o aporte”, afirma ele.
Os investimentos serão feitos a partir do fluxo de caixa da cooperativa. Mas, como lembra Rodrigues, a cooperativa tem relação com várias instituições financeiras, como Banco do Brasil, BRDE, BNDES e Caixa, que podem garantir suporte para a expansão dos planos.
“Os bancos públicos sempre são apoiadores, como também a rede privada. Dinheiro é um produto que você compra. Vamos olhar a oferta”, afirma o líder da cooperativa.
A ideia da Lar é distribuir os recursos em várias frentes no ano que vem, algo comum nas atividades da cooperativa, que apresenta ao fim de cada exercício uma longa e detalhada lista de aportes aos seus cooperados.
Na área de grãos, o destaque é ampliar a quantidade de unidades de recebimento – ao fim de 2023 eram 60 – e trabalhar na modernização das indústrias de processamento de soja.
Já na área de proteínas, segundo Rodrigues, estão previstas novas plantas de recria de galinhas-poedeiras e de galos, e também uma de produção de leitões, no Oeste do Paraná, ainda sem definição da cidade onde está instalada.
“A unidade de leitões não vai ficar pronta no ano que vem, mas a obra vai ser iniciada”, afirma ele.
Rodrigues projeta também investimentos na criação de mais uma incubadora de ovos, no Norte do Paraná, também ainda sem definir a localidade onde será instalada.
A cooperativa já tem outras duas estruturas do tipo, em Santa Helena e em Itaipulândia, no Oeste do estado, cuja ampliação foi inaugurada em março deste ano.
O investimento foi orçado em R$ 80 milhões e ampliou a capacidade original da unidade, inaugurada em 2017, de 7,3 milhões de ovos para 20,1 milhões de ovos por mês.
Há ainda a ideia de se investir no ano que vem em processos de modernização e automação das unidades industriais da Lar, segundo Rodrigues.
Hoje, são três indústrias de esmagamento de soja, quatro de abate de frango e oito de rações.
Os investimentos dão sequência a uma série de aportes feitos pela Lar nos últimos anos e que fazem parte de um longo planejamento estratégico feito pela cooperativa até 2030.
Neste ano, foi investido cerca de R$ 1 bilhão em suas operações nas indústrias de abate de frango, de rações, na produções de leitões e pintinhos e em logística.
“A Lar tem 1,3 mil veículos. Neste ano, entre renovação e aquisição de caminhões novos, foram 90 caminhões”, afirma Rodrigues.
Mas o investimento mais relevante, segundo o presidente da cooperativa, foi a compra de uma fábrica de esmagamento de soja por R$ 280 milhões que pertencia à Copagril, outra cooperativa do Paraná, localizada em Marechal Cândido Rondon.
Em novembro de 2020, a Lar já havia adquirido uma planta de aves e outra de rações que também eram da Copagril, no que foi anunciado na época como uma “aliança estratégica” entre as cooperativas.
Além dos aportes, a companhia também fez, em maio deste ano, uma operação de CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) no valor de R$ 701 milhões, em conjunto com a Eco Securitizadora.
Os recursos da emissão serão utilizados para a compra de produtos e insumos agropecuários, principalmente milho in natura.
“O CRA foi um sucesso. Houve apetite para R$ 1,4 bilhão, mas a gente queria só os R$ 700 milhões”, afirma Rodrigues. Ele descarta, no entanto, a emissão de um novo CRA no curto prazo.
“Obviamente, vamos estar olhando o mercado financeiro, temos um rating bom e estamos melhorando”, diz ele.
Otimismo com os negócios lá fora
No dia anterior à entrevista ao AgFeed, Rodrigues havia chegado de Paris, onde havia participado da Sial, uma das maiores feiras de alimentos do mundo. A Lar esteve presente com um stand e trouxe, segundo o presidente, bons negócios e empolgação da feira.
“Eu diria que essa edição da Sial na França foi especial, porque as carnes brasileiras vivem um bom momento e o cliente está com mais apetite de comprar. Isso não ocorreu na feira anterior, quando o Brasil queria vender muito e o cliente não estava querendo comprar”, afirma o presidente da cooperativa.
A exportação é um pilar importante dentro dos negócios da Lar, que envia produtos para mais de 90 países, com presença em todos os continentes, com exceção da Oceania.
Entre os mercados mais relevantes para a Lar no exterior, segundo Rodrigues, estão países como China, Japão, México, África do Sul, Arábia Saudita, Alemanha e Inglaterra. Ele cita, com orgulho, que os produtos da Lar são encontrados até mesmo em supermercados japoneses.
Rodrigues é um veterano da Lar. Gaúcho de Canguçu e engenheiro agrônomo de formação, ele foi para o Paraná na década de 1970, se especializou na pecuária leiteira e lá ficou.
Chefia a Lar há mais de três décadas, desde 1991, e foi o responsável pela escalada de negócios da cooperativa a partir de então.
Hoje, a cooperativa acumula números expressivos em todas as suas frentes. Ao fim do ano passado, a Lar contabilizava 13,6 mil associados, a maior parte deles trabalhando com grãos, e emprega 24 mil funcionários.
Em 2023, a Lar recebeu 6,7 milhões de toneladas de grãos, um crescimento de 19,3% em relação ao ano anterior, sendo 3,5 milhões de toneladas de milho, 3,1 milhões de toneladas de soja e 29 mil toneladas de trigo.
Somente no processo de industrialização da soja, foram produzidas no ano passado 799,5 mil toneladas de farelo de soja, 217,4 mil toneladas de óleo degomado e 45,4 mil toneladas de casca de soja.
Nas proteínas, a Lar abateu 336,4 milhões de aves no ano passado – sendo cerca de 1 milhão de abates por dia – e 1,013 milhão de suínos. Ao todo, a cooperativa contabilizava ter 2,7 mil aviários em 2023.
No lado dos grãos, a Lar tem 60 unidades de recepção espalhadas entre Paraná, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. A capacidade estática de armazenagem é de 2,6 milhões de toneladas de grãos.
No ano passado, o faturamento da Lar foi de R$ 21,7 bilhões, crescimento de 3,5% em relação ao ano anterior. Antes disso, o faturamento havia saltado sempre em 50%, passando de R$ 6,9 bilhões em 2019 para R$ 10,7 bilhões em 2020 e escalado para R$ 17 bilhões em 2021.
Por enquanto, a Lar deve atravessar um período mais calmo. Para 2024, Rodrigues, por exemplo, espera estabilidade. “O faturamento neste ano não vai crescer, vai continuar nos R$ 22 bilhões, porque a safra de grãos foi menor e os preços menores. Há volume de produção, mas isso não se reflete em faturamento”, afirma ele.
A fotografia é parecida para o faturamento do ano que vem. “Acredito que o valor fique ao redor de R$ 24 bilhões. É um crescimento pequeno porque os preços não estão contribuindo muito”, diz Rodrigues.