A multinacional Sumitomo Chemical já é uma gigante no mundo de insumos para o agro, com presença em 180 países e forte atuação no Brasil.
Centenária na fabricação de insumos agrícolas (e há quase 50 anos no mercado brasileiro), a Sumitomo é uma marca conhecida no Japão há 400 anos.
No começo, atuava no setor da mineração, mas ao longo dos anos, com mais responsabilidade ambiental, dizem seus executivos, resolveu diversificar os negócios.
Atualmente, a empresa conta com uma série de empreendimentos, que incluem desde banco e grupo de mídia, até automóveis e energia eólica.
Em uma rara entrevista à imprensa, uma executiva da Sumitomo Chemical no Brasil, conversou com o AgFeed, com exclusividade, para falar sobre o futuro da empresa.
Suellen Drumond, gerente de inseticidas e líder da cultura do algodão da Sumitomo Chemical, ressaltou que a companhia quer se posicionar cada vez mais como uma marca de produtos especiais para o agro, buscando ganhar ainda mais espaço na cultura do algodão.
A Sumitomo Chemical fatura globalmente cerca de US$ 20 bilhões e, no Brasil, a receita chegou a US$ 1 bilhão em 2023. Sem citar números, Drumond afirma que o último ano não foi tão bom quanto 2021 e 2022, mas já projeta um 2024 melhor que o ano passado.
Para tal, a empresa prepara uma série de lançamentos para os próximos anos, com foco especial na pluma. A executiva revelou que por ano, a Sumitomo repassa 7,5% de todo o faturamento global para a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos.
Quando a empresa desembarcou no País, sua atuação era estritamente B2B. Com o escritório em São Paulo, os produtos eram levados a campo através de outras companhias, por meio de parcerias, com Ihara e FMC, por exemplo.
Em 2019, a Sumitomo adquiriu a operação da Nufarm na América do Sul, e com isso, entrou também no B2C. Hoje, a venda direta aos clientes finais é mais representativa na operação, com equipes de campo e um robusto time de marketing.
“Quando a Sumitomo adquire a Nufarm, adquire um portfólio de produtos pós patente. Assim, hoje temos uma atuação direta no Brasil com produtos proprietários, pós patente e soluções biorracionais”, conta a gerente.
Essas soluções biorracionais, segundo Drumond, não se referem apenas a produtos biológicos, mas também a outros produtos mais “premium”.
Entre os produtos de maior sucesso estão os fungicidas, mas a companhia também tem acaricidas, adjuvantes, herbicidas, inseticidas (biológicos ou não), reguladores de crescimento e ainda faz tratamento de sementes.
“O produtor consegue plantar soja começando com glifosato e terminando com produtos de dissecação num portfólio completo Sumitomo”, conta a gerente.
A compra dos ativos da Nufarm trouxe junto a fábrica da companhia, que está localizada em Maracanaú, no Ceará. Hoje, a capacidade local é de produzir 250 milhões de litros de produtos por ano, mas o volume deve ser ampliado em breve.
Segundo Suellen Drumond, a fábrica tem a cara de uma empresa japonesa: “limpa e organizada”. Nos últimos meses, a Sumitomo adquiriu um terreno ao lado da instalação para futuras expansões.
A companhia atua em todo o País e nos principais cultivos. No mix do faturamento, as principais culturas são (nesta ordem): soja, milho, algodão e cana. Apesar disso, também possui produtos utilizados no cultivo de café e hortifruti, por exemplo.
A empresa conta hoje com mais de 60 produtos de prateleira, e Drumond revelou que a meta é aumentar esse portfólio em 50% nos próximos cinco anos, ou seja, lançar mais 30 novos produtos.
“A meta é conquistar posições melhores no mercado entregando soluções diferenciadas. Internamente dizemos que temos um ‘problema bom’, com uma quantidade grande de lançamentos, com misturas novas”.
O crescimento do faturamento da Sumitomo passa, segundo a gerente, por uma atenção especial aos produtos destinados ao cotonicultor. Esse movimento já acontece há alguns anos na empresa, e desde que a gerente assumiu o posto, diz ter visto, a partir de pesquisas de mercado, que a Sumitomo tinha muito espaço para crescer na cultura.
Um “projeto do algodão” surgiu na companhia de origem japonesa, e encabeçou diversos subprojetos que envolveram visitas a campo, conversa com elos da cadeia e investimentos. Na avaliação de Suellen Drumond, o portfólio não era o problema, e sim a estratégia.
Pela dificuldade do cultivo, a produção de algodão no Brasil é feita por poucos e grandes produtores, geralmente bem capitalizados. “Esse nível de produtor e companhias agrícolas tem acesso e condição de pagar pelos melhores produtos, mas não tem acesso a uma curadoria. A Sumitomo fez isso por meio de programas de relacionamento e investimentos para capacitar o time nesse segmento”, conta.
“A cultura do algodão é perene, e sem controle hormonal, vira árvore. É um cultivo exigente e que não tolera erros. Entendemos que isso se faz com soluções diferenciadas”, diz ela.
Além disso, a executiva lembra que produtividade conta menos na pluma do que em outras culturas como a soja. Para o cotonicultor, quanto melhor a qualidade da fibra colhida, mais receita.
Segundo a gerente, a Sumitomo entrega hoje quatro produtos que controlam o bicudo-do-algodoeiro, principal praga da cultura. Essa linha mais “premium” que a Sumitomo deseja tornar cada vez mais seu destaque, possui um grande foco no algodão.
“O algodão é um foco para ganhar mais share. Todo cotonicultor também planta soja ou milho, e vemos isso como uma porta de entrada em relação ao portfólio completo da empresa. Um maior share no algodão permite penetração na soja e milho”, apontou a gerente.
“Seguimos investindo na cotonicultura. É uma cultura difícil, mas para uma empresa japonesa, estamos acostumados com isso”, brinca.
A empresa promete lançar um herbicida “disruptivo” nos próximos anos, e no Congresso do Algodão, que acontecerá em Fortaleza (CE) na semana que vem, lançará o Pladius, fungicida especial que mistura três ativos, para a cultura.
“Cada vez mais estamos priorizando produtos diferenciados ante um portfólio de pós patente. Claro, também atuamos com eles para suprir necessidade e entregar solução completa, mas o foco está em moléculas disruptivas que contribuem na produtividade e qualidade, seja no algodão, soja ou milho. Esses produtos colocarão a Sumitomo entre as cinco maiores empresas de P&D”, afirmou.
A foto do momento e o diferencial logístico
Como não poderia deixar de ser, a empresa também vê um atraso na comercialização de produtos frente a anos anteriores. Drumond cita que os negócios aceleraram com maior força em junho.
O otimismo da Sumitomo é ancorado em um diferencial da companhia.
A importação de algumas matérias-primas, que vêm do Japão ou da China, é demorada para qualquer empresa. Desde o tempo de trânsito, desembaraço, caminho até a fábrica e posteriormente para centros de distribuição (CDs) que, finalmente, chegam às fazendas e revendas, o tempo médio é de 150 dias.
Na Sumitomo, o período é 20 dias mais curto por conta da localização da fábrica, nas contas de Suellen Drumond. A unidade está localizada a menos de 60km do Porto de Pecém, também no Ceará.
“Recebemos 90% das cargas de produtos técnicos nesse porto. Isso nos dá uns 20 dias de vantagem, e pode ser um grande diferencial para o ano que está sendo marcado por um atraso nas negociações. Estamos otimistas para um ano de bons resultados, melhor do que foi em 2023”, afirmou.
Além da fábrica, a empresa possui CDs espalhados no País, com destaque para um na Bahia, três no Mato Grosso e dois no Sul do Brasil.