É chover no molhado falar sobre o avanço do agro tecnológico no País. Seja pela quantidade de agtechs que nascem todo ano, pelos investimentos milionários recebidos ou pela necessidade natural de mais produtividade no campo, o agro virou tech.
Esse horizonte de possibilidades, contudo, gera algumas lacunas, como por exemplo, na educação. Para preencher os postos de trabalho para atuar com o agro tech, novos profissionais precisam surgir, e com isso, novas capacitações.
Foi olhando para esse cenário que a Rural Ventures se uniu com a Harven Agribusiness School na criação de um curso focado na transformação digital e na gestão de inovação no agro.
De acordo com Fernando Rodrigues, um dos sócios da Rural Ventures, a ideia é educar futuros líderes do agro que querem atuar com o agro tecnológico de forma mais aprofundada.
“Formando esses novos líderes do agro pelo viés tecnológico, trazemos as startups para um protagonismo, com lideranças que conheçam o que está sendo criado no mercado”, afirmou Rodrigues.
A ideia do curso partiu da Harven, que viu uma demanda de seu ecossistema de alunos para abordar essas temáticas mais ligadas à tecnologia.
O plano da Harven é trazer o modelo de negócio dos seus cursos, que envolve muita troca prática com empresas do agro, desde aulas dentro de uma fazenda até palestras com empresários, para o universo das agtechs.
Roberto Fava Scare, CEO da Harven, afirma que a empresa identificou uma oportunidade de mercado de um curso imersivo de curta duração que falasse sobre transformação digital.
“Esse ambiente está muito aquecido, com as startups querendo entender mais sobre gestão e as grandes companhias entrando num celeiro de inovação. Aqui sempre procuramos parceiros para criar um produto, e foi aí que entrou a Rural Ventures”, contou.
A iniciativa casou com a ideia da Rural Ventures de criar um braço dentro da empresa voltado para cursos. As conversas se estreitaram neste ano, quando a empresa de venture capital sediou o Rural Summit no Dabi Business Park, em Ribeirão Preto (SP), mesmo local onde fica a Harven.
O curso ainda é um protótipo, e terá 12 horas de duração e mais um encontro presencial para networking dos alunos. O investimento para assistir às aulas será de quase R$ 3 mil por aluno. Por mais que não haja um limite de inscrições, Rodrigues acredita que o foco é formar uma turma de 50 pessoas.
As aulas começarão em outubro, e cada dia de curso contará com uma apresentação de algum profissional de startups do agro ou de algum funcionário de uma grande corporação ligado à tecnologia e inovação.
Estão confirmados profissionais da Suzano, Basf, Nvidia e do Cubo, do Itaú. Dentre as startups, Johann Coelho, CEO da BemAgro, também está confirmado. Além deles, membros da própria Rural Ventures e da Harven participarão de algumas aulas.
Além de comentar sobre alguns cases, os alunos vão entender mais sobre como entrar nesse mercado de trabalho das agtechs e também nos times de inovação de grandes empresas.
“É um curso de skills, de atualizações. Mas nossa pretensão é aumentar a empreitada. Vamos lançar para ter um sentimento, mas pelo que sondamos no mercado, há uma demanda por mais cursos do gênero”, afirmou Rodrigues, da Rural Ventures.
A ideia é, quem sabe, criar até um novo curso de pós-graduação que entre no sistema do Grupo SEB, dono da Harven.
A Harven Agribusiness School foi fundada no ano passado por Chaim Zaher, criador do conglomerado de educação SEB, e dois nomes consagrados do agronegócio: Marcos Fava Neves, conhecido como Dr. Agro, engenheiro agrônomo e professor da USP, e Roberto Fava Scare, seu sócio na consultoria Markestrat.
A Harven faz parte de um projeto ambicioso de Zaher para criar um “complexo do Agro” em Ribeirão Preto, que conta com investimentos de R$ 500 milhões.
Além da faculdade, que já conta com as primeiras turmas nos cursos de direito, administração e engenharia de produção, a instalação deverá contar em breve com shopping, hotéis e restaurantes. "Um local que tenha tudo que o agricultor precisa", resumiu Chaim Zaher ao AgFeed em uma entrevista concedida no ano passado.
Hoje, a Harven possui 120 alunos em seus três cursos de graduação, 40 estudantes na pós-graduação e mais 3 mil no programa de educação corporativa.
A empresa se prepara para receber as segundas turmas de graduação no ano que vem, e está neste momento com o processo de vestibular aberto. Além disso, a Harven pretende, daqui dois anos, também ofertar o curso de engenharia agronômica.
O curso em conjunto com a Rural Ventures se insere dentro de uma série de produtos ofertados pela Harven. Roberto Fava Scare conta que no primeiro semestre deste ano, houve mais de 30 “inserções” com empresas diversas do setor e seus alunos.
Desde uma dinâmica envolvendo a Ourofino Saúde Animal, onde os alunos tiveram que apresentar soluções para problemas da empresa, até processos envolvendo a Agriforlife e a Bayer na Agrishow.
“Acreditamos num processo de ensino que vem por meio de discussão, ancorado em muito conhecimento prático e aplicação. Isso só acontece por meio de parcerias”, conta Scare.