O potencial para o agro brasileiro ir além do alimento é enorme e pode ultrapassar os US$ 60 bilhões até 2040 quando o assunto são as energias renováveis.

A percepção foi dada por Nelson Ferreira, sócio sênior da consultoria Mckinsey, durante o Congresso da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), realizado nesta segunda (5), em São Paulo.

O executivo adiantou alguns números de uma pesquisa sobre o agro brasileiro que será divulgada dentro de algumas semanas pela empresa, uma das maiores consultorias empresariais do mundo.

Até 2030, por exemplo, o potencial do mercado brasileiro para a biomassa já bate os US$ 25 bilhões, estimou.

Nos seus cálculos, cerca de US$ 40 bilhões estão nos mercados de HEFA (Hydroprocessed Esters and Fat Acids), que transforma óleos vegetais como de soja ou palma, por meio de processos químicos, e também na SAF (combustível sustentável de aviação) e no HVO (diesel verde).

O mercado de biogás e de gás natural renovável (GNR) soma mais US$ 15 bilhões, e são mais cerca de US$ 7 bilhões no etanol de segunda geração e outros US$ 5 bilhões no mercado de biocarbono.

“Capturar essas oportunidades requer ações importantes, principalmente de comunicação. Vamos aproveitar o G20, que será realizado aqui, para mostrar a agregação de valor e tecnologia na cadeia”, comentou.

Ele afirmou que esse processo de avanço das biorrefinarias é resultado de inovações de produtos já tradicionais, como por exemplo, na cadeia da cana. Se antes o cultivo gerava apenas açúcar e etanol, hoje já fornece etileno, biogás e biocarbono.

Segundo Ferreira, todas essas técnicas mostram que temos uma “grande árvore de oportunidades”. “Isso diversifica o agro e traz papel importante da agricultura na transição energética”, disse.

Mundo precisa de um “Brasil inteiro” em novas terras

Ferreira ainda revelou que a pesquisa estima que, para garantir o abastecimento global de alimentos e energia, o mundo precisará de mais um “Brasil inteiro” em novas terras agricultáveis.

Nos cálculos da Mckinsey, serão necessários entre 70 milhões e 80 milhões de novos hectares, algo próximo ao que o País cultiva safra após safra. A instituição levou em conta três cenários, sendo que o mais favorável demandará apenas novos 30 milhões de hectares pelo mundo.

No mais crítico, o mundo precisará de mais de 100 milhões de hectares. Segundo Ferreira, cada cenário engloba a quantidade de eventos extremos climáticos nos próximos anos.

“Hoje a terra é utilizada para tudo, seja produção pecuária, de alimentos, biocombustíveis, sequestro de carbono e expansão urbana. Esses cenários estimam quanta terra será necessária para suprir toda demanda de forma sustentável”, disse na sua apresentação.

Ele afirma que, desde 1930, o mundo coloca à disposição por década, justamente essa quantidade estimada de terras à disposição da agricultura.

A diferença é que, historicamente, isso foi feito via supressão vegetal, ou seja, desmatamento. “Isso é algo que não fazemos mais, então precisamos reflorestar e, para suprir a demanda, precisamos de novas alavancas”.

As novas alavancas, dessa vez sustentáveis, englobam principalmente o reflorestamento. No Brasil, o potencial é de 100 milhões de hectares de terra que podem ser restaurados, estima a Mckinsey.

Outra alavanca é o fomento de práticas sustentáveis na agricultura. Nelson Ferreira afirma que a pesquisa mostrará que o Brasil é vanguarda em algumas dessas ações, como a adoção de insumos biológicos.

Os insights apresentados por Ferreira da pesquisa que ainda será divulgada mostram que cerca de 61% dos agricultores já utilizam algum tipo de biocontrole na lavoura, um avanço de 6 pontos percentuais frente a pesquisa divulgada há dois anos.

Na adoção de bioestimulantes ou biodefensivos, o percentual atinge 64%. “O Brasil ainda se mantém na vanguarda frente ao mundo quando o assunto é aplicação em taxa variável, técnicas agrícolas de plantio direto, rotação de culturas e geração de energia renovável na fazenda”, acrescentou o sócio sênior da Mckinsey.

“Estimo que a mesma revolução que viveu o Cerrado nas últimas décadas deve se repetir nos próximos cinco a 10 anos na recuperação de terras degradadas. Somos o país com o maior potencial para isso, que vai ajudar na demanda por terras”, finalizou Nelson Ferreira.