A Bunge deu mais um passo no longo caminho que vem percorrendo, desde junho do ano passado, para concluir a aquisição das operações da trading Viterra do grupo suíço Glencore, numa operação avaliada em US$ 18 bilhões – sendo US$ 8,2 bilhões em dinheiro e ações e o restante assumindo dívidas.

A companhia com sede em St. Louis, nos Estados Unidos, recebeu o sinal verde das autoridades regulatórias europeias para seguir com o negócio, que criaria uma gigante com receitas de US$ 25 bilhões, superando mais um obstáculo para ter a aprovação em todos os principais mercados em que atua.

A aprovação da comissão antitruste da União Europeia está, no entanto sujeia a algumas condições. A principal é a venda do negócio de oleaginosas da Viterra na Hungria e na Polônia, onde, segundo a decisão, haveria risco de a transação causar uma concentração excessiva em alguns mercados.

Uma das preocupações dos europeus seria que essa concentração poderia afetar as cadeias de suprimento das indústrias de alimentos, rações e biocombustíveis nesses países.

Essas condições já eram, de certa forma, esperadas pela Bunge e foram negociadas junto à União Europeia como forma de destravar o processo de análise.

Agora, a trading deve concentrar seus esforços em desatar dois nós bem mais complexos, que fizeram o CEO da empresa, Greg Heckman, admitir esta semana, em teleconferência com analistas, novo adiamento dos prazos que ele mesmo tinha estabelecido para a conclusão da aquisição.

A previsão da empresa era ter todos os processos encerrados até o final de junho passado. Agora, ele estima que deve demorar ainda “mais alguns meses” para que as operações das duas empresas possam ser efetivamente integradas.

Além da aprovação europeia, a Bunge obteve várias importantes vitórias até agora em mercados relevantes, como Austrália, Estados Unidos e Brasil, onde o Cade se manifestou favoravelmente ao negócio em maio passado.

As dores de cabeça de Heckman se concentram agora em China e Canadá, com diferentes questões a serem tratadas. No caso chinês, não há sinais evidentes de problemas de concentração de mercado com a junção das duas companhias. Mas por se tratar de uma companhia estrangeira, com sede nos EUA, a geopolítica pode interferir na decisão.

Já no Canadá, as autoridades têm manifestado frequentemente sua preocupação, alegando que o acordo “provavelmente resultará em efeitos anticoncorrenciais substanciais e em uma perda significativa de rivalidade entre a Viterra e a Bunge nos mercados agrícolas do Canadá”, segundo um comunicado emitido no final de abril.

Na visão do departamento que analisa a concorrência no país, uma vez concretizada, a fusão colocaria a Bunge numa posição de influência frente aos concorrentes, já que o grupo americano possui também participação de 25% na G3 Global Holdings, uma joint venture com uma empresa saudita que opera instalações de grãos no Canadá e que é concorrente local da Viterra.