Com exportações de frango suspensas para 44 países, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa a indústria, fez as contas de qual pode ser o impacto para o Brasil e procurou tranquilizar o mercado nesta sexta-feira.
A interrupção dos embarques é resultado do autoembargo declarado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, como medida sanitária preventiva, após a confirmação de um caso da doença de Newcastle no Rio Grande do Sul.
“A suspensão deve durar 30 dias”, afirmou Ricardo Santin, presidente da ABPA, em entrevista na tarde desta sexta-feira, se referindo ao mercado chinês, um dos quatro países que tiveram a suspensão realizada para todo o Brasil e não só para o Rio Grande do Sul.
Além da China, estão interrompidos embarques de produtos avícolas de todo o País para a Argentina, Peru e México. Nos demais países da lista, a suspensão vale para todo o Rio Grande do Sul ou para um raio de até 5okm da cidade onde ocorreu o foco da doença. Fontes do setor acreditam que, na verdade, "é impossível prever", a duração de cada um dos embargos.
A ABPA estima que o impacto das exportações totais de carnes de aves fique entre 50 mil a 60 mil toneladas, o equivalente a 5% a 7% da produção nacional, hoje em 1,2 milhão de toneladas por mês.
“Esses são cálculos baseados no pior dos cenários. É o impacto máximo. Isso envolve o autoembargo adotado pelo Brasil. Pode nem chegar a isso”, disse o presidente Ricardo Santin, em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira (19).
Segundo a ABPA, considerando o volume registrado de janeiro a junho deste ano, o Brasil exporta 430 mil toneladas por mês de carne de aves, sendo que o Rio Grande do Sul é responsável por 60 mil toneladas nesse total e tem participação de 15% nas vendas externas. Santin ainda estima que o impacto no estado pode ficar entre 10 mil e 12 mil toneladas.
“Ainda não dá para ter clareza de impactos financeiros. É um cálculo que será possível ter apenas daqui um mês”, ponderou o presidente da ABPA.
No levantamento divulgado no início de julho a ABPA informou, com base nos dados do Secex, que o Brasil exportou 2,58 milhões de toneladas no primeiro semestre deste ano. Houve queda de 1,5% em relação ao mesmo período do ano passado. O relatório indicava que a China havia sido o principal mercado, com 276,1 mil toneladas importadas no Brasil ao longo do semestre.
Em função das notícias sobre a doença, ações de companhias como BRF, Marfrig e JBS caíram fortemente na quinta-feira, mas acabaram fechando próximas da estabilidade na B3, nesta sexta-feira.
‘RS não vive surto da doença de Newcastle’
O foco da doença de Newcastle foi encontrado em uma granja em Anta Gorda, município da região do Vale do Taquari, uma das mais atingidas pelas enchentes registradas no Rio Grande do Sul entre abril e maio.
A doença de Newcastle é provocada por um vírus que afeta aves domésticas e silvestres, e causa sinais respiratórios que são frequentemente seguidos por manifestações nervosas, diarreia e edema na cabeça dos animais. Os últimos casos registrados no Brasil foram em 2006, em aves de subsistência no Amazonas, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.
Santin ressaltou que as aves passaram por um forte estresse climático, em meio às baixas temperaturas registradas na região nos últimos meses. Contudo, ele ressaltou que as fortes chuvas no estado não influenciaram no caso.
De acordo com a ABPA, foram realizados 12 testes na granja, no qual apenas um deu positivo para a doença de Newcastle. No local, havia 14 mil aves, nas quais 7 mil passaram pelo sacrifício sanitário. Ou seja, foram abatidas, mas não irão para consumo.
“As aves que foram abatidas não tinham sintomas da doença. Mas o Mapa está cumprindo protocolos. O procedimento é que, quando se encontra o vírus, faz a mortandade das aves”, explicou o executivo da ABPA.
Em nota, o Ministério da Agricultura disse que, entre as ações previstas no Plano de Contingência, estão o sacrifício ou abate de todas as aves onde o foco foi confirmado, limpeza e desinfecção do local. Também é prevista a adoção de medidas de biosseguridade, demarcação de zonas de proteção e vigilância em todas propriedades existentes no raio de 10 quilômetros, além da definição de barreiras sanitárias e outras ações.
A ABPA garante que o foco de Newcastle não resultará em desabastecimento de carne de aves. Além disso, por ser considerada similar à influenza, não coloca humanos em risco.
Sobre o tema, o Mapa esclareceu que a população não deve se preocupar e pode manter o consumo carne de frango e ovos, inclusive da própria região afetada.
“A doença não se transmite pela carne, a Newcastle ataca somente as aves. Também não se trata de uma epidemia, de um surto. Foi um caso confirmado. É um caso isolado”, reforçou o presidente da ABPA.
“Nós estamos bastante atentos e mobilizando todo o setor, todo o aparato técnico e de assistência, para termos a solução mais rápida e não ter grandes impactos no nosso mercado”, acrescentou o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura, José Eduardo dos Santos, que participou da entrevista, nesta sexta-feira.
Brasil adiantou protocolos
Apesar de a ABPA assegurar que não se trata de um surto da doença de Newcastle, a notícia deixa a avicultura brasileira apreensiva.
O governo federal se antecipou e declarou o autoembargo para exportações de carne de aves para 44 mercados, seguindo protocolos sanitários assinados entre os países e também preocupado com questões comerciais.
A restrição atende aos requisitos acordados nos Certificados Sanitários Internacionais (CSIs) do governo federal com mais de 40 países, e envolve além de carnes de aves, carnes frescas e seus derivados, ovos, carne para alimentação animal, matéria-prima de aves para fins opterápicos, preparados de carne e produtos não tratados derivados de sangue.
Do que é produzido no Rio Grande do Sul, ficam suspensas as exportações para a União Europeia, Reino Unido, África do Sul, Arábia Saudita, Chile, Índia, Uruguai e mais 23 países.
Enquanto países como Japão, Coréia do Sul, Israel e Canadá ficam suspensos os embarques de carnes de aves, farinha de aves, penas e peixes para uso na alimentação animal; e produtos cárneos cozidos, termicamente processados, não comestíveis derivados de aves produzidos em um raio de até 50 quilômetros do foco da doença de Newcastle.
O presidente da ABPA observou que, o que não for vendido para os países que estão nessa lista, irá para outros mercados.
“Por exemplo. Do que a China compra, quase 40% é de pés/patas de frango. Não quer dizer que isso ficará retido ou perdido aqui. Venderemos para outros mercados”, comentou. Segundo a ABPA, o Brasil exporta carnes de aves para mais de 150 países.