Relatório do USDA, o Departamento de Agricultura dos EUA, publicado nesta sexta-feira, 12 de julho, decretou: o mercado global terá muito milho à disposição nos próximos meses.

O órgão prevê uma produção global de milho em 1,224 bilhão de toneladas na safra 2024/2025, bem acima da temporada que acabou de terminar. Nos Estados Unidos, há uma expectativa de safra de 383,5 milhões de toneladas.

A questão é que, por lá, o país colheu 389,70 milhões de toneladas de milho na safra 2023/2024, o que deve manter os níveis de estoque altos para os próximos anos. O USDA ainda relatou que as lavouras de milho estão entrando na fase de embonecamento (11%), com “qualidade satisfatória”, próxima a 70%.

Some-se isso às safras grandes na Argentina, de 52 milhões de toneladas, e uma brasileira (considerando verão e inverno) de 127 milhões de toneladas e o cenário de excesso de oferta está posto.

A projeção do USDA é de um estoque ao final da safra que se iniciou de 311,6 milhões de toneladas. No mês passado, a projeção era de 310,7 milhões de toneladas.

Essa perspectiva vem pressionando o preço do milho no mercado externo, com o grão acumulando quedas já há algum tempo.
Segundo dados do Cepea/Esalq, a saca de 60kg saiu de um patamar de R$ 86 em janeiro de 2023 para um preço atual próximo aos R$ 56, baixa de quase 40% em um ano e meio. No começo de 2022, a saca chegou a passar dos R$ 100, segundo a instituição.

Essa baixa, contudo, pode ter hora para acabar. Ignacio Espinola, analista de Grãos da HedgePoint, vê que os números do USDA podem receber correções para baixo nos próximos meses, o que estabilizaria e até ajudaria o preço da saca subir no mercado.

Ele acredita que o número final da safra, principalmente na Argentina, deve ser menor, e ficar na faixa das 46 milhões de toneladas por conta dos casos de cigarrinha de milho nas lavouras hermanas.

“Analistas de Rosário já falam nesse patamar, considerando perdas de 4 a 5 milhoes de toneladas por lá. O USDA ainda não ajustou as quantidades para a Argentina e para o Brasil, que devem vir 3 ou 4 milhões de toneladas a menos”, afirmou o analista.

Com essa perspectiva, ele acredita que esse cenário de excesso de oferta do milho deve sofrer um reajuste. No curto-prazo, o preço do gão pode até continuar numa trajetória de baixa, mas no médio e longo prazo, há uma tendência de leve subida, aponta Espinola.

“Entre julho e agosto temos um switch nas exportações, deixando de exportar soja e passando a vender milho para fora”, afirma.

De acordo com um relatório da Grão Direto desta semana, o mercado exportador deve começar a se aquecer neste mês, atingindo um grande movimento em agosto.

“Mesmo com os preços pouco atrativos para o produtor brasileiro, o milho nacional enfrenta condições de preços pouco competitivos no mercado internacional, perdendo competitividade para outros países como a Argentina”, pontuou a Grão Direto.

Safrinha brasileira acima das expectativas

Os números mais recentes para a produção brasileira mostram que a produção deve vir acima das estimativas iniciais. A Conab revisou para cima sua projeção de produtividade para o milho nesta semana. Mesmo com volumes abaixo da temporada passada, o órgão ainda espera uma safrinha de produtividade alta.

A Conab estima que a produção de milho, considerando todas as safras, chegue em 115,86 milhões de toneladas, volume 12,2% abaixo da safra 2022/23 e um pouco abaixo da projeção do USDA. Só na safrinha, a instituição brasileira espera 90 milhões de toneladas.

Isso deve acontecer, segundo a estatal, porque a produtividade ficará cerca de 4 sacas por hectare superior em relação ao relatório de junho. Agora o rendimento esperado é de 111,3 sc/ha no País.

No Mato Grosso, principal estado produtor, a produtividade esperada pelo Imea é de 113,5 sc/ha, com uma produção total de 46,6 milhões de toneladas.

Na semana passada, também a consultoria Agroconsult havia estimado uma safrinha de mais de 100 milhões de toneladas no País nesta temporada. Em março, antes do final do Rally da Safra, promovido pela consultoria, a expectativa era de uma safra de inverno de 96,7 milhões de toneladas para o grão.

Mesmo ainda abaixo da safra passada, essa é a segunda temporada na história onde o cultivo de inverno do grão ultrapassou as 100 milhões de toneladas, nos cálculos da Agroconsult, de André Pessoa.

E a demanda?

Se de um lado o grão em preços baixos não ajuda a ponta produtora, do outro favorece operações industriais que compram milho para servir de ração para frangos e suínos, por exemplo, que veem custos de produção cair.

A BRF, uma das maiores processadoras de frango do país, afirmou que o custo dos produtos por quilo caiu 10% em um ano, de R$ 9,78 para R$ 8,80 ao final do primeiro trimestre deste ano.

Ao mesmo tempo, viu o preço médio total por quilo dos produtos vendidos subir de R$ 11,20 para R$ 11,60 ao final do primeiro trimestre no período.

Essa relação inversamente proporcional pode ser vista na performance dos papéis da empresa listados na B3. De um ano para cá, a ação BRFS3 acumula alta de mais de 130% na Bolsa.

No mesmo intervalo, as ações da JBS sobem mais de 70%. Na contrapartida, o papel da Minerva, muito mais exposta à carne bovina, acumula baixa de quase 30%.

Weber Vaz de Melo, diretor comercial da cooperativa Suinco, concorda que o preço baixo dos grãos ajuda na operação frigorífica, mas diz que a vantagem tem um certo limite.

“Um preço baixo de grãos faz o preço do animal também chegar baixo e, consequentemente, a receita pode diminuir. Só custos de produção baixos não seguram o preço lá em cima, pois custos fixos de logística, despesas e pagamentos não baixam”, diz.