A grande maioria dos empreendedores, ao criar uma startup, segue uma trilha pré-definida em busca de capital para viabilizar sua ideia e transformá-la em um negócio.
Os fundadores da IMBR Agro, de Piracicaba, seguiram por outro caminho. Eles até obtiveram recursos financeiros (valores não revelados), aportados por um investidor-anjo, mantido em sigilo, e pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA). Mas garantem que não estão preocupados em fazer rodadas de captação, pelo menos em curto prazo.
“Acreditamos que é possível, dentro da nossa estrutura de custos, gerar valor com o que arrecadamos”, afirma Lucas Koren, um dos fundadores da agtech. “Vimos como estratégica a participação da SNA, que nos apoia em todas as frentes institucionais, nos colocando em câmaras setoriais para discutir, com o mercado financeiro, temas ligados ao crédito e seguros”, conta Koren.
Ainda como estudantes de Economia na Esalq/USP, Koren e seu colega Hernán Angulo criaram a startup a partir de um trabalho de iniciação científica na universidade, chamado “Matriz de Impacto de Risco”.
A ideia da pesquisa era criar uma matriz que “avaliasse os riscos de produção e preços no agro dentro de um contexto municipal”. Foi o embrião que fez a IMBR nascer em 2018. O negócio, formalmente, surgiu em meados de 2020, já com a participação dos outros dois sócios, Gustavo Oharomari e Filipe Scigliano, também ex-esalqueanos.
A visão dos fundadores é a de que, conforme o nível de adoção tecnológica cresce entre os produtores num país como o Brasil – de climas, regiões, solos e culturas produtivas muito diferentes entre si – aumenta também a necessidade de se encontrar soluções personalizadas para o uso dessas tecnologias.
Hoje, eles vão além e já pensam na “hiper personalização”. Ou seja, atuando não apenas em nível de município ou até de propriedade, mas talhão por talhão.
Pensando nisso, desde sua criação, a IMBR vem coletando e cruzando dados climáticos e de solos de diferentes fontes. Após processá-los, oferece desde análises de solo e de risco de quebra de safra e até avaliação de terras.
“Nosso escopo de atuação era baseado num ‘data lake agrometeorológico’, que reunia dados de infinitas fontes para um recorte geográfico específico”, conta Koren.
A startup se posiciona como um “Big Data voltado para o agro”. “Nós entregamos valor na análise de propriedades rurais, como o monitoramento diário de safra, sendo necessárias apenas a latitude e a longitude de onde está essa propriedade agrícola, isso tudo remotamente. Somos uma empresa de estatística, não de imageamento”.
Como tal, logo nos primeiros seis meses a empresa colheu informações de tipologia de solo e dados atmosféricos de toda América Latina. Com isso, conseguia cruzar os dados com polígonos de produção para prever o que aconteceria na agricultura local.
Com a estrutura de pé e funcionando, passou a transformar esses dados em conhecimento. A proposta, segundo Koren, é auxiliar na tomada de decisão do cliente final, que pode ser uma agroindústria, uma seguradora, empresas de diversos segmentos ligados ao agro ou mesmo o produtor.
O primeiro mercado alvo da startup foi o das seguradoras, utilizando as análises para indicar não apenas o potencial de riscos, mas a produtividade adequada para um determinado polígono dentro de uma propriedade onde o dono queira contratar seguro.
É neste segmento que a IMBR tem hoje um de seus principais contratos, firmado em 2023 com a BrasilSeg, empresa do BB Seguros.
“O seguro agrícola cobre, hoje, exclusivamente risco climático. Se um produtor tem problemas de cigarrinha do milho e evidenciar que perdeu produtividade por isso, a seguradora indefere. Já se houver falta de chuva, a seguradora paga”, explica.
Até hoje a IMBR já processou 330 mil polígonos, ou coordenadas geográficas. Segundo Koren, ela já proporcionou “condições de seguro” para todos as regiões do Brasil que atuam com soja, milho primeira safra e milho safrinha, algo em torno de 4,1 mil, 5 mil e 3,2 mil muncípios, respectivamente, espalhados pelo Centro-Oeste, Matopiba, Sudeste e Sul do País.
A companhia também possui um contrato com a indústria de insumos Koppert, ajudando a empresa a mapear o perfil climático das regiões de teste dos seus biológicos. “Ajudamos a desassociar o que é ineficiência do produto e o que é problema climático ou do solo”, explica Koren.
Outra gigante cliente da empresa é a 3tentos, empresa gaúcha que comercializa insumos, grãos, farelo de soja e biodiesel.
Koren cita que o plano é tornar a IMBR numa referência para a tomada de decisão quando o assunto é planejamento agroclimático.
Para tal, a empresa tem se juntado com diversos hubs de inovação como o Cubo, do Itaú, o Agrihub, o Snash e a PwC AgTech Innovation, onde fica o escritório da empresa.
Aposta na “hiperpersonaliazação”
Lucas Koren vê uma necessidade de cada vez mais afunilar as informações do agro a um nível regional. “Quando menor o funil e menos abrangente, mais os riscos ficam evidenciados”.
Para isso, a empresa firmou uma parceria com a Varda, startup de tecnologia da Yara, que possui o objetivo de viabilizar o compartilhamento de dados coletados em campo.
A Varda atua criando “CEPs” para talhões agrícolas e, segundo Gustavo Libardi, gerente sênior de desenvolvimento de negócios para o Brasil e América Latina da Varda, a empresa já tem mais de 90% do Brasil mapeado no seu software Global FieldID.
Com a ferramenta, a IMBR Agro consulta a geolocalização de propriedades agrícolas para obter o conhecimento agroclimático ainda mais detalhado.
Libardi explica que, como a Varda possui uma base de cruzamento de dados do Sicar (Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural), consegue agilizar as operações da IMBR, que recebe dados de diversas frentes e consegue acompanhar riscos ao longo dos ciclos agrícolas.
“Isso permite que cada safra tenha um esse risco e um score atrelados a um CPF somado a uma área espacial”, afirmou Libardi.
Essa hiper personalização permite que um problema de solo em uma fazenda seja vinculado a um talhão específico, e não ao produtor como um todo.
Lucas Koren, da IMBR, conta que o uso do banco de dados da Varda tem ajudado a IMBR a ganhar tempo nas análises. Ele cita que o tempo de processamento de quatro mil registros de uma empresa cliente caiu de 16 mil minutos para alguns segundos. “O tempo cai, o preço cai e a escala aumenta”.
Libardi, da Varda, ressalta que a Varda não existe só para “desenhar talhões”, e sim para criar uma identidade digital para as propriedades, mesclando dados de diversas fontes numa única interface.
“A Varda aglutina tudo isso, harmonizando diferentes tipos de plataformas num único ID, ou CEP, mesmo que cada empresa tenha registrado no seu front-end de forma distinta”.