Em recuperação judicial desde 2021, com dívidas de R$ 7 bilhões, o Grupo Virgolino de Oliveira (GVO), que já esteve entre os principais do setor sucroenergético no Brasil, pode ter seus ativos vendidos.
Segundo reportagem publicada nesta quarta-feira, 26 de junho, pelo portal NeoFeed, alguns de seus principais credores teriam recomendado aos administradores do GVO a contratação de um corretor para tratar da venda de nove unidades produtivas independentes, entre usinas e fazendas.
Três empresas disputaram o mandato: Makalu Partners, Czarnikow e a Íntegra Associados. A primeira foi a escolhida para buscar possíveis interessados. “O plano é basicamente vender ativos para pagar credores”, disse uma fonte a par do processo ao NeoFeed.
Entre os ativos que seriam negociados, cinco são vistos como mais atraentes ao mercado. São usinas nos municípios paulistas de Catanduva (avaliada em R$ 754 milhões), José Bonifácio (R$ 568 milhões), Monções (371 milhões) e Itapira (R$ 226 milhões), além de 6,7 mil hectares de terra avaliados em R$ 646 milhões.
A decisão sobre a efetiva contratação da Makalu deve acontecer nesta quinta-feira, dia 27. Foi essa a data definida pelo juiz da Comarca de Santa Adélia, responsável pela hoimologação da RJ do grupo, para que o GVO e os credores entrem em acordo. “Isso está sendo negociado para que não haja litígio e o processo ande”, informou um profissional que acompanha as negociações.
Caso os ativos sejam mesmo colocados à venda, devem despertar interesse de grandes grupos do setor. Isso porque o custo para a implantação de novas usinas no estado de São Paulo, principal polo sucroenergético do País, é considerado inviável, além de haver poucas áreas apropriadas disponíveis.
As usinas do GVO tem capacidade de moagem estimada em 10 milhões de toneladas de cana, cerca de metade das plantas da Tereos, por exemplo. A Raízen, maior grupo do setor, moeu mais de 80 milhões de toneladas na última Safra. BP – que na semana passada anunciou a compra da parte da Bunge na BP Bunge – processou 29 milhões e a Atvos, hoje controlada pelo fundo Mubadala, 27,5 milhões.
Um dos maiores processos do gênero em andamento no País, a RJ da GVO é resultado de um alto endividamento acumulado desde a primeira década do milênio, quando, embalado por um ambicioso plano de expansão, o grupo iniciou a emissão de uma série de bonds, somando US$ 735 milhões.
As dívidas começaram a vencer em um momento de retração dos preços de açúcar e etanol e os títulos acabaram sendo adquiridos por grupo de fundos de distressed. Sem conseguir acordo com os bondholders, a companhia paralisou as operações em três usinas e arrendou a de Catanduva. Em 2021, buscou a proteção da recuperação judicial.
O plano de recuperação judicial foi homlogado pelo juiz Felipe Ferreira Pimenta, da Vara Única da Comarca de Santa Adélia, onde o grupo tem sua sede, em dezembro de 2022, listando um total de quase 8 mil credores. No plano, que dividiu o patrimônio do grupo em nove UPIs, já era prevista a venda de ativos. Agora, ela pode finalmente começar a sair do papel.