Quem acompanha o universo do agro tecnológico viveu uma verdadeira maratona nesta semana. Com eventos subsequentes e simultâneos na cidade de São Paulo e em municípios próximos. De segunda até a sexta-feira, o ecossistema mostrou sua força e os empreendedores, investidores e parceiros lotaram locais como o Cubo Itaú, o Hotel Unique e o Expo Center Norte.
Nesta sexta, 21 de junho, o Startse Agrotech 2024 fechou a semana com muitos insights para pensar o agro brasileiro do futuro.
O evento em si mostra o apetite da StartSe, empresa que se tornou referência na elaboração de programas de educação associada à inovação corporativa, para se aproximar ainda mais do agronegócio. Por mais que o encontro em si já aconteça há alguns anos, a edição deste ano foi a maior até agora.
Conforme explicou Maurício Schneider, CEO da StartSe Agro, ao AgFeed, o evento reuniu cerca de 1,1 mil pessoas de todos os segmentos do ecossistema, com players da indústria, agricultores, revendedores de insumos e agentes do governo.
“Criamos uma dinâmica de interação entre o público e os painelistas, e trouxemos temas de diferentes perfis. A ideia foi trazer exemplos práticos para que os participantes saiam daqui já pensando em como integrar novas tecnologias no negócio”, afirmou.
A plenária reuniu nomes como Bernardo Nogueira, CEO da Kepler Weber, Pedro Fernandes, diretor de agronegócios do Itaú BBA, além de especialistas em agro de fora do país, como o professor Kevin Kimle, da Universidade de Iowa, nos EUA.
Pela manhã, Kimle citou a importância de as agtechs pensarem em fontes alternativas de insumos, vislumbrou boas oportunidades em biocombustíveis e também em “soluções criativas” para o ecossistema de crédito agrícola.
Além de ser professor em Iowa, uma das universidades referência global quando o assunto é agricultura, ele também é um dos diretores do Ag Startup Engine, programa da instituição para investir em startups em estágio inicial.
Em 2021, a empresa montou um fundo de US$ 2,25 milhões para dar cheques de US$ 25 mil a US$ 50 mil para novos empreendedores do agro.
A China, como não poderia ser diferente, também foi tema de discussão no evento. O país que mais importa produtos brasileiros, sobretudo grãos, passa por uma transformação em tempo real há décadas, e algumas podem impactar essa balança comercial brasileira.
O gigante asiático pretende ser, em até dois anos, autossuficiente na produção de milho. Porém, segundo dados da Administração Geral de Alfândegas, o Brasil vendeu de janeiro até abril deste ano, 4,1 milhões de toneladas do grão para a China, mais que o dobro do visto no mesmo intervalo do ano passado.
Rodrigo Iafelice, empreendedor, ex-CEO da Solinftec e sócio recém-chegado ao Startse Agro, acredita que uma solução para estar atento a essas dinâmicas de mercado é visitar o país consumidor.
“Voltei recentemente da China e, como eu não ia ao país há 12 anos, voltei embasbacado de como a tecnologia faz parte do dia a dia do agro local. Lá, 90% da produção de arroz recebe aplicação de produtos via drones. Existe uma revolução em curso na China, que para nós ainda é um pouco distante, mas vai chegar”, afirmou.
Segundo ele, os produtores nacionais precisam estar atentos às dinâmicas chinesas e pensar em formas de diversificar os negócios por aqui. O advento das indústrias de etanol de milho pode encontrar o destino do grão que atualmente vai em grande escala para a China.
Para estreitar essa relação, a StartSe Agro está organizando uma missão para levar produtores e investidores para o país em outubro deste ano.
A ideia, segundo Iafelice, é tornar essas visitas mais frequentes, sempre levando o maior número de pessoas para ver com os próprios olhos o que acontece no mercado consumidor.
“Podemos nos antecipar e nos preparar para fornecer outros produtos. Focando na soja ou até no grão de bico, gergelim e chia, que já são consumidos no sudeste asiático”, diz.
A Inteligência Artificial aplicada ao agro também foi alvo de muitas discussões ao longo do Startse Agrotech 2024. Em um painel que contou com Pedro Roso, CEO da Docket, Marcos Rubin, da Veeries, e Nichollas Marshell, do Ideas Hub, os empreendedores compartilharam alguns casos práticos que envolvem a tecnologia.
A Docket olha para o agro com um software que lê documentos usados no processo de tomada de crédito, como CPRs. Segundo Roso, processos que demoravam semanas agora são disponibilizados em dois dias por conta da IA contida no programa.
Marshell cita que possui no hub, empresas que utilizam IA para monitorar o estado da água no cultivo de peixes por alguns sensores.
Segundo Iafelice, o tema da inteligência artificial deixou de ser algo restrito ao diretor de tecnologia das empresas, e que a intenção dos debates do evento foi aproximar os profissionais do agro para o tema, para que possam utilizar alguma solução no dia a dia. “Temos uma mania de olhar a tecnologia no agro e ver algo distante e não concreto, sendo que utilizar IA é super simples”.