Se no geral, as ofertas de Fiagros têm sido realizados com mais cautela pelos gestores, as emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), que sempre tiveram os fundos como principais “clientes”, estão aquecidas em 2024.
Esta é a conclusão de um levantamento feito pela Bloxs, fintech que presta serviços ligando empresas ao mercado de capitais através de uma plataforma digital, obtido com exclusividade pelo AgFeed.
De acordo com o balanço realizado pela Bloxs, as emissões de CRAs entre janeiro e maio de 2024 somam aproximadamente R$ 17,5 bilhões. O valor representa quase o dobro do que foi ofertado no mesmo período de 2023, que ficou pouco acima de R$ 9 bilhões.
“Os números indicam uma dinâmica mais forte para este mercado neste ano e a tendência é que continue assim nos próximos meses”, afirma Luís Amaral, analista de Macro Research da Bloxs.
Levando-se em conta somente o mês de maio, os volumes de 2024 foram muito parecidos com os de 2023, se aproximando de R$ 4,3 bilhões.
O valor registrado em maio representa um reaquecimento das emissões no ano, já que em abril, o volume de CRAs ofertados no mercado ficou pouco acima de R$ 1,1 bilhão. Por outro lado, ainda está longe do pico registrado em março, com quase R$ 7 bilhões.
O levantamento mostra que o valor médio de cada emissão também aumentou em 2024, já que, em número de operações, o crescimento foi em ritmo menor que o volume. Até maio, foram mais de 70 operações neste ano, contra cerca de 40 em 2023, um avanço pouco superior a 70%.
Maio é um bom exemplo dessa tendência do maior valor por emissão. Apesar de o volume financeiro ter sido praticamente igual, em 2023 foram 20 operações, contra 15 em 2024. Assim, o “ticket médio” das operações de CRA ficou em R$ 215 milhões no ano passado, contra R$ 285 milhões neste ano.
Outro ponto relevante do relatório elaborado pela Bloxs é a diversificação de perfil dos investidores que participam das ofertas de CRAs em 2024.
Em maio, o chamado “Público em Geral”, que nas classificações estabelecidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) são investidores com patrimônio abaixo de R$ 1 milhão, foi o maior comprador de CRAs.
Eles responderam por quase 44% do volume distribuído no mês passado. Os profissionais, que incluem bancos e casas de investimentos, além de investidores com patrimônio acima de R$ 10 milhões, ficaram com 32% do volume ofertado em maio. Os investidores qualificados, com patrimônio entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões, ficaram com 24%.
Em termos de comparação, em 2023 até maio, os pequenos investidores não participaram das emissões de CRA. Neste ano, o mês passado foi um destaque neste quesito, mas houve participação importante do Público em Geral nos meses de fevereiro e março.
O analista da Bloxs afirma que este movimento, especialmente o de maio, parece ser mais pontual. “No mês passado, nós tivemos uma operação grande voltada para esse tipo de investidor. Mas acredito que não será tão comum nos próximos meses esse tipo de participação”.
Indexadores
Outra mudança de perfil das emissões em 2024 verificada pela Bloxs é o indexador das operações. Neste caso, os dados vão somente até fevereiro.
Em fevereiro de 2023, o volume total de R$ 840 milhões emitidos usaram como indexador o DI, que praticamente segue a variação da taxa básica de juros, a Selic.
Em 2024, tanto em janeiro como em fevereiro, houve uma maior diversificação. O maior volume ficou com as operações com taxas pré-fixadas, totalizando R$ 2,7 bilhões no acumulado dos dois meses.
Amaral explica que essa opção por taxas pré-fixadas por parte dos emissores tem a ver com a demanda dos investidores, que procuram mais esse tipo de investimento em um cenário de juros em queda.
“Pode ser também um movimento dos emissores para se proteger das incertezas de curto prazo, fixando a taxa sem ficar exposto a variáveis”, diz o analista da Bloxs.
As emissões em DI somaram R$ 1,9 bilhão. E a novidade está na adoção do índice oficial de inflação, o IPCA, como indexador. Foram R$ 1,7 bilhão em emissões que oferecem a taxa de inflação como indexador para os investidores.
Em número de emissões, o DI ainda é o indexador preferido pelos emissores. Foram 24 nos dois primeiros meses de 2024, contra 13 pré-fixados e oito em IPCA. Nesta última categoria, foi registrada a maior média de volume financeiro por emissão, com R$ 212 milhões.
Na divisão por prazos, é possível observar uma disparada das emissões com vencimentos entre 61 e 120 meses. Em fevereiro de 2023, foram R$ 500 milhões emitidos em CRAs nesse intervalo de vencimento. Neste ano, o volume saltou para R$ 2,4 bilhões.
A Bloxs ressalta que os dados foram compilados de várias fontes públicas, além do trabalho de inteligência de dados e inteligência artificial feito pela própria companhia, atualizados até o dia 5 de junho. Todas as emissões que constam no relatório já foram concluídas, inclusive com liquidação financeira.