A corrida dos países árabes para transformar petrodólares em alimentos acaba de ganhar mais combustível. Em um comunicado divulgado neste domingo, 16 de junho, o governo de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, anunciou que vai reunir quase US$ 35 bilhões em investimentos em uma nova iniciativa, a Agrifood Growth and Water Abundance Cluste (AGWA), focada no desenvolvimento, em torno da cidade-estado, de um polo global de produção de alimentos e tratamento de água.
O novo investimento vem somar a outros anúncios que buscam atrair para os Emirados empresas com projetos inovadores em áreas como fazendas verticais indoor e indústrias para a produção de carnes cultivadas ou proteínas alternativas.
Liderada pelo Departamento De Desenvolvimento Econômico de Abu Dhabi (ADDED), a AGWA prevê, através delas, criar mais de 60 mil novos empregos na região e, atpe 2045, adicionar cerca de US$ 25 bilhões ao PIB local.
As primeiras empresas a aderirem à nova iniciativa foram anunciadas juntamente com o projeto. Uma delas é a israelense Believer Meats, especializada na produção de carne cultivada a partir de células de frango, a startupo se comprometeu a estabelecer em Abu Dhabi uma sede regional, que reunirá operações comerciais, de pesquisa e industriais.
Na semana passada, a Believer Meats anunciou também a construção de uma unidade semelhante, no Center for Sustainable Proteina (Centro para Proteínas Sustentáveis), criado no estado americano da Carolina do Norte, a partir de um aporte de US$ 30 milhões do Bezos Earth Fund, financiado pelo bilionário Jeff Bezos.
Outra companhia também já comprometida com a AGWA é a suíça Nuos, também especializada em proteínas alternativas, que instalará um centro de inovação e uma fábrica.
"A AGWA está pronta para avançar nossa Estratégia Nacional de Segurança Alimentar 2051 e Estratégia de Segurança Hídrica dos Emirados Árabes Unidos 2036, consolidando nosso papel como líder global em soluções sustentáveis de alimentos e água", disse Ahmed Jasim Al Zaabi, presidente da ADDED.
Com apenas 5% dseu território com áreas agricultáveis, os países da Península Arábica têm se voltado cada vez mais a projetos como esse, que combinam investimentos em grandes plantas de dessalinização de água do mar com incentivo à instalação de empresas inovadoras no seu entorno.
Em setembro do ano passado, por exemplo, o ministro da Economia dos Emirados Árabes Unidos, Abdullah bin Touq Al Marri, havia anunciado a destinação de até US$ 10 bilhões para financiar iniciativas capazes de colocar o país no topo do ranking mundial da segurança alimentar até 2051.]
Até então, segundo dados da Autoridade Árabe para o Investimento e o Desenvolvimento da Agricultura (AAAID, na sigla em inglês), mais de US$ 660 milhões haviam sido aplicados em 50 projetos e empresas como a também israelense Aleph Farms, uma das mais badaladas startups do segmento de carnes cultivadas.
A empresa concluiu no ano passado uma captação de US$ 105 milhões, em uma rodada de investimentos liderada pelo DisruptAD, braço de capital de risco do fundo soberano de Abu Dhabi.
Outra cidade-estado integrante dos Emirados Árabes Unidos, a vizinha Dubai também já anunciou sua intenção de criar um hub para foodtechs. Já atraiu para lá, por exemplo, a primeira fábrica de alimentos plant based da região, construída pela IFFCO, uma das maiores empresas de alimentos dos Emirados.
Também em Dubai, foi inaugurada em 2022 a Bustanica, especializada em produção indoor de hortaliças, que ergueu junto ao aeroporto da cidade uma planta com 30 mil metros quadrados, com investimento de US$ 40 milhões.
Abu Dhabi respondeu com um acordo com a americana Aerofarms, uma das pioneiras no setor, para erguer uma instalação de pesquisa com cerca de 6 mil metros quadrados totalmente destinada a pesquisas de tecnologias para produção indoor – também alardeada como o maior centro de desenvolvimento do mundo nessa área.
Um dos estudos realizados ali, em parceria com a Cargill, avalia a viabilidade da produção de cacau em ambiente fechado e controlado.
O acordo com a Aerofarms prevê, no total, um aporte de US$ 100 milhões para a construção de pelo menos quatro plantas em toda a região. Uma delas será em Ryad, capital da Arábia Saudita.
Já no Catar, o grupo local Sadarah, dono da Agrico Organic Farm, associou-se à finlandesa iFarm, que possui fazendas indoor em vários países europeus, na Rússia e também em Abu Dahbi, para construiu a primeira unidade do tipo totalmente controlada por inteligência artificial.