A Rio Capim, empresa criada pela Belterra e pelo Fundo JBS pela Amazônia, está em busca de R$ 100 milhões para escalar a pecuária sustentável na região. O recurso será captado pela emissão de dois CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio).
Os R$ 100 milhões serão divididos em duas emissões de R$ 50 milhões cada. A primeira acabou de ser realizada e a outra irá ao mercado em 2025. O CRA foi estruturado pela Vox Capital.
A operação da Rio Capim, assim que foi estruturada com o Fundo JBS, abarcou 25 produtores. A ideia, segundo Valmir Ortega, CEO da Rio Capim e sócio da Belterra, é escalar para 250 produtores até o ano que vem.
Os recursos obtidos com a emissão dos CRAs servirão para os produtores do programa comprarem gado e para converterem áreas de pasto degradado.
“Neste ano, são 1,2 mil bezerros produzidos, mas projetamos atingir de 10 a 12 mil bezerros a partir do ano que vem com esses 250 produtores. Na recuperação de pastagem, pretendemos chegar aos 10 mil hectares no próximo ciclo”, conta Ortega, em entrevista ao AgFeed durante a Converge Capital Conference, evento que faz parte da Brazil Climate Investment Week, realizada em São Paulo esta semana.
Ortega conta que está em negociação com investidores em torno da emissão feita agora. Segundo ele, o Fundo JBS pode entrar com a cota júnior, outros fundos na cota mezanino e alguns investidores institucionais, como gestoras, nas cotas sêniores. “Também podem entrar bancos para distribuir”, acrescenta o CEO. A JBS anunciou nesta terça-feira, 21 de maio, que investiu R$ 10,2 milhões na emissão.
As operações da Rio Capim se concentram atualmente no Pará, região que é prioridade, segundo Ortega. O Mato Grosso entra como possível local de expansão.
A parceria entre a Belterra e o Fundo JBS na Rio Capim é apenas estratégica e, por isso, os produtores atendidos pela empresa não possuem nenhum compromisso de venda para a JBS.
Segundo Valmir Ortega, para esse volume de recursos, o CRA é um “veículo de baixo custo de estruturação e dá segurança e robustez ao investidor”.
A Rio Capim foi criada no ano passado, após cinco anos de operação da Belterra, e funciona como uma espécie de hub de apoio a pequenos pecuaristas locais.
Ortega, que também é sócio da Belterra, afirma que a empresa nasce com o desafio de resolver problemas da pecuária na Amazônia. Na época, o Fundo JBS investiu R$ 10 milhões para tirar o negócio do papel, mas sem manter uma participação acionária na empresa.
O foco da operação, que ganhará uma escala com os recursos dos CRAs, além de intensificar a criação de gado local, consiste em criar sistema silvipastoris, ou seja, que combinam o plantio de árvores ao cultivo de pastagens.
Com isso, o estoque de carbono do solo aumenta e os impactos relacionados à emissão de metano do gado diminuem, afirma o CEO.
“O desafio é sair de uma cabeça boi por hectare para um modelo de três a cinco cabeças. Isso permite uma produção mais eficiente, rentável e com menos terra ocupada. Com isso, liberamos a terra para diversificar a produção e o produtor pode investir em cacau, açaí e outras culturas do tipo”, afirma Valmir Ortega. “Nós, como Belterra, queremos ser parceiros deles nesses investimentos”, conclui.
A emissão faz parte do programa Juntos, do Fundo JBS pela Amazônia. Nesse programa do fundo vinculado à multinacional brasileira de alimentos, a expectativa é alavancar mais de R$ 900 milhões via blended finance nos próximos anos.
Esse valor deve atender 3,5 mil pequenos criadores de gado atuantes na área da Amazônia Legal, estima o fundo. O Juntos oferece uma “consultoria sobre o uso da terra, aumentando a rentabilidade e freando o desmatamento ilegal do bioma”.
Segundo Andrea Azevedo, diretora-executiva do Fundo JBS pela Amazônia, o programa incentiva um “financiamento paciente”. “Estamos viabilizando a operação porque nosso propósito é gerar impacto positivo por meio de negócios que sejam inclusivos e ambientalmente sustentáveis para a Amazônia, e, ao mesmo tempo, que tenham retorno financeiro”, afirma.
“Queremos que a Faria Lima invista no pequeno produtor com toda a segurança necessária, dentro de um novo padrão de modelo de negócio”, acrescenta.