As ondas de calor causadas pelas mudanças climáticas e o avanço do greening no cinturão citrícola brasileiro devem impactar os negócios das empresas do setor na safra 2024/2025.

Segundo estimativas divulgadas hoje pelo Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura-Fundecitrus), associação privada mantida por citricultores e indústrias de suco do estado de São Paulo, a safra de laranja deve atingir 232,3 milhões de caixas de 40 quilos no País, um número 24,35% menor do que na safra anterior.

O número foi divulgado durante um evento realizado em Araraquara (SP), cidade símbolo na cultura da fruta no estado, nesta sexta-feira, 10 de maio.

De acordo com Juliano Ayres, gerente-geral do Fundecitrus, o número surpreendeu a associação; ele afirmou que essa safra será a menor das últimas 10 temporadas para a cultura.

O número final é estimado pelo órgão após diversas pesquisas com as empresas do setor, produtores e pesquisadores associados. Na metodologia, a pesquisa calcula a relação das árvores produtivas, frutos por árvore, taxa de queda em relação aos frutos por caixa.

Na safra 2023/2024, a produção atingiu 307,2 milhões de caixas, um número que veio 0,7% menor do que o projetado pela Fundecitrus antes da colheita.

O coordenador da Pesquisa de Estimativa de Safra do Fundecitrus, Vinícius Trombin, citou que o segundo semestre da temporada teve chuvas escassas, o que impactou no desenvolvimento das frutas. “Vimos altas temperaturas, ondas de calor e pouca chuva. Os pomares, por volta de agosto passado, sentiram muita seca”.

Ele aponta que, numa temperatura acima de 35 graus, os pés de laranja apresentam uma dificuldade no pós-florescimento. Uma estratégia para ajudar a árvore seria uma irrigação precoce, ele afirma.

Ayres conta que a média histórica de produção no passado, com mais hectares cultivados, batia as 350 milhões de caixas. Segundo ele, o motivo principal dessa baixa são as mudanças climáticas. “O impacto marcante não é o greening”, afirmou.

O Fundecitrus vê, contudo, a incidência da doença aumentando, acompanhado de uma chuva projetada para os próximos seis meses 20% abaixo da média histórica e uma temperatura mais alta.

Para enfrentar o greening, uma das estratégias é o cultivo em uma propriedade com um certo isolamento de outras fazendas que possam ter uma contaminação. Isso tem feito os produtores migrarem sua região de produção, tanto dentro do próprio estado de São Paulo quanto para outros estados.

“O citricultor prefere enfrentar o calor, risco climático, em que a produtividade é menor, plantando no norte e noroeste do estado ou buscando novos estados como Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás, em propriedades isoladas da doença”, afirmou Ayres.

Em 2022, o cinturão citrícola plantou cerca de 29 mil hectares, número que baixou para 23 mil hectares em 2023. Segundo Ayres, a baixa se dá por uma correlação entre o preço do suco e o preço da laranja.