Não é novidade para ninguém que a união entre o mercado de capitais e o agro têm crescido de forma exponencial nos últimos anos. Só falando de CRAs, por exemplo, segundo dados da CVM, o patrimônio desse tipo de certificado de recebíveis alcançou R$ 130 bilhões no final de 2023, um avanço de 35,8% frente a 2022.
É de se esperar, portanto, que cada vez mais surjam empresas que fazem essa ponte entre o campo e a Faria Lima.
Nesse sentido, uma nova companhia, que tem como objetivo assessorar produtores a buscarem financiamento, acabou de fazer sua estreia no mercado. E com nomes carimbados nas duas áreas.
A MSA Partners tem como sócios Marcelo Galvão, ex-banker de Agro da Genial Investimentos, e Celso Affonso Filho, que foi sócio da Éxes e atuou como head de trading na JBS. Eles acabam de estruturar e emitir um CRA de R$ 48 milhões da Fazenda Quatro Gerações, do produtor Adriano Carniel.
Segundo Galvão, a propriedade, localizada em Minas Gerais, possui 5 mil hectares onde se cultiva grãos de safra e safrinha. O negócio conta com um faturamento anual de R$ 80 milhões.
A ideia com o CRA é abrir uma nova área no Tocantins e estruturar algumas dívidas. O certificado de recebíveis foi encarteirado pelo Itaú Asset.
A MSA pretende, até o final de 2024, fechar mais cinco ou seis operações. “Queremos garantir e construir uma credibilidade com investidores e clientes. Estamos preocupados em fazer poucas e boas operações”, afirma Galvão ao AgFeed.
No negócio, Celso Affonso Filho cuida da originação dos produtores, viajando pelo País. Seja via sua rede contatos ou via prospecção feita pelos escritórios da empresa, ele visita o produtor e começa a captar as informações financeiras do negócio.
A partir daí, o produtor, que está em busca de crédito e foi contatado pela MSA, passa por uma “esteira de crédito”, que avalia patrimônio, garantias, fazendas, matrículas e contratos, por exemplo.
Além disso, a MSA Partners avalia as perspectivas de safra, do mercado de crédito, e projeta a receita e Ebitda para os próximos anos daquele produtor.
A empresa possui um time de crédito especializado na análise do produtor. Segundo Galvão, essa “preocupação com a qualidade do crédito” é um dos diferenciais da MSA.
“Estamos muito preocupados com o desenvolvimento da operação também no longo prazo, por isso colocamos essa régua para originaram os créditos bem feitos”, pontua.
O comitê interno da empresa avalia se a operação faz sentido ou não e, se sim, faz um mandato com o produtor. É nesse momento das negociações que entra Marcelo Galvão. Ele cuida das relações com investidores na MSA e vai atrás dos players do mercado financeiro interessados em comprar um CRA daquele produtor, por exemplo.
O sócio envia a análise de crédito feita pela empresa, elucida as dúvidas dos investidores interessados e até junta todos para conversar em uma “call de crédito”.
Nesse primeiro CRA, por exemplo, ele conta que até chegou a levar representantes do Itaú Asset para conhecer a fazenda antes de fechar o negócio. “Queremos ter credibilidade no crédito, para ajudar em novas operações”.
De acordo com o sócio, atualmente a MSA Partners está em contato com bancos e gestoras em mais duas operações de produtores. “É possível que até o final de abril pelo menos uma já esteja liquidada”, contou.
A MSA também está em processo de abrir mais dois escritórios para estar mais próximo do Centro-Oeste, onde estão grandes produtores do agro nacional. Um já foi aberto em Sinop (MT) e a empresa negocia a abertura de mais um na região.
Atualmente, Marcelo Galvão atua no escritório da empresa em São Paulo, na Faria Lima, e Celso Filho, na sede em Bauru, interior do estado, onde também está o time de análise de crédito.
A empresa deve focar as novas operações em produtores um pouco mais estruturados, que possuem de 10 mil a 20 mil hectares de terra, sem restrições de cultura. “Olhamos muito para o Centro-Oeste, mas também estamos avaliando operações no Norte e Nordeste”, afirmou Galvão.
A ideia é ajudar na primeira ou segunda emissão de dívida desses produtores, que possuam indicadores de endividamento que passem pelo crivo da MSA.
Marcelo Galvão conta que o foco é ser referência no mercado financeiro em todos os produtos do chamado DCM (Debt Capital Markets, na sigla em inglês), o mercado de títulos de dívida, para o agro.
“CFO as a service”
A partir de 2025, ele conta que a empresa deve aumentar sua escala e pensar em atuar com outros produtos de assessoria de investimento, como M&As, por exemplo.
Outro foco da MSA Partners, segundo Galvão, é o chamado pós-venda. Após um CRA ser emitido, a assessoria continua a ajudar os produtores atendidos a estruturarem melhor seu departamento financeiro.
Esse serviço, que é uma espécie de “CFO as a service”, será oferecido pela MSA aos produtores por meio de uma empresa parceira chamada Hand.
A ideia é, após uma operação ser fechada, acionar a companhia para que ela faça um trabalho de consultoria com o produtor, para garantir que sua estrutura financeira se aperfeiçoe.
“Fazemos o acompanhamento tanto com o produtor quanto com o investidor. Isso gera valor para o investidor, que vê seu investimento com uma gestão, e para o produtor, pois ele se organiza cada vez mais”, afirmou Galvão.
Sócios experientes
Essa união entre o agro e o mercado de capitais encontra respaldo também no background dos dois sócios, que já atuaram tanto na Faria Lima quanto no campo.
Marcelo Galvão atua há cerca de sete anos no agro, tanto no mercado financeiro quanto em empresas do setor. No último ano atuou no Investment Banking da Genial.
Antes, fez trading de commodities em empresas e passou três anos coordenando as operações de barter de algodão na Basf. Também atuou na Vicunha Têxtil. Seus primeiros anos de carreira foram no Itaú BBA.
“O agro tem muitas peculiaridades e minha contratação na Genial serviu para a empresa crescer e expandir no setor. Eles precisavam de alguém que entendesse o produtor, a cadeia de insumos, logística e agroindústrias”, afirma.
Celso Affonso Filho também acumula essa dupla experiência. Começou sua carreira no banco Fator e, depois de alguns anos, atuou liderando as operações de hedge de commodities na Bertin. Dentro do grupo J&F, atuou cinco anos atendendo grandes clientes do agro no Banco Original e ainda alguns meses como head de trading na JBS.
Nos últimos quatro anos estava na gestora Éxes, onde atuou estruturando CRAs e operações do tipo.
A ideia da MSA Partners passa, segundo Galvão, por uma experiência própria dentro da Genial. Lá, ele percebeu, em contato com investidores, que o mercado carece de casas com conhecimento profundo sobre o agronegócio.
Somado a isso, a safra atual, marcada por quebras de safra por conta de um clima seco em muitas regiões do Centro-Oeste, escancarou que muitos produtos do agro, como CRAs e Fiagros, foram estruturados com uma qualidade de crédito delicada.
Por mais que o mercado de capitais olhe com bons olhos para o agro, pouca gente na Faria Lima conhece, de fato, as características dos produtores, acredita Galvão.
Do lado produtivo, ele ressalta que fazendeiros e empresas rurais precisam melhorar sua governança, até para estreitar a relação com os investidores do mundo financeiro.
“O produtor precisa de recursos para se organizar, deixar de ser PF e passar a ser PJ. Ele precisa de informações financeiras auditadas, mecanismos de sucessão. Da mesma forma, o investidor quer se expor ao agro em bons produtos e boas empresas”, acrescenta Galvão.