Um novo negócio envolvendo agtechs e o ecossistema de inovação está na praça. Três executivos que fizeram parte do primeiro quadro de funcionários do antigo AgTech Garage – que após a aquisição da PwC passou a se chamar Agtech Innovation – estão lançando uma empreitada que tem como o objetivo ajudar hubs de tecnologia a se reinventarem, bem como as próprias startups do agro.

O New Innovation Partners contará com Bruno Abreu como CEO do projeto, Henrique Provenzzano como COO e Leonardo Langoni na função de CMO.

Provenzzano foi o primeiro funcionário contratado pelo fundador José Tomé – que também deixou o Garage recentemente – e Abreu, o quinto. Langoni não se recorda ao certo da ordem, mas garante que foi um dos dez primeiros a chegarem no hub de inovação piracicabano.

A New Innovation Partners atuará em três frentes, segundo Abreu disse ao AgFeed. A primeira frente diz respeito a uma assessoria na estratégia e gestão de inovação para empresas. O foco, segundo explicaram os sócios, é ajudar a estruturar uma área de inovação em companhias que sejam do agro ou correlatas ao setor.

A ideia é trazer esse tipo de mentalidade para empresas menores, e não só multinacionais. A segunda frente contempla serviços pontuais, como uma consultoria temporária, workshops e auxílio a programas.

A terceira frente, segundo eles a mais importante, é a atuação com hubs. “Vemos hubs surgindo para tudo quanto é lado e poucos com expertise ou proposta de valor, ou que são pouco tangíveis. Temos nosso repertório de anos no AgTech Garage para ajudar a desenvolver estratégias e prestar uma assessoria contínua”, afirmou Bruno Abreu.

A empresa não citou nomes, mas afirma que já fechou um contrato para ajudar uma associação comercial do interior paulista a estruturar um hub de inovação. Além dela, uma universidade da região Sul também está em conversas com a empresa para um projeto semelhante.

Além de dar continuidade à carreira que os sócios tinham no antigo AgTech Garage, existe uma percepção de que os desafios do agro atual e futuro demandam uma nova geração de empreendedores.

Com isso, a ideia é ajudar a fomentar esse movimento. “Precisamos desses profissionais e de uma transformação nas empresas. Só assim vamos conseguir uma nova perspectiva e responder aos desafios futuros. Temos um propósito de continuar no ecossistema de startups, e ajudar elas a fomentar negócios, trazer novas soluções e fomentar o empreendedorismo”, comentou Bruno Abreu.

Segundo o estudo Radar Agtech Brasil 2023, o Brasil cointa com 1.953 startups atuando no agronegócio. O levantamento, realizado por Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens Research and Consulting, apontou que o número é 14,7% maior do que o registrado na edição de 2022, com 250 novas agtechs mapeadas.

Abreu acredita que esse ritmo de crescimento deve continuar quente nos próximos anos, e que considera, avaliando o potencial e tamanho do agro no brasil, esse número ainda é pequeno.

Nesse sentido, a New Innovation Partners vê um papel importante dos hubs de inovação no processo, mas acreditam que esse tipo de iniciativa precisa se “reiventar continuamente”.

A empresa deve atuar não só ajudando hubs a se atualizarem constantemente, mas também em conexões entre iniciativas regionais. “O futuro é colaborativo, e os hubs precisam trocar experiências”.

A empreitada dos sócios pretende, então, ser uma espécie de catalisador de hubs, e ajudar os organizadores a entender sua proposta de valor, algo que, segundo Abreu, é distinto de hub para hub.

“Vamos assessorar hubs no dia a dia, pois a operação é dinâmica. Nossa expertise nos ajuda a suportar esse processo de inovação contínua, além de levar referências de um hub para outro, respeitando os interesses individuais de cada”, explica.

A experiência de quase uma década no AgTech Garage traz um conhecimento vasto sobre o agro, mas a ideia é atuar também com startups correlatas, como healthtechs, por exemplo.

A função de cada um dos três sócios também é distinta, e diz respeito à função que faziam no emprego anterior. Bruno Abreu atuará diretamente com a estratégia de gestão e inovação dentro da organização, auxiliando as empresas ou hubs a organizar sua cultura interna e lideranças.

Já Henrique Provenzzano é o responsável por transformar ideias em negócios, ajudando na gestão dos projetos.

“Depois que o Bruno prepara a empresa e a deixa pronta para inovar, eu entro para ajudá-la a criar mecanismos de adoção de tecnologia. Assim, acompanhava a gestão dos projetos com métricas e ajudava a colocar o produto no mercado de forma escalável. Sempre foquei em tangibilizar o negócio e aproximá-lo de universidades e produtores”, detalhou Provenzzano.

Leonardo Langoni, por sua vez, atuará na conexão entre o ecossistema de startups. Sendo assim, ele é responsável por ajudar os empreendedores a se conectarem com processos de aceleração e investidores interessados.

“Sempre lidei com redes de startups parceiras e atuamos com negócios de diferentes maturidades. Já ajudei, por exemplo, empresas a pivotar a operação para atuar no agro. O desafio é esse, gerar valor para o empreendedor, e ocasionalmente, numa oportunidade de mercado, rolava uma adaptação de tecnologia”, explicou Langoni.

Além do AgTech Garage, os três sócios já têm raízes mais profundas no agro. Leonardo e Henrique são formados pela Esalq, uma das maiores universidades de agronegócio do mundo. Já Bruno Abreu é zootecnista de formação e filho de pecuaristas.

O New Innovation Partners acredita que os hubs estão ligados, em sua maioria, a grandes empresas, que, muitas vezes, possuem áreas e profissionais dedicados à inovação. Essa relação geralmente ocorre com a própria empresa sendo responsável por um hub ou patrocinando alguma iniciativa.

Com isso, os sócios enxergam uma oportunidade de apoiar empresas de médio porte sem acessos aos mecanismos de inovação. A ideia, nesses casos, é auxiliar a empresa com serviços pontuais de inovação, levantar demandas e mapear parceiros.

Abreu comentou, sem citar nomes, que sua empresa está em conversa com uma empresa de cerca de 60 funcionários, ou seja, de pequeno porte, que atua no setor lácteo.

“Essa companhia entende que o seu negócio pode ser ‘disruptado’ com o avanço da Inteligência Artificial, e quer solucionar os desafios do setor”, afirmou. “Precisamos atender quem não está sendo assistido e temos uma metodologia para isso”, acrescenta.

Ele faz um paralelo com o Nubank, que, na contramão dos grandes bancos, nasceu no mercado com a ideia de dar crédito a pessoas menos capitalizadas.

Quando o sócio fala em hub, ele ressalta que não se restringe ao espaço físico, mas sim à dinâmica de relação entre startups, grandes empresas, universidades e outros players. Ele acredita que o espaço físico ajuda essa relação e pode ser um “epicentro” para as oportunidades de negócio e alavancagem de resultados.

A empresa estima que os hubs possuem um “raio de influência”, de cerca de 300 quilômetros de sua sede.

Tanto que os sócios da New Innovation Partners, mesmo morando e com escritório em Piracicaba, não vão se restringir apenas à localidade. A ideia é estar presente em todo o País, física ou virtualmente, com os clientes.

O negócio foi criado com capital próprio dos sócios e a ideia não é realizar uma captação agora, e sim “colocar a mão na massa” e entender mais o mercado antes de pensar nisso.

A empresa trabalha com um cenário de 60 hubs voltados ao agro espalhados pelo País, de acordo com uma estimativa própria.

Essa quantidade deve crescer, na opinião dos sócios, mesmo num momento em que muita empresa está se questionando se esse modelo é sustentável a longo prazo. “A resposta é sim.

Vemos hubs pulverizados atuando em diferentes esferas, e vejo que o futuro da inovação passa por uma ‘huberização’, com negócios de valor compartilhados”, afirma Abreu.