Balsas (MA) - Em tempos de problemas climáticos e preços baixos para o agro como um todo, uma das principais empresas do setor na bolsa, a BrasilAgro, vai encontrando saídas para seguir garantindo rentabilidade no campo e, consequentemente, mais geração de caixa.
A empresa não tem foco apenas na compra e venda de propriedades rurais, mas também na produção agrícola, que vem crescendo nos últimos anos.
Por isso, um dos caminhos para enfrentar períodos mais desafiadores tem sido a diversificação de culturas, afinal se para os grãos a situação está difícil, para a cana-de-açúcar o cenário tem sido bem mais favorável.
Não é à toa que a fazenda considerada “mais rentável” atualmente para a BrasilAgro, a São José, no Maranhão, tem como principal atividade o cultivo da cana, que é fornecida para a usina Agro Serra, antiga proprietária das terras.
E foi esse o cenário escolhido pela empresa para receber na última sexta-feira, 23 de fevereiro, um seleto grupo de analistas e jornalistas, durante um Dia de Campo com a participação de funcionários e empresas parceiras.
A fazenda, localizada a cerca de 100km de Balsas (MA), tem 25 mil hectares, sendo 15 mil hectares arrendados. Foi adquirida pela BrasilAgro em 2017.
Dos 10 mil hectares próprios, 6 mil já foram transformados em lavouras de soja e milho. Já na área arrendada apenas 2 mil hectares são de grãos, seja nos aceiros – áreas no meio da cana que ajudam na prevenção de incêndios – ou como rotação de culturas.
“Nós vemos na cana-de-açúcar uma estabilidade de resultado operacional maior que os grãos, já que tem menos oscilação de preço. Temos possibilidade de obter prêmios sobre o preço do Consecana e a margem histórica sempre foi muito atrativa”, disse André Guillaumon, CEO da BrasilAgro, ao conversar com o AgFeed.
Historicamente, segundo a empresa, a margem por hectare nas áreas de grãos fica entre R$1,5 mil e R$ 2 mil por hectare, enquanto na cana varia de R$ 4 mil a R$ 5 mil.
Nesta safra 2023/2024, Guillaumon acredita que a rentabilidade da cana fique entre 25% e 30% maior que os grãos.
“Só que a cana tem suas peculiaridades, porque é um cultivo que necessita de uma outra parte”, disse o CEO, referindo-se à necessidade de ter uma usina próxima para fazer a moagem. “No caso de outra commodity, você pode fazer tudo ao seu critério. Se for soja, tem várias tradings para comercializar”, lembrou.
Ainda assim, o executivo garantiu que a BrasilAgro vai ampliar a área plantada com cana na próxima safra, sem revelar percentuais, mas seguindo a característica do setor, “ao encontrar bons acordos comerciais”.
“Não tenho dúvida de que a companhia vai continuar crescendo em cana, espero dentro em breve trazer uma notícia boa para vocês nesta área”, afirmou.
Guillaumon lembrou que no passado, quando a empresa plantava um total de 80 mil hectares de lavouras, chegou a ter 30 mil hectares de cana. Mas a medida em que vai comercializando algumas fazendas, essa participação de cada cultura pode mudar. Na venda da fazenda Araucária, em Goiás, por exemplo, havia 4,7 mil hectares de cana.
O CEO da companhia justifica o avanço que está sendo planejado como uma forma de “equilibrar um pouco mais”, já que hoje são em torno de 30 mil hectares de cana para um total de quase 180 mil hectares de lavouras cultivadas pela BrasilAgro. “Tem muito espaço para equilibrar esta cesta de produtos”.
De olho no açúcar
A BrasilAgro tem ao todo quase 25 mil hectares de cana-de-açúcar, sendo a maior parte no Maranhão, mas também em fazendas do estado de Mato Grosso e na Bolívia.
Analistas que acompanham a empresa já demonstraram preocupação, recentemente, pelo fato de a BrasilAgro estar próxima somente de usinas que produzem etanol, sem a oportunidade de se beneficiar os picos de preço que o açúcar foi atingindo no ano passado, por exemplo.
Mas o CEO da companhia antecipou ao AgFeed que as novidades que devem chegar em breve estão relacionadas a este tema.
“Nosso otimismo é porque estamos buscando novas unidades de fornecimento onde possamos ter esse mix mais equilibrado”, afirmou.
Segundo ele, essa nova parceria pode ocorrer no próprio Maranhão ou também nas outras regiões em que a BrasilAgro atua.
“No passado isso foi menos importante, tinha uma correlação muito grande entre etanol e açúcar. Mas recentemente, com as políticas que envolvem os combustíveis, a correlação passou a não ser tão positiva, o que reforça a importância de se ter uma produção de cana com mix açucareiro e alcooleiro”, explicou.
Para que essa mudança ocorra já na safra 2024/2025, Guillaumon diz que não é possível nas usinas em que a empresa já está, porque “ninguém constrói uma planta do dia para a noite”. Mas destaca que o movimento virá de novos projetos focados no mix açucareiro.
Oportunidades na compra de fazendas
O CEO da BrasilAgro diz que houve uma “acomodação dos preços e das euforias” no mercado de terras. Por isso, acredita que “é um bom momento para reequilibrar o portfolio e voltar a crescer em novas compras, para depois voltar a vender de novo”.
Ele sempre repete que a empresa ainda será “vendedora” e que está vendo “muita liquidez corrente no mercado”, mas admite que começa a ver oportunidades importantes de aquisições para a reoxigenação do portfolio.
Perguntado se o interesse pela cana também vai influenciar essa tomada de decisão, Guillaumon deixou claro que a expansão canavieira deve ocorrer em áreas arrendadas e não em áreas próprias.
O motivo é que a conversão para grãos, mesmo com os preços baixos, ainda costuma trazer retornos muito rápidos no que se refere a valorização das terras para posterior comercialização.
No caso da Fazenda São José, que visitamos nos últimos dias, a empresa comemora a valorização já obtida. A propriedade foi comprada há 5 anos por R$ 100 milhões. Depois disso, investiu R$ 180 milhões para converter 6 mil hectares em grãos e aumentar a produtividade da cana, inclusive por meio da irrigação, que também é ponto forte da fazenda.
A produção de cana na fazenda, que era de 800 mil toneladas em 2017, agora chega a 1,5 milhão de toneladas. O avanço ocorreu pelo ganho de produtividade, que passou de 57 toneladas por hectare (TCH) para 92 TCH no período.
O CFO da BrasilAgro, Gustavo Javier Lopez, diz que passados 5 anos, empresas de auditoria já indicam que a fazenda vale pelo menos R$ 475 milhões. Ele relata que o resultado financeiro gerado pela propriedade neste período chegou a R$ 500 milhões.
Os analistas da XP, que também estiveram na visita ao Maranhão, estimaram que a fazenda possa atingir “um valor justo atual de R$ 500-700 milhões”. Relatório da XP diz que a propriedade deve ser responsável por 60% do Ebitda da BrasilAgro em 2024, prevendo um Ebitda total de R$ 153 milhões para a companhia.
Além do bom resultado na cana, nas áreas de grãos do Maranhão a expectativa é de uma produtividade dentro do que foi projetado, em torno de 60 sacas por hectare no caso da soja.
Durante a visita, a empresa mostrou testes que vem fazendo em parceria com a Vittia para um manejo 100% biológico na soja (em fungicidas e inseticidas). Na área de 200 hectares a previsão é chegar a pelo menos 75 sacas por hectare de rendimento.
O CFO da empresa diz que o segredo da rentabilidade está no modelo de arrendamento, além da diversificação de culturas. Segundo ele, uma “terra madura”, como investimento, costuma dar entre 5% e 8% ao ano de retorno. Já no arrendamento é possível chegar a 20%. “Aqui nessa fazenda temos 15 mil hectares com retorno de 20%”, diz.
Lopez afirmou que a diversificação da São José é relevante para o Ebitda da companhia porque garante um fluxo financeiro durante todo o ano, ao contrário de fazendas dedicadas somente a soja, milho ou algodão.
Para o CEO da BrasilAgro, o importante da visita à fazenda do Maranhão foi reforçar ao grupo que a empresa “é um vetor de valorização imobiliária”. Ao aplicar tecnologia na produção agrícola, segundo ele, o valor das terras é impulsionado.
Safrinha de milho já está plantada em Mato Grosso
O plantio do milho segunda safra nas fazendas da BrasilAgro em Mato Grosso terminou no dia 22 de fevereiro, segundo o diretor de operações da companhia Wender Vinhadelli.
Ele diz que a expectativa é de uma produtividade levemente acima do ano passado já que a janela climática foi melhor aproveitada, com 90% do plantio concluído até 15 de fevereiro, além da manutenção do nível de tecnologia aplicada nas lavouras.
A área cultivada com milho safrinha em Mato Grosso ficou próxima de 8 mil hectares, o que representa uma queda em relação ao ano passado.
Na soja, o diretor estima que 50% da áreas da empresa no estado já tenham sido colhidas. “No Xingu chegamos a uma média de 3.600kg/ha (o equivalente a 60 sacas por hectare), já nas áreas mais novas um pouco menos”, contou Wender ao AgFeed.
O diretor admite que o excesso de chuvas na colheita atrapalhou um pouco a qualidade dos grãos, o que poderá levar a uma leve redução da produtividade média. Ainda assim, a expectativa é de que fiquem bem acima da média do estado de Mato Grosso, já que as fazendas da BrasilAgro não estão nas regiões em que a seca foi mais crítica no final do ano passado.