Cascavel (PR) - Um dos maiores eventos de tecnologia agrícola do País começou ainda em meio às incertezas sobre como o período de preços de commodities mais baixos – e quebra de safra em algumas regiões – poderá impactar os negócios, especialmente as vendas de máquinas e equipamentos.

“O movimento na feira hoje foi fraco”, avaliou o secretário de Agricultura do estado do Paraná, Norberto Ortigara. O comentário foi feito logo após afirmar, com todas as letras, que “o Show Rural vai vender menos este ano”.

Ortigara ponderou que se trata de um período de forte trabalho de colheita nas lavouras, o que dificulta um pouco para que os produtores se desloquem até Cascavel.

Expositores locais concordaram, mas disseram que, tradicionalmente, os dias mais movimentados “estão no meio da semana”.

Segundo a organização da Show Rural Coopavel, que vai até sexta-feira, o público que visitou o parque hoje “foi recorde para uma segunda-feira”, totalizando mais de 55 mil visitantes. No ano passado foram 51 mil visitantes na segunda-feira e 380 mil ao longo de toda a semana.

Este ano os organizadores preveem que seria difícil repetir o recorde de 20223, prevendo receber “mais de 300 mil pessoas”. Apesar do primeiro dia lento, a Coopavel segue prevendo um aumento no volume de vendas, estimado em R$ 5,5 bilhões.

Para o secretário paranaense, a expectativa menos otimista em relação aos negócios no evento não está relacionada aos avanços tecnológicos apresentados nem ao interesse dos agricultores em ver os lançamentos.

O principal motivo, segundo ele, é momento delicado de quebra de safra. “No Paraná já revisamos em 12% a produção estimada”, lembrou.

Ortigara fez críticas aos números atuais do USDA e da Conab, alegando que o mercado internacional ainda não está precificando a redução real que o Brasil terá na produção de soja dessa safra.

“Eu acho que deve ficar pouco acima de 140 milhões de toneladas, esperamos que a Conab mostre isso no levantamento da próxima quinta-feira”, disse o secretário.

O levantamento da Conab no mês passado apontou 155 milhões de toneladas para a soja, mas consultorias privadas vêm estimando que produção ficará abaixo de 150 milhões de toneladas.

O secretário admitiu que os custos de produção estão mais baixos, inclusive de tratores, o que foi comprovado num programa estadual que baixou o preço de referência e segue tendo ofertas.

Porém disse que a soja “está R$100 a saca, rumando para dois dígitos, o que fez com que muitos setores passassem a não fechar mais a conta”.

Ele lembrou que grandes produtores que tem contratos de exportação fechado em dólar não sofrem, mas que a maioria não faz isso, reforçando que no estado do Paraná 85% dos produtores são da agricultura familiar.

“Não quero ser pessimista, mas o quadro é apertado e difícil, qualquer um vai pensar 18 vezes antes de fazer investimento”, declarou.

O secretário disse que o produtor “segue pagando caro por máquinas que não consegue usar, por falta de conectividade”.

Ortigara disse que o governo estadual vai investir em estações de radio-base para prover conectividade e permitir que se “use minimamente estas tecnologias, criticando iniciativas que considerem que um produtor do perfil paranaense possa “pagar boleto da Starlink”.

Ministro promete incentivo para agricultura familiar no Show Rural

Um dos destaques do primeiro dia da Show Rural foi a visita do ministro do Desenvolvimento Agrário Paulo Teixeira que participou de uma extensa agenda, visitando estandes, ao lado da presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, do presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, e de Norberto ortigara.

Ao percorrer o pavilhão dedicado à agricultura familiar, Teixeira prometeu mais recursos e lançou um desafio ao seu ministério e aos demais dirigentes que estavam presentes: triplicar, no próximo ano, o espaço voltado a pequenos produtores.

Ele defendeu maior incentivo à produção e à exposição de mais máquinas e implementos de pequeno porte, destinados à agricultura familiar, e lembrou que existem cerca de R$ 400 milhões disponíveis, em edital do Finep, para incentivar projetos de desenvolvimento de tecnologia para pequenos produtores.