Por suas dimensões continentais, é difícil estabelecer uma única característica climática para o Brasil. Algumas regiões são mais secas, outras têm um volume de chuva maior. Mas o que é possível saber é que nem 15% das terras agrícolas do país possuem irrigação.
Boa parte deste déficit é causado pela falta de fontes de energia nas fazendas para atender os sistemas de irrigação.
A Bauer, multinacional que produz equipamentos de irrigação, decidiu transformar esse problema em uma nova área de negócios.
Em entrevista exclusiva ao AgFeed, o CEO da Bauer do Brasil, Rodrigo Parada, conta que a empresa começou a estruturar, no final de 2023, uma área de energia para atender os produtores rurais com painéis solares.
“Energia é um dos principais limitantes para irrigação. Na região do Matopiba (formada pelos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), a situação é ainda pior que no resto do país. Mas mesmo no Mato Grosso a situação é ruim”, conta Parada.
Com todo esse potencial, Parada já tem uma projeção sobre como pode ser a performance da nova área no curto prazo. “Se chegarmos a 5% dos nossos clientes de irrigação, conseguimos faturar cerca de R$ 40 milhões com os serviços de energia. Acredito que conseguimos chegar a mais do que isso rapidamente”.
A operação da Bauer atende tanto as propriedades que estão dentro da rede pública de distribuição de energia, ou on grid, quanto aquelas que não têm acesso a essa rede, ou que estão off grid.
A Bauer Brasil atua com sua estrutura própria na instalação de energia solar em fazendas on grid. Para as propriedades com mais carência de estrutura, que estão off grid, a companhia atua em parceria com a Micropower, empresa que é especializada em microrredes com geração térmica, solar e que permite armazenamento.
Apesar deste novo caminho aberto pelos serviços de energia, o principal negócio da Bauer vai continuar sendo a irrigação. E a empresa conseguiu crescer em 2023, andando na contramão do mercado.
“As vendas de pivôs de irrigação caíram de 4,5 mil unidades em 2022 para cerca de 3 mil no ano passado. Mas nós conseguimos crescer 20% em faturamento, e 30% em volume de vendas”, conta Parada.
A Bauer Brasil chegou a um faturamento de aproximadamente R$ 500 milhões, em um ano que começou muito difícil. “Janeiro e fevereiro foram meses praticamente parados. Só em março a demanda começou a voltar”.
Para 2024, o CEO espera que a Bauer Brasil cresça pelo menos 30%. Um dos caminhos é abrir novos mercados. “Fizemos uma parceria com a Coopercitrus, em São Paulo, uma das maiores cooperativas do país. Fechamos com três grandes revendedores em Mato Grosso, abrimos uma loja própria no Mato Grosso do Sul, e fechamos com uma unidade no Rio Grande do Sul”.
Sobre o estado da Região Sul, Parada afirma que o produtor gaúcho é “teimoso”, e mesmo depois dos anos de seca antes da safra atual, a Bauer tem pouca presença no Rio Grande do Sul. “Acabamos desfazendo os contratos que tínhamos com 10 revendas, e estamos reestruturando as operações lá”.
Outro caminho para continuar crescendo é oferecer mais produtos. Segundo o CEO, a Bauer Brasil vai começar a produzir separadores de dejetos e carretéis localmente, ampliando as fontes de receitas.
Parada aponta que a venda de serviços já é uma parte importante do faturamento da Bauer. Nesse quesito, a empresa tem sua unidade de tecnologia, a Irricontrol, uma plataforma de automação do processo de irrigação.
“Estamos também em fase de desenvolvimento de pivôs de seis metros, que servem para produtores de hortaliças e frutas. Será um produto que vai atender bem os cooperados da Coopercitrus, por exemplo”, afirma o CEO. O equipamento está sendo testado em uma fazenda de Minas Gerais.
As cooperativas também estão dentro da estratégia de expansão da Bauer. Isso por conta da escala que a irrigação ganha neste tipo de parceria.
“A Coopercitrus tem dado muito retorno. Nós passamos de uma escala de venda de cinco pivôs para algo em torno de 120, 130 pivôs. A vantagem está na forma como as cooperativas enxergam a irrigação. O cooperado aumenta a produtividade, e paga em dia”.
No caso das lojas próprias, Parada afirma que a intenção da Bauer não é ter uma rede. “Nós abrimos em lugares que não conseguimos fechar com revendedores. Nós não temos revenda no Acre, por exemplo, e é difícil de achar. Abrimos uma loja própria, e vendemos depois para alguém local”.