Nesta semana, a EqSeed, plataforma de investimento coletivo, finalizou uma captação de R$ 1,7 milhão para a agtech JetBov, especializada em gestão para a pecuária.
O movimento, ainda que singelo, deve dar o tom do ano de 2024 para a empresa, que vê uma demanda cada vez maior dos investidores participantes da plataforma por startups que atuam no agro.
Igor Monteiro, sócio e diretor de investimentos da EqSeed, afirmou ao AgFeed que a meta da plataforma é movimentar, ao todo, R$ 45 milhões em investimentos ao longo do ano.
Num primeiro momento, a ideia é lançar, por mês, duas startups para captação na EqSeed, e encerrar o ano com quatro mensais. “Naturalmente, com o crescimento de volume, o agro vai fazer parte do nosso portfólio de forma próxima”.
Até agora, foram três empresas com um pé no campo que já levantaram capital por meio da EqSeed. Além da JetBov, a mais recente, a CargOn, a Scicrop e a Horus Aeronaves já levantaram dinheiro com investidores da base da plataforma.
A CargOn, Plataforma digital de gerenciamento do transporte de cargas, levantou, no ano passado, mais de R$ 3 milhões na EqSeed, numa rodada total de R$ 5 milhões que também envolveu a TechInvestor, fundo paranaense da Viasoft.
A Scicrop levantou R$ 2 milhões há dois anos e atua como uma plataforma de dados e análises preditivas para o setor.
Já a Horus, que já recebeu investimentos de R$ 3 milhões da SP Ventures no passado, levantou, em 2022, R$ 2 milhões na EqSeed. A empresa atua com monitoramento agrícola com drones.
A busca por agtechs é atestada por uma série de pesquisas feitas com a base de investidores. Segundo Monteiro, o agro está entre os quatro temas mais procurados pela base de investidores, junto com fintechs e startups ligadas à energia e saúde.
Hoje são mais de 70 mil cadastrados na plataforma, que acumula cerca de R$ 85 milhões arrecadados desde 2014, quando a empresa foi criada. Pelo crivo da EqSeed já passaram quase 50 startups nos últimos 10 anos, com 60 ofertas. Monteiro explica que algumas startups já captaram três vezes na plataforma.
Apesar de tecnicamente ser uma plataforma de crowdfunding, a EqSeed conta com um sistema de seleção e, de acordo com o sócio, menos de 1% das startups que se mostram interessadas em captar dinheiro através da plataforma efetivamente entram na jogada.
Monteiro explicou que a ideia da EqSeed é, de um lado, ajudar as empresas que têm dificuldade de acessar capital institucional, e do outro, dar acesso a investidores pessoa física de perfil variado, seja financeiro ou até mesmo de expertise.
“Esses investidores não teriam acesso aos ativos se não ligados a pessoas próximas. Temos investidores de todo o País investindo em startups, num ambiente 100% digital e regulado pela CVM”, afirma.
Numa analogia, o sócio explica que o processo é equivalente a um IPO. A EqSeed atua como se fosse um banco de investimento, analisa a empresa, estrutura a oferta e faz o road show. Os investidores, por sua vez, tomam a decisão de investir individualmente.
Ele ainda conta que a empresa tem se portado como uma alternativa de alocação patrimonial. Na base dos mais de 70 mil investidores, existem pessoas com 30 empresas investidas, por exemplo.
Nesse sentido, a empresa tem uma parceria com o Itaú, que por meio de seu aplicativo Íon, plataforma de investimentos do banco, disponibiliza a possibilidade para clientes investirem em startups da EqSeed com cheques a partir de R$ 2,5 mil.
Quando a rodada de captação é terminada, os investidores que decidiram alocar capital nas empresas viram acionistas do negócio. Apesar disso, a EqSeed dá um suporte para esses investidores enquanto eles possuírem capital alocado por lá.
Se a empresa vai captar uma nova rodada ou então ser vendida para outro negócio, algo que já aconteceu seis vezes, a EqSeed presta todo o suporte para seus clientes.
A empresa não tem uma tese de investimento fixa, mas leva em consideração alguns parâmetros na hora de escolher uma startup para colocar em sua plataforma. Primeiro, é levado em conta a estrutura da empresa, o modelo de negócio e a tecnologia para escalar.
“Sou o sócio responsável por essa área e lido com o relacionamento com as empresas e a seleção que vai até depois da captação do investimento. Olhamos com uma lente semelhante ao padrão do Venture Capital”, explica Monteiro.
Também são levados em consideração, tanto por Monteiro quanto pelo time de analistas e time jurídico, os contratos da empresa e o tamanho do mercado que ela está inserida. “Nas agtechs esse último fator já é automaticamente resolvido. Apesar disso, o setor não é colocado dentro do mesmo balaio”.
Ele cita, por exemplo, que a JetBov, chamou a atenção por já ter 3,6 mil fazendas clientes. “O agro tem uma característica de adotar a tecnologia num ritmo específico, e que o produtor testa aos poucos”.
A EqSeed foi criada há 10 anos pelo inglês Greg Kelly e pelo estadunidense Brian Begnoche. Kelly trabalhava em Londres no mercado financeiro e conheceu o modelo de negócio por lá.
Ao se mudar para o Brasil, trouxe a ideia junto e estruturou a EqSeed. Na época em que a empresa foi criada, a CVM não tinha uma regulamentação específica para esse tipo de plataforma, algo que só mudou em 2017, com o primeiro entendimento do órgão. Em 2022, a norma foi atualizada.