No churrasco de Mark Zuckerberg, quem toma cerveja e come petiscos são os bois. O bilionário fundador do Facebook e dono da Meta, anunciou nesta semana que vai empreender também na pecuária.
Em suas redes sociais, publicou que começou a criar gado das raças Wagyu e Angus em Kauai, no Havaí. Segundo ele, a ideia é “criar uma das carnes bovinas de mais alta qualidade do mundo”.
O que chamou a atenção no anúncio foi a dieta dos bovinos, que comerão farinha de macadâmia e beberão cerveja, ambas cultivadas e produzidas no Rancho Ko’olau, de Zuckerberg.
A raça japonesa Wagyu, de gado de corte, é conhecida por produzir a carne mais cara do mundo. Os animais da raça às vezes recebem cerveja para beber como um estimulante de apetite.
Zuckerberg afirma que cada vaca come de 5 mil a 10 mil libras de comida por ano, algo entre duas e quatro toneladas.
“Isso significa que demandamos muitos hectares de macadâmias. Minhas filhas ajudam a plantar as árvores e a cuidar dos nossos diversos animais. De todos os meus projetos, este é o mais delicioso”, pontuou o empresário.
De acordo com informações da Forbes, Zuckerberg gastou mais de US$ 100 milhões na propriedade de cerca de 280 hectares em Kauai em 2014. Posteriormente, comprou mais 240 hectares em 2021 por US$ 53 milhões.
Segundo o Honolulu Star-Advertiser, site de notícias local, o empresário ainda comprou mais 44 hectares. A propriedade inteira, que inclui a fazenda e uma praia pública, tem cerca de 600 hectares.
A incursão de um bilionário do segmento tech no mundo agro não é novidade.
Bill Gates, fundador da Microsoft é famoso pelos seus investimentos diversificados e ações filantrópicas ao redor do mundo, e dentro dessa cesta, existe a agricultura.
Ele é apontado como um dos maiores proprietários de terras agricultáveis dos Estados Unidos, e, nos últimos anos, teria adquirido mais de 110 mil hectares em propriedades rurais em diferentes estados americanos.
Gates já declarou que o objetivo com as propriedades é fomentar o desenvolvimento tecnológico de sementes e biocombustíveis. Além disso, é acionista das maiores empresas de carnes plant-based do mundo, a Beyond Meat e a Impossible Foods, além de ter investimentos na John Deere.
Juntando sua expertise tecnológica com o agro, ele também se aventura em startups.
No ano passado, Gates anunciou a criação da Rize, uma joint venture do seu fundo Breakthrough Energy Ventures com a Temasek, gestora de Cingapura com cerca de US$ 400 milhões em ativos, e as organizações Wavemaker Impact e GenZero.
Com sede no país asiático, a startup tem como objetivo criar uma plataforma de soluções para descarbonizar o cultivo de arroz na Ásia. A Rize iniciou as operações em junho passado com a contratação de Dhruv Sawhney, veterano executivo e empreendedor de agtechs na Índia, assumindo a função de CEO.
Segundo alimento mais consumido no mundo, o arroz é também uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa na agricultura.
O uso de fundos de investimento também aproximou Jeff Bezos, da Amazon, ao agro, inclusive o brasileiro.
Durante a COP 28, o Bezos Earth Fund, fundo de investimentos filantrópicos do próprio dono da Amazon, anunciou que aportará US$ 57 milhões em projetos ligados a temas como o futuro da alimentação, apoiando ações ousadas para a transformação dos sistemas alimentares.
A maior fatia do bolo dos US$ 57 milhões servirá para tornar a pecuária "mais sustentável", e reduzir as emissões de metano em 30% em até 15 anos. Serão US$ 30 milhões investidos para atuar junto com o Acelerador de I+D de Metano Entérico do Global Methane Hub.
O dinheiro servirá para identificar e desenvolver rações com baixo teor de metano, uma criação de gado com baixo teor de metano e o uso de um sensor individual para medir as emissões de metano das vacas. O local do investimento é dito como "Sul Global" e deve, portanto, abranger o Brasil.
Ademais, o fundo também doará US$ 16,3 milhões, algo em torno de R$ 80 milhões na cotação atual, para apoiar "planos inovadores" diretamente na região amazônica. Serão no estado do Pará, no entanto. O objetivo é alcançar o desmatamento ilegal zero nos próximos três anos, criando o que o Bezos Fund anuncia como "o maior sistema de rastreabilidade animal do mundo".
Esse olhar atento ao agro é uma tendência, conforme apontou o banco suíço UBS, especializado em gerir grandes fortunas, em um relatório publicado no ano passado.
A instituição entrevistou 50 multimilionários para saber como se enxergam diante dos grandes desafios globais do momento, além de coletar dados de mais de 2,5 mil pessoas mais ricas do mundo para monitorar como elas movimentam seus recursos.
A pesquisa mostra que 42% dos entrevistados acreditam que a agricultura inteligente é uma das áreas que têm mais oportunidades para gerar impacto futuro.
Os multimilionários colocam a tecnologia na produção agrícola no mesmo patamar de relevância de desenvolvimento econômico com mitigação da pobreza, disponibilidade de água potável e saneamento.
“Os métodos atuais de agricultura intensiva se mostram insustentáveis, e a guerra entre Ucrânia e Rússia tem causado escassez de alimentos no Oriente Médio e na África", diz o banco. O UBS também percebeu que, para muitos milionários, encontrar formas de aumentar a produtividade agrícola é um problema natural, inclusive por serem proprietários de terras.
Esses investimentos também estão ligados à agtechs, e dentre as áreas de atuação dessas startups, as proteínas alternativas chamam mais a atenção.