Neste fim de semana um incêndio atingiu as correias portuárias de embarque de grãos do terminal da Cavalca, no porto de Paranaguá, no Paraná, o segundo mais movimentado do Brasil, trazendo mais uma preocupação para a logística do agronegócio.
O incêndio foi controlado e não houve vítimas. O maior estrago é o fato de deixar o berço 201, por enquanto, fora de operação.
Em nota divulgada no domingo, a Cavalca Administração Portuária, declarou que o terminal não estava em operação no momento do incêndio, e que a causa ainda está sendo investigada pelas autoridades.
Para Vlamir Brandalizze, analista de mercado da Brandalizze Consulting, não deve haver impacto significativo no funcionamento do porto.
“O próprio Cavalca está no mercado comprando soja hoje. Agora o trabalho será para recuperar a parte da esteira, mas no todo, afeta pouco, aparentemente”, comentou.
Já Alessandro Delara, fundador da consultoria de commodities Pine Agronegócio, destacou que o problema, mesmo localizado, pode acabar sobrecarregando ainda mais as operações do porto como um todo, que sofre com o excesso de chuvas no estado.
Ressaltou, no entanto, que o porto continua operando, e que os corredores de exportação, junto com os berços 212, 213 e 214 seguem embarcando.
“Devido às chuvas, o tempo de espera já está em 44 dias, e a fila de navios voltou a ser organizada por ordem de chegada. Já houve notícias de cancelamentos de compras de soja pelos chineses e isto pode ter colaborado”, afirmou Delera, em seu X, antigo Twitter.
O analista da Agrinvest, Jeferson Souza, confirma este cenário de demora para embarcar grãos em Paranaguá. "O mês de outubro está se consolidando como um dos mais chuvosos para o município desde 1990, o que impacta diretamente na eficiência dos nossos programas de exportação e importação", destacou.
Souza lembrou que na importação de fertilizantes o tempo médio de espera em Paranaguá está em 29 dias. Já em Santos e Rio Grande fica em 10 dias ou menos.
Corretores de soja confirmaram ao AgFeed o cancelamento de cargas de soja por parte dos chineses na semana passada, mas afirmam que o problema não foi a logística e sim o preço do produto norte-americano que ficou mais competitivo que o brasileiro.
“O encarecimento da logística, devido às multas de demurrage (penalidade relacionada ao transporte marítimo e ao afretamento de navios que é cobrada quando o importador ultrapassa o tempo de utilização do container), pode impactar os prêmios de exportação”, completou Delara, da Pine Agronegócio.
Descontos cada vez maiores para a soja brasileira
A expectativa de uma nova super safra de soja em 2023/2024 já vinha pesando sobre os preços.
A soja brasileira desde o início deste ano vem sendo vendida com desconto em relação à bolsa de Chicago, referência mundial para a commodity.
O AgFeed apurou junto à Argus, agência internacional de preços de commodities, que no fim de outubro do ano passado o prêmio da soja em Paranaguá para embarque em abril estava em cerca 60 centavos de dólar por bushel acima do preço de Chicago, no chamado “paper market". Nesta segunda-feira, o mercado indicava desconto ("prêmio" negativo, no jargão de mercado) de cerca de 100 centavos de dólar para a soja a ser embarcada em abril de 2024.
As dificuldades em Paranaguá colaboram para que estes diferenciais fiquem ainda mais negativos, dizem os analistas, além da demanda mais fraca e da grande oferta de soja no mercado brasileiro.
Problemas em outros portos
A dinâmica ruim não se restringe apenas ao porto de Paranaguá, segundo Vlamir Brandalizze, destacando que é um problema nacional.
"No pico da oferta da soja esse ano, que ocorreu em meados de março e abril, navios chegaram a ficar até 75 dias parados para poder carregar, segundo ele, algo que deve se repetir no mesmo momento do ano que vem", afirmou.
Para o analista, “tanto faz se é Santa Catarina, Paranaguá ou Santos, está tudo complicado, e em anos de muita chuva, dificulta ainda mais. Com o atraso no plantio desta safra, a colheita também atrasa, o que vai embolar os próximos embarques ainda com o milho da safra velha”.
Brandalizze acredita que a capacidade portuária brasileira para grãos e farelos deveria dobrar dos atuais 18 milhões de toneladas para atender a demanda, sem problemas. “Há cinco anos, tínhamos os mesmos portos, mas exportávamos metade do que exportamos hoje”, ressaltou.
Traders também têm relatado dificuldades na exportação pelos portos do Arco Norte em função da seca, que restringe a operação em terminais como Miritituba, no Pará.
Em comunicado recente, a Portos do Paraná, que administra o porto de Paranaguá, garantiu que mesmo com as chuvas, que param boa parte dos embarques e desembarques no mês, as metas estão sendo alcançadas.
Ao todo, os portos de Paranaguá e Antonina, administrados pela empresa, tiveram 5,8 milhões de toneladas movimentadas em setembro, entre exportação e importação. Esse foi o melhor resultado para o mês na história dos portos, e ainda foi 23% maior que o mesmo mês do ano passado, quando passaram por lá 4,7 milhões de toneladas.