O Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu 4,9% no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo trimestre do ano passado – ou 1,3% se comparado ao segundo trimestre de 2023, quando a expansão da economia foi de 6,3%.

O resultado superou positivamente as expectativas de economistas. Mas apesar de ser visto com alívio, ainda não elimina incertezas que ainda existem em relação a fragilidades que rondam a segunda maior economia do mundo – e principal parceira comercial do Brasil, responsável por 30% do comércio internacional de nosso agronegócio.

“O ambiente externo continua complexo e grave e a nossa demanda interna permanece insuficiente para sustentar um crescimento mais consolidado da economia”, admitiu o Escritório Nacional de Estatísticas da China, ao divulgar os dados do PIB, na quarta-feira (18), em Pequim.

De fato, a desaceleração da economia chinesa não é uma novidade. E o resultado, melhor que o esperado, entre julho e setembro deste ano, ainda não pode ser considerado o fim de uma fase de incertezas, apesar da série de medidas que estão sendo adotas pelo governo para estimular a economia – e que surtiram efeito na atividade industrial, que cresceu 4,5% em setembro, e no varejo, com vendas 5,5% maiores no período.

“A China ainda tem problemas estruturais”, comenta Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, para quem o governo vem apostando num crescimento mais apoiado em consumo, que gere menos desequilíbrios e que permita o cumprimento da meta de expansão para esse ano, de 5%.

Para Roberto Dumas, mestre em Economia Chinesa pela Universidade de Fudan (China) e professor de instituições como Insper, FIA-USP e Saint Paul Business School, o que o governo chinês tem feito é dar respostas a demandas sociais por meio da economia.

“É importante lembrar que na China, o indicador de vendas no varejo tem uma forte influência do governo e que, portanto, não pode ser considerado como uma retomada do consumo das famílias, como acontece no Brasil ou nos Estados Unidos”, explica.

Dumas lembra que consumo na China representa 40% do PIB, enquanto no Brasil e Estados Unidos essas taxas são de 60% e 70%, respectivamente.

Além disso, a taxa de investimentos em relação ao PIB segue em declínio e a crise do mercado imobiliário trouxe impactos que abalaram não apenas a economia, mas a estabilidade política do presidente Xi Jinping.

“As taxas de crescimento de 14% e 15% não vão se repetir”, afirma Dumas, mencionando que os esforços do governo para estimular a urbanização do país estão agora cobrando o seu preço, especialmente por meio de um contingente de jovens que quer ter oportunidades de trabalho e não consegue. “Crescer 5%, hoje, é bastante para a China”.

A economia da China avançou a uma taxa média de 10% ao ano entre 1990 e 2010, mas vem desacelerando na última década. Em especial nos últimos dois anos, como reflexo da crise imobiliária que atingiu o país.

Ela se alastrou para o setor financeiro e corroeu o nível de poupança e renda, além de causar quebra de empresas e aumento nas taxas de desemprego.

Em setembro deste ano, o desemprego entre jovens de 16 e 24 anos atingiu o recorde de 21,3%. Esse cenário é resultado do forte processo de urbanização vivido pelo país nas últimas décadas e que causou esvaziamento das zonas rurais.

A crise teve um impacto severo na capacidade da China de continuar gerando empregos e riqueza nas cidades, afetando o equilíbrio econômico.

E o Brasil?

“O crescimento melhor da China é um alívio”, disse Claudia, do C6. Parte dos analistas do mercado financeiro interpretam o resultado do PIB chinês como uma reação aos estímulos do governo, o que é positivo também para o Brasil.

De forma geral, todo o comércio entre os dois países tende a se manter e até aumentar nos próximos meses – com exceção de produtos que abastecem a indústria da construção civil, como aço e minério de ferro.

“É sempre uma preocupação para o agro brasileiro algum movimento de desaceleração do PIB chinês, dado que mais de 30% do valor total de exportações tem como destino a China”, afirma Leandro Gilio, pesquisador sênior do Insper Agro Global.

Mas esse não é caso. Ele lembra que análises recentes já vinham mostrando o movimento de desaquecimento da economia chinesa e que um crescimento além do esperado é uma notícia positiva para o Brasil, por sustentar a demanda por produtos nacionais em um alto patamar.

“Para o agronegócio nacional, a China continuará sendo um grande parceiro comercial, com demanda crescente e até ampliação do escopo de produtos exportados”, afirma Dumas. “Sempre teremos algo a mais para vender para eles”.

Um exemplo é a exportação de carne suína. A China passou por uma crise sanitária que acabou com seus estoques de carne de porco no último ano e o Brasil foi um dos países que supriu essa sua demanda.

Recentemente, o país asiático voltou a restabelecer seus estoques e o resultado foi o aumento das compras chinesas de grãos utilizados para alimentar os rebanhos.

“O Brasil não exportava milho para a China e agora exporta”, diz Dumas, lembrando que a quebra de safra dos Estados Unidos abriu espaço para o Brasil, mas que a retomada da produção de proteína suína pelos chineses teve grande influência na abertura desse novo mercado.

E com a economia em recuperação, a tendência é de o Brasil seguir se beneficiando do comércio com os chineses.