Dez entre dez líderes do agronegócio concordam: com o aumento das exigências de tecnologia e a sofisticação de processos em várias áreas, é cada vez mais difícil encontrar profissionais qualificados para atuar no setor.
A concorrência pelos talentos é grande, envolvendo inclusive outros setores. E manter os que já estão nas equipes é, da mesma forma, desafiador.
Com 28 anos de atuação na área, a diretora de Recursos Humanos da Bayer, Flávia Ramos, observa de perto essa questão. Ela é a convidada da coluna neste mês e nos traz importantes reflexões sobre como as empresas devem adaptar-se a esse cenário. Boa leitura:
Como atrair, reter e desenvolver os melhores talentos na atualidade
A transformação no mundo do trabalho está mais acelerada do que nunca e isso já não é novidade para ninguém.
Se somarmos a transformação digital às experiências vividas nos anos de pandemia, constatamos que estamos todos diante de novas formas de trabalhar, aprender e liderar.
Por isso é importante uma pausa para refletir sobre os impactos dessa transformação na atração, desenvolvimento e retenção dos talentos de uma organização. Novos contextos e realidades inevitavelmente trazem novos desafios e necessidades.
Estar atento a esses movimentos, além de flexível para ajustes na estratégia de pessoas, certamente vai aumentar o impacto positivo na experiência dos talentos e, consequentemente um aumento na capacidade de atrair, desenvolver e reter os melhores profissionais para seu negócio.
Eu tenho refletido muito sobre o assunto e me inspirado em pesquisas confiáveis onde eu possa encontrar referencias sobre esse desafio. Compartilho quatro elementos que percebo que fazem toda a diferença na atualidade:
Liderança por visão e propósito
Os talentos querem encontrar uma empresa que compartilhe de valores parecidos com os seus, cuja missão e visão sejam inspiradoras e impactantes.
A relação de trabalho tem deixado de se restringir a um cargo e uma lista predeterminada de responsabilidades: as pessoas buscam em seus vínculos empregatícios uma oportunidade de construir um mundo melhor, com contribuições claras para a sociedade e meio ambiente.
Os talentos demonstram um alto engajamento não apenas com O QUE será feito por eles no trabalho, mas principalmente com O PORQUÊ. Saber liderar por visão e propósito é uma capacidade fundamental dos líderes da atualidade.
Inclusão de diferentes perspectivas e realidades
Que a diversidade é fundamental para a prosperidade das empresas, todos sabemos. Porém você já parou para pensar que tão importante quanto fomentar a diversidade é criar ambientes seguros onde cada pessoa possa trazer sua melhor versão?
A autenticidade é um elemento importante para os talentos da atualidade e precisamos construir ambientes que permitam que as pessoas sejam quem são.
A inclusão de verdade só existe em ambientes repletos de segurança psicológica. E a segurança psicológica só existe em ambientes onde as pessoas se conhecem muito bem e são capazes de se colocar no lugar dos outros, com empatia.
Flexibilidade importa
Com a transformação digital e a fase de isolamento social que vivemos na pandemia, nós desbloqueamos um potencial adormecido nas relações remotas e híbridas.
O trabalho já não é necessariamente um lugar para onde vamos e descobrimos que podemos fazer entregas de alto impacto trabalhando de qualquer lugar.
Porém, somos seres sociais e precisamos de encontros presenciais para partilhar de momentos que importam: um diálogo de desenvolvimento, uma sessão de cocriarão, um momento de fortalecimento de vínculo.
O trabalho já não é necessariamente um lugar para onde vamos. Descobrimos que podemos fazer entregas de alto impacto a partir de qualquer lugar
Tudo isso ganha mais impacto quando é feito com o “olho no olho”. Empresas que tenham a flexibilidade para transitar entre o remoto e o presencial de acordo com a necessidade da situação e do contexto tendem a ter uma apreciação maior por parte dos talentos.
Diálogos e acordos que enderecem tanto as necessidades coletivas quanto as individuais são fundamentais em tempos em que uma única solução não serve para todo mundo.
Organizações baseadas em skills
Provavelmente este elemento seja resultante dos outros três pontos e indica uma tendência importante a ser compreendida por líderes de pessoas e profissionais de RH: se os talentos estão motivados para se engajar em grandes causas sem necessariamente se restringir a um cargo, se buscam ambiente seguro psicologicamente que favoreça a inclusão de diferentes perspectivas e ainda valorizam a flexibilidade corporativa para conciliar necessidades coletivas e individuais, as empresas precisam ser capazes de oferecer novas soluções para o desenvolvimento, carreira e recompensa.
Um caminho factível parece ser as organizações baseadas em skills (competências), onde a moeda de troca de um profissional não é necessariamente seu tempo de experiência, formação acadêmica ou mesmo sua carreira, mas sim os skills que foram adquiridos/desenvolvidos ao longo do tempo.
Imagine um profissional experiente da área comercial no agro: ele pode trazer consigo skills que são valiosos não apenas para marketing e vendas, mas para posições de liderança, supply chain, P&D etc..
Fazer a gestão dos talentos a partir dos skills pode melhorar significativamente a experiência dos talentos, ampliar as oportunidades de impacto positivo no negócio e ainda melhorar a capacidade da empresa de atrair, reter e desenvolver os melhores profissionais.
Flávia Ramos é vice-presidente de RH da Bayer. Possui mais de 28 anos de experiência, formação em administração e é professora associada da Cumbre.
Felipe Treitinger é engenheiro agrônomo , CEO e Fundador da Cumbre, empresa de treinamentos e capacitações para profissionais do agronegócio.