Dentro de três a quatro meses o mercado brasileiro de defensivos químicos pós-patente, também chamados de genéricos, ganha um novo competidor. Os primeiros produtos da indústria paraguaia Agrofuturo devem cruzar a fronteira para um período de testes junto a potenciais clientes no Paraná e, em seguida, no Mato Grosso do Sul.
“O mercado brasileiro é onde toda indústria quer chegar”, afirma, ao AgFeed, Claudio Andrés Pusineri, sócio e presidente da empresa familiar fundada há 28 anos por seu pai e homônimo, doutor em engenharia química.
Nos últimos meses, Pusineri esteve várias vezes no Brasil, prospectando possíveis distribuidores de seus produtos e também empresas interessadas em terceirizar a produção de seus agroquímicos.
A fábrica da Agrofuturo, localizada a 20 quilômetros de Assunção, hoje destina cerca de dois terços de sua capacidade instalada, de 50 milhões de litros anuais, à prestação de serviços de formulação para outras companhias – e essa é uma oportunidade que a empresa acredita poder trazer ao Brasil com sucesso.
Os primeiros passos em território brasileiro têm sido cuidadosos e com a ajuda de gente que conhece bem o mercado local, como o executivo Renato Seraphim, com larga experiência na indústria de proteção de cultivos – foi CEO de empresas como Agro 100 e Albaugh, além de ocupar cargos de liderança em marcas como Bayer, Syngenta e UPL, onde até recentemente atuava como CMO.
Há cerca de dois meses, a empresa recebeu a confirmação dos primeiros registros de seus produtos no País, com foco nas culturas de soja, milho, trigo e cana.
“Entrar no Brasil significa mudar de patamar”, avalia Pusineri. “Um único cliente, com quem vamos fazer testes, já acrescentaria, de início, US$ 5 milhões em pedidos”, revela.
Com receita anual de US$ 65 milhões (mais de R$ 325 milhões) no ano passado, a Agrofuturo já pode se dizer uma multinacional latino-americana. Já atua na Bolívia desde 2013 e na Colômbia desde 2019.
Além disso, enquanto inicia a caminhada no Brasil, também já iniciou processos regulatórios para registros na Argentina, Uruguai e conversas com eventuais parceiros no Chile e no México.
O mapa mundi da empresa também tem pontos assinalados no Egito, na Arábia saudita e em Omã, onde também encaminha registros para entrar com seus produtos para a cultura de algodão.
Segundo Pusineri, a fábrica atual tem condições de atender a todos esses mercados, mas um projeto de expansão já está sendo desenhado para o momento em que empresas brasileiras começarem a demandar seus produtos.
A empresa é dedicada à formulação de inseticidas, fungicidas e herbicidas, mas também tem linhas para a produção de fertilizantes líquidos e granulados e está iniciando estudos para ingressar em biológicos.
Crescimento sem pressa
“Nosso estilo é fazer as coisas passo a passo, sem pressa, e agora não será diferente”, diz, ciente de que a competição, por aqui, é bem mais acirrada de que em outros países.
O empresário paraguaio afirma que a Agrofuturo, em quase três décadas de existência, nunca viveu fases de crescimento rápido, mas tem mantido uma média de avanço “sustentável”, de 10% ao ano.
Mesmo em 2023, quando boa parte da indústria de defensivos tem convivido com quedas de vendas, ele acredita que conseguirá aumentar as receitas em torno de 7%.
“Tem sido um ano difícil para todos, no Brasil, no Paraguai e em outros países, com todo mundo se lamentando”, diz. “Foi menos golpeado quem conseguiu gerir bem os estoques”.
De acordo com Pusineri, foi este o caso da Agrofuturo, em grande parte em função do modelo de negócios baseado nos serviços de formulação. Neste caso, a aquisição própria de matérias-primas fica apenas na casa de 30% a 35%, sendo o restante responsabilidade dos clientes.
A Agrofuturo trabalha sobretudo com médias e grandes empresas, algumas delas multinacionais, segundo o presidente. Ele afirma que são cerca de 100 clientes na carteira, sendo que 15 deles representam mais de 80% das vendas.
A expansão internacional é feita nos mesmos moldes. Dessa forma, diz, é possível entregar o que considera ser um diferencial da empresa: o atendimento direto do corpo diretivo da Agrofuturo, respeitando a cadeia de valor de cada cliente.
“Temos clientes que estão conosco há 25 anos”, diz Pusineri. “Entregamos qualidade, temos quatro certificações ISO, e estamos focados na excelência industrial, deixando aos parceiros a expertise comercial”.
Vantagens competitivas
O empresário considera ainda que sua localização é outra vantagem que lhe permite sonhar em ser uma marca continental. A fábrica da empresa está a 15 quilômetros da fronteira com a Argentina, 400 quilômetros da Bolívia e 350 quilômetros do Brasil.
Para quem compete, nos serviços de produção, com empresas indianas ou chinesas, é um dado relevante. “Temos condições de dar respostas rápidas às demandas e o custo do frete é muito relevante”.
Dentro do Mercosul, a exportação também pode ser feita sem taxas, maximizando os benefícios da produção mais barata no Paraguai, onde a chamada “Lei das Maquilas” reduziu, na última década, a tributação de produtos industriais acabados no país.
“Hoje pagamos cerca de 1% sobre o valor agregado e mais 1% sobre o lucro”, diz. No campo trabalhista, os encargos também são bem mais baixos, ficando na casa de 25% sobre os custos de folha salarial.
Os estudos realizados até agora apontam, segundo Pusineri, que desta forma a Agrofuturo conseguirá oferecer seus produtos no Brasil por valores entre 5% e 25% inferiores aos de similares fabricados aqui. “A diferença é menor nos produtos de maior volume”, diz. “Acaba sendo bastante dinheiro para quem compra”.