O ministro da Agricultura e da Pecuária, Carlos Fávaro, disse agora há pouco em São Paulo que está de prontidão para agir caso seja necessário buscar novas fontes de fornecimento e fertilizantes para suprir uma eventual interrupção de remessas em virtude do conflito entre Israel e o Hamas, no Oriente Médio.

“Estamos dispostos a viajar e buscar alternativas caso o preço suba”, afirmou Fávaro em entrevista coletiva durante o Fórum Bioinsumos no Agro, organizado por entidades do setor como a CropLife, a Sindiveg e a Abisolo, de cuja abertura participou na sede da Fiesp.

Segundo ele, há preocupação de produtores com uma possível alta dos preços, já que, desde o início da guerra na Ucrânia, no início do ano, Israel havia se transformado em uma alternativa para obtenção do produto.

“O Brasil já superou a crise de fornecimento de cloreto de potássio com a guerra da Ucrânia com estratégias de diversificação”, disse o ministro. “Temos alternativa de compra com o Canadá e com a China, algo que começou naquela época”.

Fávaro disse ainda que, em termos econômicos, pode haver um impacto nos preços dos combustíveis, com impacto nos custos de produção de alimentos. “Podemos tratar uma guerra, assim como a da Ucrânia e da Rússia, como oportunidade”, afirmou. “Bioinsumos podem ser uma grande alternativa”.

Porém, ressaltou que tudo isso “é menos relevante quando falamos de vidas”. “Queremos muito a busca pela paz. Sabemos que o conflito se acalorou muito em uma semana. Ninguém pode ser conivente com o terrorismo, mas o governo brasileiro tem agido de forma rápida no resgate e na busca da paz nesse primeiro momento”.

Na entrevista, Fávaro tratou também de outras demandas urgentes de produtores junto ao Mapa, sobretudo os efeitos climáticos e a competitividade dos produtores de leite frente ao produto importado do Mercosul.

Ao comentar a seca que afeta a região Norte, trazendo riscos inclusive para o escoamento da produção através das hidrovias de rios como o Madeira e o Tapajós, Fávaro disse que, no curto prazo, o governo pode agir apenas com medidas paliativas

“Problemas climáticos são cada vez mais constantes e fortes. Em março desse ano levamos caminhão pipa para o interior do Rio Grande do Sul. Em sete meses, temos chuvas lá e seca no norte do país”, afirmou.

Para ele, soluções de mais longo prazo passam por investimentos em infraestrutura, criando alternativas logísticas como as ferrovias que conectam Mato Grosso a portos em diferentes regiões, como Santos, Bahia e Maranhão.

“Não podemos falar que vamos encher os rios para ajudar na navegação, mas o Brasil precisa de uma infraestrutura logística com alternativas e é isso que o presidente quer com o PAC.

Crise do leite

Questionado sobre a crise que afeta os produtores de leite, que perderam competitividade em relação ao produto importado do Mercosul, Fávaro classificou-a como “sem precedentes”, mas disse que políticas implementadas pelo Mapa têm conseguido frear as compras dos países vizinhos.

“Em agosto a importação foi apenas 15% que no ano passado e, em setembro, nada maior. Agora há uma política de recomposição de preço”, disse.

Segundo ele, duas novas medidas devem ser anunciadas em breve para trazer alívio aos produtores: um decreto que incentiva a produção nacional, com isenção fiscal para empresas que compram leite in natura do produtor e fazem o processamento e compras, pela Conab, de derivados de leite para incluir em cestas básicas em programas sociais.

Além disso, Fávaro afirmou que busca, através de um grupo de trabalho criado junto aos ministérios de Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Desenvolvimento Agrário, estabelecer políticas estruturantes para o setor.

“Não adianta só tomar medidas paliativas. Sabemos que a cultura do leite é importantíssima e com diferenças gritantes de tecnologia”, disse.

“Temos produtores que usam robôs para ordenhas e temos produtores que levantam à 4 horas da manhã, sentam no banquinho para tirar leite de três ou quatro vacas. Essa diferença de tech precisa ser tirada com tecnologia, desenvolvimento, treinamento e com investimento nos produtores”, completou.