Ocupar cargos de liderança, cadeiras em conselhos e até a presidência de grandes companhias é algo cada vez mais comum para as mulheres no Brasil. Mas apesar do avanço recente, a presença feminina ainda é menor do que a masculina, especialmente no agronegócio.

Um levantamento feito pela Talenses Group, que está entre as dez maiores do segmento conhecido como "executive search”, mostra um pouco desta realidade.

Se considerados os diferentes segmentos das 750 empresas atendidas pela consultoria, as mulheres em conselhos, por exemplo, representavam 10% em 2017 e passaram este ano a ocupar 21% das posições.

No cargo de vice-presidente, o avanço foi de 18% para 34% no mesmo período. A consultoria não fez um recorte específico para o agronegócio nestes altos cargos por ainda não ter “uma amostra expressiva”.

Nas lideranças gerenciais das companhias do agronegócio os números da Talenses mostram que as mulheres representavam 22% em 2017 e agora são 35%.

"É um percentual que está crescendo e já não fica mais tão discrepante em relação à média do mercado como um todo", disse Alexandre Benedetti, cofundador do Talenses Group, em entrevista ao AgFeed.

Apesar de crescer, quando se considera as lideranças gerenciais no universo total de clientes – não apenas agro – a consultoria estima que 43% são mulheres, ou seja, ainda 8 pontos percentuais acima.

"É possível dizer que o avanço das mulheres em posições de liderança no agronegócio chegou mais tarde, demorou mais para acontecer", avalia Benedetti.

Um ponto positivo a ser destacado no agronegócio é a maior presença feminina em áreas que antes contavam com poucas mulheres, como o setor de vendas.

Entre as líderes femininas contratadas pela Talenses no último ano, 30% foram destinadas à área comercial e 20% para times administrativo e financeiro. Também chamou a atenção o fato de 14% das lideranças na área de tecnologia terem sido mulheres contratadas

"RTV mulher antes era muito difícil, agora situação já mudou", ressalta o executivo.

Equipes de vendas nas companhias do agronegócio costumam não apenas morar em cidades do interior, mas também percorrer longas distâncias para visitar os clientes nas propriedades rurais.

A rotina de viagens e contato com uma maioria ainda masculina à frente das fazendas eram considerados empecilhos ao avanço das mulheres nesta área, o que já vem mudando.

Os dados da pesquisa da Talenses se referem aos clientes que são principalmente grandes empresas, como tradings, usinas de etanol e açúcar e cooperativas.

Benedetti acredita que para que a presença feminina siga acelerando "é ter políticas claras, estruturadas sobre isso e ter a intenção genuína para que esse mundo diverso aconteça”.

Um passo importante, segundo ele, é justamente ter mais mulheres no topo da pirâmide, onde está a tomada de decisão, o que acaba se multiplicando.

"Já percebemos uma maior conscientização dos executivos, que estão investindo mais tempo em treinar e comunicar sobre este assunto”, acrescentou.

e qualquer forma, o sócio da Talenses destaca que há outra dificuldade, que começa na base, já que ainda faltam nas universidades mais mulheres em áreas como engenharia e tecnologia da informação, onde ainda há oportunidades de avanço nas empresas.

Sobre o comportamento do mercado de trabalho em 2023, o executivo afirma que, assim como os principais segmentos do agro, há uma expectativa de estabilidade, depois de vários anos em alta, o que deve ocorrer com o próprio faturamento da Talenses, que não é divulgado. O agronegócio hoje representa cerca de 15% da receita do grupo.