A gigante mundial de petróleo e gás Chevron já está produzindo 450 milhões de galões (o equivalente a 1,7 bilhão de litros) de biocombustíveis, disse ao AgFeed o presidente do braço de energia renovável do grupo, Kevin Lucke.
Um terço deste volume utiliza os óleos de canola e de soja como matéria-prima, segundo o executivo do Chevron Renewable Energy Group. Ele destaca o uso crescente de gorduras animais, como sebo bovino e do óleo de milho, oriundo da produção de etanol, “mas a quantidade de cada um deles varia muito, vai dependendo dos preços e das condições de mercado”.
Lucke esteve recentemente no Brasil. Falou para uma plateia de agricultores brasileiros em evento promovido pela Orígeo, joint-venture que reúne Bunge e UPL.
A Chevron também é parceria da Bunge, mundialmente, com foco justamente na produção de biocombustíveis. Portanto, a vinda ao Brasil, uma das maiores operações de originação de grãos da trading americana, é sempre uma oportunidade para ir além de uma mera apresentação.
A América do Sul já está, definitivamente, no mapa dessa parceria. No movimento mais recente, concretizado em junho deste ano, as duas empresas adquiriram a companhia argentina de produtos agrícolas Chacraservicios, focada no cultivo de camelina, uma cultura com alto teor de óleo que é vista como alternativa para a demanda cresceste por matérias-primas renováveis em biocombustíveis.
"A camelina cresce melhor na Argentina, se considerarmos as condições climáticas, o Brasil é quente demais para este cultivo, embora”, disse Lucke ao AgFeed.
O executivo admitiu, no entanto, que regiões do Sul do Brasil, com clima mais adequado, também têm potencial para ampliar a produção de camelina, que também pode ser um segundo cultivo, e o mercado poderá olhar para isso. Evitou, no entanto, comentar sobre novos investimentos da empresa na cultura.
Além da camelina e da canola, ele também citou a carinata como outra oleaginosa com potencial para ser utilizada na produção de óleo e biocombustíveis.
Ao mesmo tempo, Lucke prevê maior demanda mundial pela soja brasileira já que "o anunciado aumento de capacidade de esmagamento nos Estados Unidos ocorre em função dos biocombustíveis, o que aumenta a procura no mercado interno e reduz a disponibilidade de exportação norte-americana".
Neste cenário, o executivo da Chevron destaca que o "Brasil já está suprindo esta necessidade e continuará atendendo ainda mais, à medida que continua a expandir sua produção de soja”.
“Então, a minha mensagem é que isso abrirá mais mercados de exportação para o Brasil".
A própria Chevron vai consumir mais produtos do complexo soja oriundos do Brasil? Kevin Lucke afirma que ainda há desafios em relação à rastreabilidade e registros necessários desde a fazenda, considerando o atual cenário de maior foco na agricultura de baixo carbono.
"Ainda não estamos usando o óleo de soja do Brasil trabalhando com a Bunge, mas no futuro, se conseguirmos um caminho, isso poderia acontecer”, disse.
A expectativa é de que a Chevron siga usando, além das matérias-primadas produzidas nos Estados Unidos, óleos importados de outros países, como o óleo de cozinha usado e o sebo bovino, que já são comprados de mercados como Brasil, Argentina e Austrália.
"Nos EUA, nos últimos dez anos, o óleo de cozinha era usado e jogado fora, nos restaurantes, ia tudo para o ralo. Isso foi mudando e agora empresas recolhem o óleo de cozinha e vendem para companhias como a Chevron, para produzirem biocombustíveis”, diz.
“Vejo a mesma coisa acontecendo em lugares como o Brasil, onde a coleta de óleo de cozinha usado está apenas começando e continuará a crescer como fonte de matéria-prima para nós e para outros produtores de biocombustíveis", destaca.
Essa busca constante por matérias-primas tem uma explicação. A Chevron tem uma meta de atingir uma produção de 100.000 galões (378 mil litros) por dia de combustíveis renováveis até 2030.
Para chegar lá, a companhia já anunciou, por exemplo, um investimento de US$ 1 bilhão para expandir uma biorrefinaria em Geismar, no estado americano da Louisiana.
Parceria com a Bunge no baixo carbono
O primeiro negócio conjunto entre Chevron e Bunge ocorreu há três anos. Na ocasião, em conjunto também com a Bayer, de sementes, decidiram investir em uma startup dos Estados Unidos chamada CoverCress, que oferecia um cultivo de cobertura, de baixo consumo de insumos, capaz de ajudar no processo de melhorar a saúde do solo e armazenar carbono.
Em 2021, Chevron e Bunge criaram uma joint-venture com foco na produção de energia renovável a partir de esmagamento de sementes de oleaginosas, concentrada nos Estados Unidos.
Somente este ano foi anunciado o primeiro negócio das duas empresas na América Latina, com o investimento em camelina, na Argentina.
"A Bunge é muito importante globalmente, número 1 em processamento de oleaginosas, por isso continuaremos crescendo junto com eles sempre que algum negócio fizer sentido para as duas empresas, o que pode ser nos Estados Unidos, no Brasil, ou em qualquer outro país do mundo", diz o presidente Chevron Energy.
O executivo diz que "não há planos específicos para o Brasil com a Bunge, mas isso pode mudar e poderemos ter no futuro se ambos concordarem", lembrando que a trading já tem levado soja brasileira para esmagar nas plantas norte-americanas.
Lucke concorda que, para avançar na agricultura de baixo carbono, será necessário não apenas garantir as certificações necessárias, mas também buscar uma remuneração aos agricultores que adotem estas práticas.
"Será necessário um processo em que os produtores, a Bunge e a Chevron se unam para, em última análise, serem capazes de criar mais valor para os agricultores", afirmou.