O boi circula pelo curral e, enquanto isso acontece, um computador conectado à Inteligência Artificial identifica seu ganho de peso diário – e se ele já está pronto para ir para o abate. Esse mesmo gado, ao caminhar no pasto, é monitorado por um aplicativo que identifica se ele está na sombra ou no sol.

O bem-estar animal é calculado a partir do ritmo do batimento cardíaco, respiratório e da temperatura da pele.

Essa é a realidade do gado que circula na Fazenda Modelo da Embrapa Gado de Corte, localizada em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. A unidade é um dos locais onde a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária tem feito alguns dos experimentos que usam Inteligência Artificial.

Há ainda pesquisas com outras unidades da Embrapa, voltadas para produção de frutas, piscicultura e para apoiar culturas como soja e cana-de-açúcar.

“Temos uma série de projetos em andamento que usam Inteligência Artificial e Big Data, que visam desenvolver tecnologias que ajudem de forma mais objetiva a identificar e tratar doenças, além de otimizar custos de produção, seja na agricultura, na piscicultura ou no manuseio de pastos”, afirma Stanley Robson de Medeiros Oliveira, chefe-geral da Embrapa Agricultura Digital, sediada em Campinas.

Todo o processamento e a análise dos dados da fazenda de Campo Grande, onde está o experimento com gado, são realizados na sede da Embrapa Digital, em Campinas. “Os alertas chegam pelo celular a cada 10 minutos. O agricultor não precisa estar na fazenda para monitorar o rebanho”, diz.

Essa é uma tecnologia que está ainda fase de testes e experimentação. Ou seja, ainda não foi lançada no mercado. Ela está rodando graças a uma parceria da Embrapa com a fabricante de equipamentos eletrônicos chinesa Huawei, com suporte do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD).

Um dos desafios para que entre em operação em grande escala é o custo. Para ter os dados coletados e analisados pela IA, o gado ganha um colar eletrônico que custa cerca de US$ 100 por animal.

Hoje, esse equipamento é feito por uma empresa do Mato Grosso do Sul. “O próximo passo é reduzir os custos para começarmos a testar em outras unidades e em produtores com escala e capazes de captar os benefícios da tecnologia”, afirma.

Outro uso da IA tem sido para aperfeiçoar a fruticultura de precisão. Ela já vem sendo implementada no cultivo de laranja, onde robôs com Inteligência Artificial e visão computacional são capazes de calcular, a partir de imagens coletadas por drones, quantas maçãs e laranjas cada árvore produziu, se todas estão no ponto de colheita e o tamanho – para estimar a quantidade de frutos.

O mesmo uso tem sido feito no cultivo de uvas, com a IA sendo capaz de estimar o peso dos cachos a partir de análise 3D, na qual o robô faz a contagem das frutas sem tocar – processo antes era feito de forma manual.

“Essa é uma tecnologia que apresentamos recentemente ao governo do Canadá, que se interessou em adotá-la para aplicar nas plantações de maçã e cerejas”, explica Stanley, da Embrapa, lembrando ainda do uso da IA para identificar, catalogar e tratar doenças que afetam essas culturas.

No caso do controle de pragas, num primeiro momento, a imagem é analisada por fitopatologistas que identificam quais são as pragas fotografadas para reinar os modelos baseados em IA para detecção de doenças em estágio precoce.

Essa informação fica armazenada no Data Center da Embrapa Agricultura Digital, que vai reunindo mais dados e informações, os processa com o objetivo de fazer a análise e a identificação do problema, com recomendação de tratamento, quase que em tempo real.