“Nunca na história do agronegócio aconteceu um evento como esse”. Com essa frase, sem falsa modéstia, o co-presidente global de Agribusiness da Bunge, o argentino Julio Garros, definiu a fusão da sua empresa com a suíça Viterra, anunciada há pouco mais de um mês -- um negócio estimado em US$ 18 bilhões.
Foi a primeira vez que ele falou publicamente sobre a transação – e desta vez, para um público especial: cerca de 600 grandes produtores rurais brasileiros, reunidos em são Paulo para um evento promovido pela Orígeo, jointe-venture da Bunge com a fabricante de insumos indiana UPL.
Garros usou os cerca de 10 minutos de sua apresentação para resumir os grandes números envolvidos e, sobretudo, os benefícios que vislumbra para o que chamou de “nova Bunge” – que só existirá, como bem lembrou, após a aprovação por autoridades regulatórias em cerca de 40 países, inclusive o Brasil.
Ele acredita que isso só acontecerá em meados de 2024. Até lá, disse, Bunge e Viterra continuam concorrentes, atuando de forma independente.
A ideia dessa “combinação de dois gigantes”, conforme disse, “é construir a melhor companhia do agronegócio do mundo”, criando uma empresa capaz de atuar em todos os principais mercados e culturas.
Ele apresentou um gráfico apontando a complementaridade das operações de Bunge e Viterra. Enquanto a primeira – maior processadora de oleaginosas do mundo – é uma potência na soja, milho e canola, com protagonismo em países como Brasil, Argentina e Estados Unidos, a Viterra é líder em trigo, cevada e algodão.
“Sempre me perguntavam aqui no Brasil: ‘Argentino, quando vocês vão entrar em algodão?’ Aqui está resposta”, brincou. “A Viterra nos completa o portfólio de produtos. Vamos participar em todas as culturas agrícolas, até mesmo lentilhas e outros que não consigo nem pronunciar”.
Segundo Garros, a fusão permitirá à empresa ter a escala necessária para enfrentar desafios crescentes para as grandes traders de commodities.
“Se você acredita em agricultura de baixo carbono, se acredita na importância de estar perto do produtor rural e de todos os clientes nos diferentes cantos do mundo, você tem de ter uma companhia com uma abrangência suficiente, com uma capilaridade absoluta. Essa é a explicação para a transação entre Bunge e Viterra”, disse.
Segundo Garros, somadas as duas companhias teriam “capacidade e abrangência total, perfeita, com volumes absurdos”. Em números atuais, seriam mais de 230 milhões de toneladas de commodities agrícolas movimentadas por ano – antes de sua fala.
“Acreditamos muito que a nova Bunge vai ter a escala suficiente para ajudar todos vocês a fazer as práticas regenerativas e a descarbonizar as cadeias de valor, ajudar a todos os clientes a comprar e fornecer matérias primas renováveis”, disse. “Vamos ter fluxo de caixa e escala suficiente para fazer isso”.