“Cinquenta anos em cinco”. O lema adotado pelo mineiro Juscelino Kubitscheck para sua gestão como presidente da República marcou um período de avanço econômico e transformação do país no fim dos anos 1950.
Ainda hoje, inspira o grupo Uby Agro, instalado há 38 anos em Uberaba, no Triângulo Mineiro. “Acelerar 50 anos em cinco era o que queríamos”, afirma Fabrício Simões, presidente da Ubyfol, principal companhia do grupo e uma das líderes do mercado nacional de produtos para nutrição vegetal. “Daí termos batizado nosso plano estratégico como Plano JK”.
Isso foi em 2020. Agora, o JK passa por uma revisão, que avalia os sucessos – e o que não deu certo – na rota traçada em 2020. E já indica novos caminhos para manter o ritmo acelerado, que tem garantido crescimentos a taxas de 40% ao ano à empresa.
“Em cinco anos, projetamos faturar R$ 1,5 bilhão”, afirma. Isso representa dobrar a receita atual. “E esse crescimento vai acontecer de forma orgânica, através de inovação, renovação do portifólio e melhor acesso comercial, mas também inorgânica, com aquisições”, disse ao AgFeed.
A visão do executivo é clara. A Ubyfol atua em um mercado que possui mais de 450 empresas ativas, segundo estimativas da Abisolo, associação que representa a indústria de fertilizantes e outros produtos de nutrição vegetal. Anualmente, elas faturam cerca de R$ 22 bilhões no segmento de fertilizantes e outros R$ 16 bilhões em outros nutrientes.
“É um ambiente propício para um processo de consolidação”, analisa. “Vamos atuar como um dos consolidadores, com um radar de empresa de M&A”, afirma, usando a expressão que resume fusões e aquisições (mergers and aquisitions, em inglês).
O Plano JK está em curso e foi responsável por uma grande mudança organizacional na empresa. A própria criação da holding Uby Agro é um exemplo disso. Até 2020, a empresa era apenas Ubyfol, mas a necessidade de crescer e de incorporar diferentes negócios dentro da estratégia exigiu um planejamento patrimonial que permitisse que eles convivessem de forma organizada dentro de um grupo.
“A holding foi criada para estruturar crescimento e aquisições”, explica Simões. Com essa nova formatação, a Ubyfol se preparou também para encarar outros concorrentes na corrida da consolidação do setor.
Entre as cinco grandes do segmento, é a única, por exemplo, de capital fechado. Por enquanto. “Um IPO está na mesa”, admite o executivo. “É uma grande tese, pensando em uma abertura de capital para tracionar tudo isso, e já estamos preparados do ponto de vista de modelo societário, de governança e de gestão financeira”, garante.
Segundo ele, a Ubyfol investiu cinco anos na modelagem da estruturação societária, a fim de acomodar os interesses dos atuais sócios no processo de expansão e da eventual entrada de investidores.
O caminho não é único, nem exclui outras possibilidades para atrair capital para financiar o crescimento previsto no Plano JK. A Ubyfol possui relacionamento consolidado com o mercado de capitais, mantendo uma área específica para a estruturação de operações financeiras, já com experiências bem sucedidas na emissão de debêntures, CRAs e FIDCs, por exemplo.
“Temos sido criativos nesse relacionamento com o mercado financeiro”, afirma. “Para as aquisições, podemos fazer operações via equity ou dívida. Quando o momento chegar, vamos olhar o tamanho do cheque para definir como fazer”.
A trilha da inovação
Outros pontos importantes previstos no Plano JK – e executados com sucesso nesses últimos anos – eram o redesenho das estruturas comerciais, com objetivo de permitir a expansão geográfica e a ampliação das formas de acesso a clientes, e a implantação de um projeto claro de inovação.
Na área comercial, o time de campo cresceu de 80 para 200 profissionais e novos segmentos de negócios foram incorporados. A estratégia de produtos tem sido repensada permanentemente, com reforço nas posições em cana (na qual é líder), soja e milho. Novas frentes estão sendo criadas para a ocupar espaços em hortifrutis, citros e café, culturas em que a empresa ainda não tem participação relevante.
O maior passo dado nesse período foi a entrada no mercado de insumos biológicos. “Os mercados de nutrição e o de biológicos são bastante complementares”, afirma Simões.
A empresa estudava o setor desde 2019, quando percebeu que haveria uma demanda crescente por essa categoria de insumos agrícolas. O primeiro passo para a entrada foi a aquisição de uma área de 35 mil metros quadrados ao lado da fábrica da Ubyfol, em Uberaba.
A partir de então, foram investidos R$ 100 milhões na construção de uma biofábrica que, segundo Simões, está atualmente entre as mais modernas do País, além de contratação de times especializados e na elaboração de um portifólio de produtos integrado às soluções na área de nutrição de plantas.
Em março passado, a Uby Agro lançou oficialmente a Vitales, sua empresa de biológicos. De acordo com Simões, a ideia é posicioná-la, no estilo JK, como uma das cinco primeiras do segmento em cinco anos, atingindo uma receita de R$ 500 milhões.
“Temos uitas sinergias com as outras áreas e com isso podemos dar um primeiro impulso importante a partir de mais de 800 clientes ativos”, diz. Times dedicados nas áreas comercial e de tecnologia estão sendo formados, mas, segundo o presidente, estarão sempre em contato com as equipes da Ubyfol. “Buscaremos sinergias, mas com agendas distintas”, diz.
A diversificação também levou à criação de uma empresa de logpística, a Allas, essa uma spin off de um projeto interno e que consumir investimentos bem menores, de R$ 3,5 milhões.
A empresa já é resultado da jornada de inovação iniciada há três anos pelo grupo e que tem se intensificado nos últimos meses, com o lançamento do Moon Hub, em Uberaba. Parceria com o AgTech Garage, plataforma de inovação aberta hoje controalada pela consultora PwC, e com a prefeitura de Uberaba, o hub foi inaugurado no final de julho como um ambiente de convivência entre grandes empresas e startups do agronegócio.
A iniciativa foi gestada durante cerca de dois anos de presença da Ubyfol na sede do AgTech Garage em Piracicaba. “Nosso foco era entender como um ecossistema de inovação vai operar e como se apropriar dessa inovação nas várias áreas da empresa”, diz Simões.
Paralelamente, a empresa criou um comitê interno para o tema, a fim de iniciar a criação de uma cultura de inovação que permeasse as diversas áreas da companhia. A ideia, segundo o CEO, era gerar condições para não apenas estimular novas ideias, mas “não matar a inovação dentro da empresa”.
Há cerca de um ano, a Ubyfol levou ao Garage a proposta de levar o modelo para Uberaba. E depois procurou a prefeitura. Desenhava-se, assim, um modelo tripartite. A Ubyfol entrava como principal patrocinadora, o Garage com a gestão e o município com a estrutura física, um prédio que estava sem uso dentro do parque tecnológico da cidade. O investimento da empresa foi de R$ 3,5 milhões no retrofit do prédio.
“Uberaba é o portal do Cerrado”, diz Simões. “Temos aqui as condições de gerar algo relevante para a produção agropecuária brasileira e achamos que o modelo ideal seria de inovação aberta. Não vamos sozinhos”.
No hub, além de levar as principais dores da empresa para o ambiente de startups, a Uby Agro vai observar mais de perto potenciais alvos de investimentos. “Temos a oportunidade de fazer uma ponte dessas startups com nosso time de desenvolvimento, caso identifiquemos algo que não está no nosso radar direto”, afirma.
Além disso, a empresa pretende usar o ambiente do hub para desenvolver projetos específicos com clientes especiais, como grande usinas, cooperativas e produtores de soja e algodão, por exemplo.
Daqui também podem sair aquisições. Simões revela que já há conversas adiantas para investimentos em pelo menos três delas, sendo que uma já teve aporte alocado e deve ser anunciada nas próximas semanas. “É um investimento relativamente grande, com contrapartida de equity também grande”, adianta.