Há quatro anos, Fabrício Pezente, CEO da fintech Traive, estreava no Congresso da Andav. Na ocasião, subiu ao palco foi falar sobre o negócio emergente das agfintechs, startups que buscam a digitalização dos processos que envolvem o crédito rural, e apresentar a empresa que tinha lançado pouco tempo antes.
Nesta terça-feira, 9 de agosto, ele e a Traive estão de volta ao evento. Pela primeira vez como expositores. “Fizemos o maior investimento em marketing da nossa história”, afirma Pezente. “Vou poder mostrar o que aconteceu com aquela ideia que apresentei anos atrás”.
A Traive que se expõe na Andav é uma empresa em franca evolução. Nas vésperas da abertura do evento, Pezente antecipou ao AgFeed uma série de novas funcionalidades que devem ser incorporadas a partir de agora no sistema de análise de risco com base em inteligência artificial, que interliga as revendas de insumos ao mercado de capitais e que se tornou o principal produto da agfintech.
“O que estamos trazendo é uma superatualização do produto”, diz o empreendedor. Várias das inovações incorporam novos módulos e interfaces para os usuários do sistema, os analistas de crédito das revendas. Algumas delas, segundo Pezente, devem causar impacto em um mercado cada vez mais concorrido.
A grande aposta do momento na Traive atende pelo nome de Travis. Trata-se de um “robô de inteligência artificial para interação com analistas”, na definição de Pezente.
A ferramenta foi ajustada nos últimos meses para funcionar com um modelo semelhante ao Chat GPT, mais popular sistema do gênero no mundo. Pezente garante, no entanto, que o modelo proprietário da Traive tem diferenças que tornam o Travis mais eficiente e amigável na realização das suas tarefas.
“A gente desenvolveu um sistema calibrado junto com os analistas, para entregar um parecer de crédito a partir de modelagem específica”, diz. “Ensinamos a máquina a se comunicar como se fosse um analista de crédito”.
De acordo com Pezente, o principal diferencial está no conteúdo das interações, , em como o texto entrega a inteligência a partir da análise das informações de um produtor em busca de crédito. “O analista vai poder perguntar ao Travis por que esse produtor teve determinado escore. E o robô usa a inteligência para explicar”.
A evolução do Travis permitirá que o analista de uma revenda faça perguntas específicas, em pontos mais sensíveis, como qual o fator de risco mais importante para determinado produtor. “O Chat GPT não tem essa inteligência”, afirma Pezente.
Outro importante lançamento da Traive na Andav será a integração do sistema com as demandas do mercado de capitais, que permitirá ao analista de crédito das revendas entender, no momento da aprovação de uma operação, que fundos ou bancos estariam dispostos a “comprar” esse crédito.
Segundo Pezente, trata-se de uma funcionalidade muito impactante para os donos das revendas, que estão preocupados com o fluxo de caixa.
Alimentada tanto pelas informações das revendas quanto com as do mercado de capitais, a plataforma da Traive permitirá o cruzamento das políticas de crédito de um lado com os critérios de elegibilidade de outro. Havendo um match, as revendas serão automaticamente notificadas de que há demanda por esse crédito. E, então, decidir se e com quem negociá-lo.
“Vejo isso como uma ferramenta comercial para as revendas, que poderão perceber até mesmo que podem vender mais porque haverá mercado para os créditos concedidos”, avalia Pezente.
Um passo antes, a plataforma já poderá aprovar automaticamente o crédito de um produtor que cumpra os critérios indicados pelas revendas, em outra nova funcionalidade disponibilizada no sistema.
Ainda do lado do produtor rural, está sendo lançada a pré-qualificação automática a partir do CPF. Inserido no sistema, o dado puxa todas as informações disponíveis de seu titular. Para aquelas que não estão disponíveis – como a área e a cultura a serem plantadas – há um modelo de inferência, que analisa histórico de anos anteriores para inserir uma previsão que permita a pré-qualificação.
Dessa forma, bancos e revendas podem traçar cenários e indicar prospecções dentro de suas bases. “Já temos clientes usando essa funcionalidade, com avaliação bem positiva”, diz.
Além de CPFs, a Traive incorporou uma ferramenta voltada para a análise de demonstrações contábeis (DRE) das revendas. “A plataforma agora pode fazer uma leitura automática das DREs e as transforma em índices financeiros”, explica Pezente. “Vamos ter muito analista de crédito chorando de felicidade quando vir isso”, brinca.
Dinheiro à disposição
Pezente espera sair da Andav com novos contatos e contratos, ampliando uma base de clientes que já cresceu quatro vezes de janeiro até aqui. “Devemos fechar o ano com 100 clientes usando o sistema, prevê. Grandes grupos como Syngenta, Belagrícola e Basf já estão entre eles.
O empreendedor pretende aproveitar o evento para também conferir a demanda para a emissão de um novo CRA em dólar, prevista para outubro próximo.
Pezente afirma já ter, do lado de investidores, cerca de US$ 120 milhões prontos de investidores europeus para colocar recursos em produtores brasileiros – mais especificamente do Cerrado e com excesso de reserva legal.
A aproximação com esses investidores aconteceu durante recente road show realizado por agtechs brasileiras pela Europa, com organização da embaixada do Brasil em Londres. Lá, a Traive apresentou outro CRA, realizado no ano passado, em que foram levantados US$ 11 milhões.
“Esperávamos buscar US$ 30 milhões desta vez, mas houve demanda para US$ 120 milhões”, afirma. “Dificuldade não é dinheiro, mas achar produtor com a característica específica”, afirma.
Além disso, garante, voltou do tour com investidores interessados também em participar de uma rodada para investimento na própria Traive, que pode acontecer ainda este ano.