Somente 9% das fazendas que produzem leite no Brasil utilizam algum software para fazer a gestão de suas propriedades e do gado. A grande maioria lança mão de planilhas de Excel ou da velha dupla caneta e caderno.
O diagnóstico, feito pela empresa americana VAS, é um indicativo do potencial de mercado que ela passa a disputar. Em desembarque no Brasil, a companhia espera ver o seu software de gestão, desenvolvido especificamente para produtores de leite, rodando em pelo menos 300 propriedades rurais ainda neste ano.
“Poderíamos até começar com mais fazendas, mas queremos implementar um serviço de qualidade”, afirma Tiago Ferreira, gerente de Operações da VAS Brasil.
A perspectiva de que a VAS poderia começar com mais força no Brasil vem da base de clientes de outras duas empresas da mesma holding que a controla, a Urus. Fazem parte do grupo duas marcas conhecidas do segmento, a Alta Genetics e a Genex, que oferecem serviços de melhoria genética bovina. Elas têm 20 mil e 6 mil clientes, respectivamente. Além disso, o Brasil tem mais de 600 mil fazendas voltadas à produção de leite.
As duas companhias “irmãs” vão atuar na distribuição dos softwares pertencentes à VAS, sendo o principal deles o DairyComp. Alguns grandes fazendas brasileiras, como a Fazenda Colorado, dona da marca Xandô, com um rebanho de mais de 2 mil vacas leiteiras, já utilizam o serviço.
No Brasil, a VAS também vai oferecer a MyDC on PULSE, que é uma evolução do DairyComp com gerenciamento da propriedade e do rebanho em nuvem, podendo ser utilizado inclusive em celular.
Segundo Ferreira, os serviços serão oferecidos aos produtores em um modelo de assinatura mensal, com custo entre R$ 1,50 a R$ 2 por vaca, a depender do tamanho do rebanho.
“É um software muito acessível, e nós calculamos que um aumento de 0,5 litro de leite por vaca na produção já paga o custo do serviço”, diz Ferreira.
Segundo Guido Kinds, gerente de desenvolvimento de negócios da VAS, o Brasil é o primeiro país a receber o MyDC, além dos Estados Unidos.
“Nós estamos em outros países emergentes e os produtores no Brasil são muito mais abertos e demandam avanços tecnológicos. Os grandes grupos aqui têm mentalidade mais próxima dos fazendeiros americanos”, conta Kinds.
Neste sentido, os executivos presentes na apresentação da VAS Brasil acreditam que o mercado de pecuária leiteira está em transformação.
“A tendência global – e no Brasil deve ser assim também – é de termos grandes grupos e pequenos produtores. As fazendas de médio porte terão que crescer ou serão absorvidas pelo mercado”, afirma Sergio Saud, diretor da Genex.
Isso acontece simultaneamente à melhora da produtividade. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rebanho de vacas leiteiras no País caiu de mais de 25 mil cabeças em 2000 para cerca de 16 mil em 2021. No mesmo período, a produção cresceu de menos de 20 bilhões de litros para mais de 35 bilhões de litros.
Gigante global
A Urus, holding que controla a VAS, é uma empresa com faturamento anual de US$ 550 milhões. A empresa tem sede nos Estados Unidos, mas foi fundada pela família holandesa Pon, que possui várias companhias voltadas ao agronegócio.
A Urus tem mais de 2,4 mil funcionários distribuídos por 80 escritórios em 17 países. São 15 milhões de animais gerenciados na plataforma Pulse, e mais de 30 milhões de doses de semen vendidos por ano.
“Nós atuamos em 60% das fazendas de produção de leite nos Estados Unidos e atendemos todos os tamanhos, de 10 a 100 mil vacas”, conta Kinds.
Ele afirma que o mercado de leite está passando por um momento desafiador por todo o mundo, com preços em queda. “A guerra na Ucrânia trouxe uma camada de dificuldade a mais em um cenário que já apresentava dificuldades”, diz o executivo.
Por isso, ele acredita que a profissionalização da gestão das fazendas se torna cada vez mais relevante. “Nos momentos de queda de preços, é importante que o produtor controle aquilo que pode controlar, que é a produtividade, e a qualidade do leite”.