Menos fazendas com áreas maiores: esse é o mundo projetado por um estudo feito na Universidade do Colorado para o ano de 2100. O trabalho, recém-publicado, prevê que o número de propriedades rurais em todo o planeta diminuirá das atuais 616 milhões para 272 milhões até o final do século, trazendo imensos desafios ao nosso sistema alimentar.
Os pesquisadores traçaram essa perspectiva tendo como base dados globais do segmento e do PIB mundial desde 1969. E concluíram que um dos motivos da redução reside em um processo de consolidação de negócios agropecuários, o que deve fazer com que praticamente dobre o tamanho médio das fazendas.
O levantamento, que foi conduzido pelo pesquisador Zia Mehrabi, professor de estudos ambientais na universidade, mostrou que enquanto Europa e a América do Norte verão um declínio relativamente constante no número de fazendas, a América Latina e o norte da África passarão de um período de criação de fazendas para um período de consolidação ao redor de 2050.
A razão para tudo isso, segundo Mehrabi, é um crescimento econômico geral nas economias mundiais. Na lógica do professor, conforme um país se fortalece economicamente, mais pessoas partem do campo para as cidades.
Assim, com menos pessoas capazes de cuidar das terras rurais, o declínio do número de fazendas e a concentração em áreas maiores deve ocorrer. O problema principal é o efeito no suprimento de alimentos, já que fazendas grandes não possuem tanta biodiversidade e geralmente focam o cultivo em poucas culturas.
“Fazendas menores normalmente têm mais biodiversidade e diversidade de culturas, o que as torna mais resistentes a surtos de pragas e a choques climáticos”, disse o professor em um comunicado oficial no site da Universidade do Colorado.
Além disso, com menos donos de terras e a automatização do agronegócio, menos conhecimento deve ser passado de geração em geração.
O declínio nas fazendas já está ocorrendo em algumas regiões, segundo aponta o estudo. Nos EUA, por exemplo, o número de propriedades vem caindo lentamente desde a década de 1980. Em 2022, havia 2 milhões de fazendas registradas em todo o país, uma queda de 200 mil frente ao visto em 2007.
“Atualmente, temos cerca de 600 milhões de fazendas alimentando o mundo e elas carregam oito bilhões de pessoas em seus ombros”, disse Mehrabi.
“Até o final do século, provavelmente teremos metade do número de agricultores alimentando ainda mais pessoas. Precisamos pensar em como podemos ter sistemas de educação e apoio para apoiar esses agricultores”, concluiu.
Nem tudo é negativo, porém, no processo de consolidação de fazendeiros. O trabalho mostra que esse movimento pode levar a uma maior produtividade do trabalho e crescimento econômico com uma força de trabalho maior em empregos não agrícolas e sistemas de gestão aprimorados.
De acordo com o pesquisador, um dos maiores benefícios da consolidação agrícola é a melhoria das oportunidades econômicas para as pessoas e a capacidade de escolher sua própria carreira fora do setor agrícola.