No processo de evolução de uma startup, seja do agronegócio ou não, temas como a validação do produto, ajuste do público-alvo e a rentabilidade do negócio são sempre colocados em cheque

Com a evolução das agendas ESG no radar dos executivos, além da parte ambiental, temas de governança passaram a ter mais relevância na organização dos negócios.

Uma pesquisa inédita da consultoria PwC e da AgTech Garage avaliou como estão as práticas de governança das startups do agro e qual é a expectativa dos investidores para esses indicadores em cada fase do negócio.

E concluiu que, na maior parte dos quesitos, as agtechs receberam melhor avaliação do que as startups de outros setores avaliadas pela empresa.

O estudo, chamado de “Governança Corporativa em Startups do Agronegócio”, mostrou que há um certo descasamento entre o que mercado de capital de risco espera das práticas de governança e o que as empresas, do agro ou não, estão entregando, seja acima ou abaixo das expectativas.

Os resultados do estudo se baseiam em respostas fornecidas por 33 empreendedores do agronegócio e 37 investidores. A metodologia utilizou as normas do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e analisou as startups em quatro etapas - ideação, validação, tração e escala.

Dentro dessas etapas, foram selecionadas quatro categorias de análise: sociedade, pessoas e recursos, tecnologia e propriedade intelectual e contabilidade e processos.

Um aspecto que chamou a atenção de Isadora Faria, gerente sênior de novos negócios e inovação da PwC Brasil e responsável pela pesquisa. Segundo ela, as agtechs se destacam na comparação com as demais startups nos estágios mais avançados do negócio.

Um exemplo é cuidado com a propriedade intelectual na fase de escala, que está bem acima das expectativas dos investidores. Segundo a pesquisa, 92% das startups do agro olham para controles e acompanhamento, enquanto só 57% das demais startups têm essa preocupação.

“Isso nos mostra que a tecnologia das agtechs faz diferença no desenvolvimento delas. Muitas vezes são setores que dependem de patentes e vemos um ecossistema de colaboração entre empreendedores de diversas startups e universidades”, comentou.

Ainda na fase de escala, o cuidado com a relação com os investidores é adotado por 42% das agtechs, em linha com o que esperam os investidores e bem acima dos 16% visto em outros setores.

“Quando a startup chega num momento de escala, ela geralmente já passou por rodadas de aporte. Por isso é esperado ter uma área robusta para uma troca constante com os investidores”, diz a gerente da PwC.

Faria ainda comenta que as startups do agro apresentam, geralmente, uma gestão de caixa mais saudável em relação às demais. Isso é explicado pela própria percepção de que o agronegócio é um setor mais resiliente na economia, mesmo num cenário de juros altos, por exemplo.

Startups em ideação

A pesquisa ainda mostrou que na primeira fase do negócio, a chamada fase de ideação, as startups, sejam do agro ou não, estão entregando mais do que o esperado pelos investidores, principalmente no que se refere às estratégias da empresa em relação à organização cultural, como a startup lida com as pessoas envolvidas e na propriedade intelectual das tecnologias.

Na avaliação de Isadora Faria, nesse estágio de ideação, nem o empreendedor nem o investidor estão tão preocupados com o andamento de certas práticas de governança, pois o investimento geralmente não ocorre ali.

“Nesse primeiro momento, na governança, vejo um movimento importante dos sócios pensarem nessa sociedade, que é algo que, se feito logo no início, ajuda muito no futuro”, avalia Faria.

Vale dizer que tanto as startups do agro quanto as demais estão com a governança acima das expectativas dos investidores nesse estágio, mas com as agtechs adotando mais práticas que as demais.

Ainda nesse momento da ideação, as expectativas dos investidores estão mais altas, porém, do que o que é entregue pelas agtechs nos processos de contabilidade.

“Em geral, startups nesta fase ainda não estão em operação e, portanto, não apuram resultado. Sendo assim, as atividades de controles de apuração de resultados, planejamento e gestão orçamentária e relacionamento com investidores não são recomendadas nesse estágio”, destacou a PwC na pesquisa.

Validando o produto

Já na etapa de validação, nenhuma empresa corresponde a todas as expectativas dos investidores, seja do agro ou não. Dentre os aspectos que os investidores esperam neste momento estão a criação de uma rede de mentores e conselheiros, bem como a definição de mecanismos de remuneração.

Nessa fase, que também é conhecida como a fase do Produto Mínimo Viável (MVP, na sigla em inglês), a startup coloca à prova seu produto, e vê como ele se encaixa no mercado e estrutura o modelo de negócio, buscando fornecer respostas para as hipóteses levantadas na fase de ideação.

“Na etapa de validação ainda existem coisas que os empreendedores fazem mais do que o esperado”, diz Isadora Faria.

Na pesquisa, o nível de maturidade dos aspectos de sociedade das startups do agro está acima das expectativas do mercado, com exceção das práticas de estatuto social. Somado a isso, as demais startups adotam mais medidas de sociedade do que as agtechs nessa fase de validação.

Tração dos negócios

Na etapa da tração, onde a startup precisa conquistar clientes e aumentar o faturamento sem abrir mão dos princípios e valores da organização, o jogo muda. Segundo a gerente, o empreendedor passa a ter “muitos pratos para rodar ao mesmo tempo”, o que acaba “drenando a energia do mesmo”.

Ao mesmo tempo, esses estágios mais avançados costumam chamar a atenção dos investidores, que estão cada vez mais atentos nessas práticas de governança.

“Nesse momento, os investidores já estão de olho nos órgãos de controle, na fiscalização das práticas e num conselho já estabelecido. Isso demanda muito da empresa”, comenta Isadora Faria.

No pilar da gestão de pessoas, por exemplo, apenas 13% das startups, do agro ou não, na fase de tração praticam todas as atividades recomendadas pela pesquisa.

Nesse recorte, a porcentagem das empresas que adotam essas práticas está abaixo da expectativa dos investidores, que esperam conselhos administrativos já mais bem consolidados. Enquanto 57% dos investidores entrevistados esperam que as agtechs já possuam um conselho de administração, apenas 19% das startups já formaram o seu.

Startups buscando escala

No estágio da escala a startup já está estabelecida, e precisa, enfim, crescer em um ritmo acelerado, garantindo a exploração ótima das oportunidades e a expansão do negócio.

Segundo a pesquisa, mais da metade dos investidores têm expectativa de ver um plano de sucessão elaborado, enquanto apenas 8% das agtechs e 9% das outras startups já possuem essa prática.

O percentual de startups do setor que estão em momento de escala que adotam todas as práticas recomendadas na parte de contabilidade é baixo (17%), mas, ainda assim acima da média de todas as indústrias (5%). “O dado preocupa porque se trata de uma etapa avançada de desenvolvimento”, destaca a Pw