Na história do sistema financeiro brasileiro, as empresas de fomento mercantil, conhecidas como factorings, sempre tiveram como proposta oferecer opções de crédito de capital de giro para empresas que tinham dificuldades em conseguir recursos nos bancos.

As factorings continuam ativas. Mas pelo menos uma delas conseguiu crescer a ponto de virar um banco. O Plantae Agrocrédito tem 22 anos de história, boa parte deles antecipando recebíveis. Mas em 2021, conseguiu autorização do Banco Central para atuar como instituição financeira.

O fundador e CEO do Plantae, Wolney Arruda, conta que o plano é continuar avançando. “Está nos planos para o próximo ano abrir negociações com bancos para uma parceria que não seja só financeira, mas que tenha sinergias”.

Arruda já tem contato com alguns bancos, e apesar de não mencionar nomes, afirma que são “famosos no mercado”. Ele afirma que a ideia é ter uma parceria com uma instituição que não tenha atuação no agronegócio, “especialmente com o pequeno e médio produtor”.

“Nós pretendemos inclusive começar a oferecer produtos de seguro para os clientes, dentro desta parceria”, diz Arruda, cuja família tem tradição na produção agropecuária na região de Presidente Prudente (SP).

Enquanto isso, o Plantae vai crescendo organicamente, sempre com vínculo no agro. O banco fez um aumento de capital de R$ 7 milhões, que está para ser aprovado pelo Banco Central. “Deve sair nos próximos 10 a 15 dias, já que o pedido foi feito há cerca de um mês”, conta o CEO.

Outro aporte - este maior, de R$ 20 milhões - já está programado para 2024. As duas operações com recursos próprios do fundador.

Quando um banco aumenta seu capital, ele ganha capacidade para emprestar mais dinheiro. Arruda revela que a carteira de crédito vai crescer cerca de 56% neste ano, passando de R$ 160 milhões no final de 2022 para R$ 250 milhões projetados para dezembro de 2023.

Para o próximo ano, os aportes devem permitir um crescimento ainda mais forte, segundo Arruda. “Queremos chegar ao final de 2024 com uma carteira de R$ 500 milhões”.

Em originação, o Plantae registrou R$ 321 milhões em concessões no ano passado, e segundo Arruda, deve chegar a R$ 420 milhões em 2023. “No próximo ano, acredito que possamos chegar até a R$ 800 milhões em transações originadas”.

O executivo afirma que a conta é conservadora, já que não conta com um eventual aporte feito por um banco parceiro, caso um acordo seja concretizado.

Arruda afirma que, neste momento, atua somente com recursos próprios no crédito, por meio de emissão de CPRs. “No segundo semestre, deve sair a autorização do BC para oferecer linhas direcionadas, com subsídios e do BNDES”.

Por atender somente pequenos e médios produtores e não exigir garantia real, o CEO afirma que o Plantae tem uma taxa competitiva, de CDI mais 4% a 5% ao ano.

“Eu atendo produtores que faturam entre R$ 5 milhões e R$ 80 milhões por ano. A garantia é composta pelos contratos de fornecimento que os produtores têm com empresas como indústrias, usinas e frigoríficos”, conta Arruda.

“Consignagro” para produtotes

O Plantae oferece uma linha diferenciada, que Arruda chama de “consignagro”. Ela é voltada para fazendeiros que arrendam suas terras, inclusive para produção de eucalipto por empresas de papel e celulose.

“Nós liberamos até R$ 3,5 milhões por CPF, ou até 70% da renda líquida com os arrendamentos. O prazo para pagamento é de até 36 meses”, diz o executivo.

Através de uma plataforma digital própria, os clientes podem fechar as operações de crédito de onde estiverem. No entanto, Arruda afirma que 90% de seus clientes preferem o olho no olho.

“Temos uma equipe de gerentes técnicos que fazem visitas. Às vezes, são reuniões que acontecem muito cedo, às 6h30, 7h00. Acaba criando uma relação de confiança”.

A sede do Plantae fica em Presidente Prudente, no interior de São Paulo. Mas o banco atua também nos grandes centros agrícolas do país, como as regiões Centro-Oeste e Sul.