Na hora de comprar insumos para uma nova safra, todo agricultor faz as contas comparando com o preço da sua produção. A chamada relação de troca é um indicador decisivo na tomada de decisão de vender o que colheu e adquirir o que precisa para fazer outro plantio. E, a despeito das cotações mais baixas de nossas principais commodities agrícolas, há muito tempo ele não estava tão favorável ao produtor rural.
“A relação de troca é excepcional, a melhor em oito anos”, explica Jeferson Souza, analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities.
Tome-se por base a tonelada de cloreto de potássio, na tabela dos fornecedores desta terça (20) entre R$ 2.100 a R$ 2.150. No mesmo período, em junho de 2022, estava entre R$ 4.800 a R$ 5 mil do mesmo período de junho de 2022.
Isso significa, nas contas de Souza, da Agrinvest, que o produtor estaria gastando 18,8 sacas de soja para pagar o insumo hoje, contra 40 do ano passado.
A relação de troca está muito generosa também para o milho de verão e de inverno, da temporada 23/24. Na formulação 020, a mais indicada para o cereal, o produtor que fosse travar as compras com as vendas estaria entregando para as distribuidoras em torno de 53 sacas. Em 2022, foram mais de 65.
O cenário positivo não está, no entanto, sendo aproveitado. O especialista do mercado de fertilizante vê o produtor muito “atrasado” nas compras.
Nem o rali das últimas duas semanas, que trouxe os preços das commoditie para os tetos de Chicago, fez o agricultor partir para a aquisição dos produtos.
Para Jeferson Souza, ao retardar a decisão o produtor faz uma aposta de risco. Como o reforço das cotações vem apenas em função do tempo mais quente e com chuvas irregulares nas lavouras dos Estados Unidos, “é a única coisa que de concreto se tem”.
Em 2022, nesse mesma período, as condições climáticas sobre as plantações de soja e milho americanas viviam da volatilidade, hora os mapas meteorológicos precificando altas, hora baixas.
Como somente em agosto, às portas da colheita, o clima deixará de ter influência, a espera pode não ser mais correspondida em termos de preços de vendas, fechando a janela da relação de troca favorável.
Sem falar, lembra o profissional da Agrinvest, que até lá o cenário climático pode mudar radicalmente e as commodities voltarem a cair, pairando sobre elas o peso de safras boas, ainda que corte um pouco via produtividade prejudicada nos últimos dias.
No relatório de oferta de maio a respeito da produção norte-americana, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) reportou uma expectativa de safra de 122 milhões de toneladas para a soja.
Ao segurar as aquisições à espera de preços melhores dos grãos – até, frisa-se novamente, que o clima entrasse nos preços -, o produtor brasileiro acabou proporcionando um dos períodos de maior estoque nas empresas de insumos, de acordo com Jeferson Souza.
Uma corrida aos fertilizantes certamente daria gás aos preços dos insumos, o que ocorre toda vez que a demanda cresce. Mas outro fundamento de risco não pode ser esquecido. O analista da Agrinvest ressalta que as cotações internacionais do gás natural, que vinham caindo depois da forte alta do primeiro semestre de 2022, não têm garantia de permanência, o que trazer de volta a alta de preços para alguns fertilizantes.
A guerra entrou em um novo período com a contraofensiva ucraniana, o líder russo Vladmir Putin segue ameaçando o Ocidente por causa das armas fornecidas e não se descarta que possa haver novo choque de preços dos hidrocarburetos.
Até a renovação do acordo de grãos do Mar Negro, em 18 de julho, Putin já ameaçou não assinar mais, o que reforça as incertezas no mercado.