A expectativa por novos incentivos aos projetos de descarbonização da Amazônia pode beneficiar o Grupo BBF, o Brasil BioFuels, que pretende mais que dobrar a área plantada com palma, disse ao AgFeed o CEO da empresa, Milton Steagall.

Bem antes da proliferação dos discursos ESG (governança ambiental, social e corporativa) nas empresas, a BBF, localizada na região Norte do país já colocava isso à risca em sua essência.

Fundado em 2008, o grupo é especializado no agronegócio sustentável, e atua com o cultivo da palma, bem como sua transformação em óleo, biotecnologia, produção de biocombustíveis e até a geração de energia renovável.

A empresa decidiu transformar esse óleo extraído da palma em um biocombustível, de forma a substituir os combustíveis utilizados nas usinas da própria região amazônica. Dessa forma, o escoamento da produção não enfrenta tantos problemas logísticos, já que percorre distâncias menores.

“Queríamos gerar renda e reduzir o custo da eletricidade para a população nortista, a partir de uma matriz sustentável e limpa, substituindo o uso de óleo diesel fóssil por biodiesel feito a partir de óleo de palma”, afirmou Steagall.

Atualmente, a BBF toma conta de 38 usinas, sendo 25 já ativas e 13 em processo de implementação. Somadas, elas possuem uma capacidade de 86,8 megawatts (MW) em geração, que atendem 140 mil pessoas.

Até o fim do próximo ano, a perspectiva é aumentar em 174% essa geração, para 238 MW, quando todas as 13 novas usinas estarão em pleno funcionamento.

Neste cenário, a experiência acumulada ao longo dos 15 anos de atuação no mercado também deve ser muito útil ao momento atual de transição energética no Brasil e no mundo, principalmente envolvendo a descarbonização da Amazônia.

O ministro Alexandre Silveira, da pasta de Minas e Energia, anunciou em maio que deve lançar ainda este ano um programa de descarbonização da região, com investimentos na faixa dos R$ 5 bilhões.

O foco, de acordo com o ministério, será a redução da geração termelétrica a óleo diesel em localidades isoladas, em especial as que não são atendidas pelos programas Luz para Todos e Mais Luz para Amazônia.

O CEO do grupo se mostra otimista com o projeto do governo, e garante que a BBF está mais que pronta para ser protagonista nesse movimento.

A ideia da empresa, que tem foco no biodiesel, está completamente alinhada com a proposta do ministério de reduzir a dependência do óleo diesel comum em localidades isoladas. De acordo com a Embrapa, a utilização do biodiesel reduz em 70% a emissão de gases que aceleram o efeito estufa.

O CEO relembrou que todo o processo de montagem da empresa ocorreu durante os primeiros governos Lula, onde foram instauradas algumas leis ambientais, e que muitos membros da época voltaram ao governo atual.

Em 2010, o governo assinou um decreto que regulamentou o zoneamento agroecológico da cultura da palma em áreas desmatadas até dezembro de 2007.

“Se o governo analisar, a única empresa que apostou no arcabouço jurídico que o governo investiu, no cultivo de palma e na ampliação no plantio de palma fomos nós”, ressalta.

Segundo Steagall, o atual governo “tem total aderência com as pretensões do grupo”, principalmente relacionado à recuperação de áreas degradadas, onde o cultivo da palma ocorre.

O executivo diz que a ideia inicial da empresa era aproveitar a área imensa do território amazônico e trazer emprego para a região, que possui cerca de 30 milhões de habitantes.

“Nunca resolveremos o problema da floresta se não resolvermos como os habitantes se adequam na economia local. Temos como meta auxiliar na preservação, mas se você não pensa em nada para quem vive lá, eles vão buscar outras formas de sobreviver como garimpo ilegal, extração ilegal e grilagem”, comenta o CEO.

Atualmente, a empresa possui mais de 6 mil empregados diretos e ainda contribui com 18 mil empregos indiretos, segundo cálculos do Grupo BBF.

Expansão de área plantada

A produção do óleo de palma “encaixou como uma luva” no negócio, como explicou o CEO, já que a planta é altamente propícia para o clima tropical da região. Além disso, só pode ser cultivada em regiões próximas da linha do Equador e precisa de muita água e temperaturas altas durante o ano.

Atualmente, o grupo possui 75,6 mil hectares de cultivo. Desse total, são 15,2 mil hectares em São João da Baliza (RR) e 60,3 mil hectares no Pará, em quatro pólos de produção. Eles estão localizados nos municípios de Acará, Concórdia, Moju e Tomé-Açu, adquiridos por meio da aquisição da Biopalma da Amazônia, que era controlada pela Vale, no fim de 2020.

A produção atual gira em torno de 200 mil toneladas de óleo de palma processado por ano. Em tamanho, a empresa pretende somar mais 100 mil hectares plantados até 2026, como explicou Milton Steagall ao AgFeed.

Essa meta ambiciosa é reflexo de uma parceria com a Vibra Energia para um projeto de comercialização de combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês) que a BBF pretende produzir no Brasil a partir de 2025.

O acordo, firmado no ano passado, se soma a um contrato já existente entre as partes para compra e venda do diesel verde HVO (sigla, em inglês, para hidrotratamento de óleo vegetal).

A matéria-prima para os biocombustíveis será o óleo de palma produzido pela BBF no interior de Roraima. Já o refino será feito numa planta a ser construída na Zona Franca de Manaus.

Segundo a BBF, esta será a primeira fábrica de produção dos dois biocombustíveis em escala industrial no Brasil. A expectativa é que sejam investidos cerca de R$ 2 bilhões na produção, inicial, de 500 milhões de litros de biocombustível por ano.

A unidade está prevista para 2026 e deve gerar cerca de 13 mil novos empregos na região