A cadeia produtiva do leite é uma das mais pulverizadas do agronegócio brasileiro. Com mais de 1 milhão de produtores, a maioria pequenas e médias propriedades, ela está presente em 98% dos municípios brasileiro, segundo o Ministério da Agricultura e da Pecuária (Mapa), e carrega enormes desafios, desde sanitários e de logística até, como os de muitos setores, o crédito.

É nesse mar de 34 bilhões de litros por ano que uma fintech tem navegado de forma acelerada. Com a RumiCash, uma iniciativa de crédito exclusiva para o setor que usa ferramentas simples como o Whatsapp e, em alguns momentos, chega a lembrar o modelo do crédito consignado, a mineira Rúmina estima disponibilizar R$ 200 milhões em recursos para os produtores até o fim deste ano.

“Percebemos que, no universo das fintechs voltadas para o agronegócio, nenhuma era específica para os produtores de leite”, disse ao AgFeed a CEO da RumiCash, Gabriela Borlido.

Com mais de 9 mil produtores parceiros, a Rúmina desenvolveu então um modelo que, se por um lado atendia às necessidades das propriedades rurais, de outro ajudava a aliviar o caixa dos grandes laticínios que compram sua produção – e que, muitas vezes, precisavam antecipar recursos, financiando custeio e investimentos dos pecuaristas.

No sistema da RumiCash, o produtor cadastrado pode solicitar o crédito pelo aplicativo de mensagens e, se aprovado, recebe o dinheiro na sua conta entre um e três dias. São atendidos apenas produtores fornecedores de leite das empresas parceiras da Rúmina. Isso acaba trazendo uma espécie de empréstimo consignado ao produtor.

“Se um produtor vai receber R$ 100 mil no mês pelo seu fornecimento de leite mas deve uma parcela de R$ 10 mil por um crédito tomado, na hora que a empresa de laticínios vai pagar o dinheiro ela repassa R$ 90 mil ao produtor e o restante para a RumiCash. Existe um ‘desconto’ da folha”, explica Gabriela.

A ideia conquistou gigantes do setor como a Scala, a Vigor, a PJ e a Quatá. De acordo com a CEO da startup, os recurso usados para o financiamento foram obtidos através de um FIDC da Milenio Capital, gestora de recursos brasileira focada no mercado de crédito, com mais de R$ 2,5 bilhões sob gestão. O fundo, vale dizer, não é aberto ao varejo.

Gabriela afirma que, como a originação dos recursos distribuídos aos produtores vem da própria fintech, as indústrias de laticínios conseguem aliviar seu caixa de investimentos. Isso porque, além do financiamento clássico feito via bancos, esses produtores captavam crédito direto das indústrias que compravam seu leite.

Com a RumiCash, as empresas parceiras da Rúmina apenas sugerem a fintech como forma de obtenção de crédito, deixando de financiar os produtores de forma direta.

“Quem comprava o leite cru também fazia operações de crédito para um produtor trocar um tanque, um fertilizante e aumentar o rebanho, por exemplo. Do lado da indústria, existia um espaço para criar um negócio que gerasse valor pro produtor e também para a empresa do laticínio, que passou a ter um parceiro que dá crédito aos fornecedeores”, ressalta a CEO.

Do lado do produtor parceiro, a demanda por crédito vem para sanar problemas com custeio e investimentos, segundo Gabriela. Dentro do custeio, o cenário mais visto é o do produtor que planta milho para silagem, destinado à alimentação de suas vacas.

Do lado do investimento, é comum a necessidade de investir na compra de novos animais, bem como na construção de novos barracões.

“Com dados diretos de laticínios, temos um profundo alinhamento das demandas. O nosso ‘motor’ de crédito analisa características operacionais das fazendas, indicadores de qualidade de leite e estimula a melhoria do produto final. Cerca de 90% da nossa atuação é com microcrédito”, afirma a executiva.

A CEO não entrou em detalhes da quantidade de crédito já concedida desde o início do projeto, mas estima aumentar a ba se de pecuaristas em 11 mil até dezembro. Da base atual de 9 mil produtores, cerca de 1 mil já tiveram algum crédito concedido pela fintech.