A AeroFarms, empresa americana pioneira do setor de agricultura vertical. entrou nesta quinta-feira, 8 de junho, com um pedido de proteção no famoso capítulo 11 do código de falências dos Estados Unidos.
Equivalente ao recurso da concordata na lei brasileira, o capítulo 11 permite ao devedor manter todos seus ativos, se opor às demandas de seus credores, adiar os prazos de seus pagamentos e até reduzir unilateralmente sua dívida. Foi nesse esquema que a gigante General Motors se apoiou, em 2009, quando atravessava uma grave crise financeira.
Com sede em Newark, Nova Jersey, a Aerofarms listou entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões em passivos em uma petição arquivada no estado de Delaware, conhecido por funcionar como uma espécie de “paraíso fiscal” dentro dos Estados Unidos, em virtude dos benefícios fiscais oferecidos às empresas.
Além disso, a empresa comunicou que firmou um acordo com um grupo de investidores, que concordaram em fornecer US$ 10 milhões em financiamento do esquema DIP. O movimento é semelhante ao que a Americanas fez com seus sócios majoritários.
Essa modalidade é exclusiva para empresas que estão em recuperação judicial e tem como objetivo não deixar o “dia a dia” da empresa prejudicado.
Por meio desse financiamento, há uma injeção de dinheiro para que a operação da empresa não fique comprometida. Ainda nessa modalidade, os credores contam com a prioridade na fila de pagamentos em caso de uma eventual falência.
Concomitantemente ao anúncio, a empresa também informou que David Rosenberg, cofundador e diretor executivo, renunciou ao cargo de CEO, passando a atuar como consultor especial do conselho.
O atual diretor financeiro Guy Blanchard assumirá o posto máximo da AeroFarms, onde trabalhará em colaboração com um comitê especial do conselho de administração composto por Jim Borel e Peter Lacy, ambos membros independentes do conselho de longa data da AeroFarms.
"Temos sorte de existirem investidores que continuam a acreditar na Aerofarms e estamos confiantes de que conseguiremos atingir nosso objetivo de obter lucro operacional na planta de Danville”, afirmou, em nota, o novo CEO. “Há um grande ionteresse do consumidor por nossos produtos e estamos animados por podermos continuar a construir nosso negócio e atender a essa demanda".
Uma das estrelas do setor, a Aerofarms recebeu ais de US$ 250 milhões em aportes de investidores, em uma série de rodadas de captação. Entre os investidores estão nomes como Goldman Sachs, Prudential Capital Partners, Ikea e ADM Capital.
Em 2021, quando a empresa tentou abrir capital via SPAC, era avaliada em US$ 1,2 bilhão. O processo não foi para frente na ocasião devido a problemas de financiamento e uma falta de interesse dos acionistas.
Em fevereiro passado, a empresa celebrou uma parceria com o governo dos Emirados Árabes unidos para construir, em Abu Dhabi, a maior fazenda vertical para pesquisa e desenvolvimento do mundo .
Em seu Linkedin, Henry Gordon-Smith, CEO da Agritecture, consultoria especializada em agtechs, informou que conversou com um dos fundadores da AeroFarms e disse que esse passo dado pela empresa está relacionado a um foco em suas operações em Danville, no estado americano de Virginia, bem como uma redução de custos em outras áreas para “focar no que os investidores querem”.
A planta de Danville possui pouco mais de 40 mil metros quadrados de agricultura vertical, com capacidade produtiva de 3 milhões de toneladas de verduras e é uma das grandes apostas da companhia.
“A AeroFarms quer avançar ainda mais no que funciona e cortar algumas das despesas que fizeram até o momento. Isso faz sentido para mim quando menos capital está disponível e os investidores estão focados na economia unitária na agricultura vertical”, comentou Gordon-Smith.
Os problemas do segmento de agricultura vertical podem ir além da Aerofarms. Ações de empresas do segmento, como AppHarvest e Local Bounti, vem tido constantes desvalorizações no mercado americano em função da elevação dos custos de produção, sobretudo de energia, e até mesmo da incidência de pragas em seus ambientes de produção.