O equilíbrio entre o custo de produção e o preço médio vendido por tonelada de açúcar nos últimos anos-safra, que pressionou as margens do setor, pode ter ficado para trás.

Para a nova temporada, iniciada agora em abril, e para a próxima, a perspectiva do mercado é de um descolamento favorável ao produtor que olha o gráfico, na medida que os custos devem cair e o preço médio subir.

Na visão do head de açúcar e etanol da consultoria StoneX, Bruno Lima, essa visão positiva deve ser uma realidade pelo menos para os próximos dois anos-safra, com a situação de preços e custos “voltando aos trilhos”.

Do último ano para cá, no ano-safra 2022/2023, a moagem de cana totalizou 548,2 milhões de toneladas, e a perspectiva para a próxima safra é de 595,9 milhões de acordo com a StoneX, um avanço de cerca de quase 9% na comparação anual.

Em termos de preço, Lima, da StoneX projeta um preço fixado médio de R$ 2,2 mil por tonelada de açúcar, com custos na faixa dos R$ 1,7 mil.

Na ponta do lápis, esse cenário traria uma margem bruta para o produtor de cerca de 35%, só considerando açúcar e câmbio, sem contar custos com transporte, por exemplo.

Para o ano safra 2024/2025, essa margem pode saltar para 40%,com um preço médio ainda maior. “Vemos as usinas animadas com os custos caindo e também com uma boa produtividade e disponibilidade de cana”, comentou.

Os efeitos de um possível El Niño este ano ainda não são certos, já que na região centro sul, o fenômeno não é tão prejudicial.

“Moer toda a cana disponível, com El Niño ou não, não será tão simples. Tem muita cana, e toda semana as usinas reveem para cima suas projeções”, acrescenta Bruno Lima.

Apesar da boa expectativa futura, os resultados do último trimestre do ano-safra 2022/23 e dessa temporada completa ainda devem mostrar margens comprimidas no negócio.

Nesta segunda-feira (5), a Lins Agroindustrial, usina brasileira de açúcar, etanol e leveduras, divulgou um documento com seus números financeiros do último período.

A empresa teve um lucro líquido de R$ 87,4 milhões ao longo do ano, um montante 25% menor frente ao visto no ano anterior.

A receita, em contrapartida, aumentou 11,3%, e atingiu R$ 807,7 milhões no ano. Quem realmente pressionou o resultado final foram as despesas financeiras, que atingiram R$ 132 milhões e os custos dos produtos vendidos, que foram de R$ 573 milhões.

A despesa financeira foi impulsionada por um avanço de quase 70% nas despesas com juros sobre empréstimos e financiamentos bancários, que totalizaram R$ 76 milhões negativos.

Além da Lins, dentre as gigantes do setor, a São Martinho divulgará seus números finais do último ano safra no dia 19 deste mês, enquanto a Jalles Machado irá apresentar ao mercado seu balanço no dia 28.

“Os balanços do trimestre encerrado em março ainda não vão refletir o que vamos ver na próxima safra. Os juros ainda elevados atrapalham um pouco, mas mesmo com esse cenário, a expectativa de queda nos custos ainda ajuda”, acrescenta Lima, da StoneX.