A Faria Lima costuma ter olhares cautelosos para as empresas pecuaristas que estão fora do círculo das gigantes listadas em Bolsa. A cotação do boi gordo tende a ter variações bruscas, as margens são pequenas e isso nem sempre é bem digerido por investidores.

Para a Guide Investimentos, porém, há oportunidades saborosas também quando se vai além do filé mignon do mercado. Por isso, resolveu apostar na distribuição de CRAs, os Certificados de Recebíveis do Agronegócio, destas companhias.

Segundo Luiz Gustavo Pereira, sócio e head de Mercado de Capitais da Guide, a casa está para lançar duas emissões que somam R$ 200 milhões, com R$ 100 milhões para cada empresa.

Pereira não pode revelar os nomes das empresas que vão emitir os títulos, já que as ofertas ainda não se tornaram públicas. “Mas elas são deste perfil, indústrias pecuárias que têm pequeno ou médio porte”, antecipa.

A Guide já atuou na coordenação e na distribuição de emissões com características parecidas. Pelo menos duas delas de empresas do setor de proteína animal.

Uma é da Copagril, cooperativa localizada no oeste do Paraná que tem a maior fatia da Frimesa, empresa de abate de suínos formada por várias cooperativas. A Copagril captou R$ 100 milhões em CRAs.

Outra é a Green Farming, localizada em Minas Gerais, com atuação na venda de bois e de carne in natura. No ano passado, a empresa conseguiu R$ 55 milhões com uma emissão.

“Com a maior insegurança dos investidores em relação à atividade pecuária, as operações dependem muito de garantias. Em uma emissão de R$ 100 milhões, os investidores chegam a pedir R$ 200 milhões em garantias reais”, explica Pereira.

Para as empresas, este tipo de operação traz um fôlego neste momento de crédito bancário mais restrito. “Estas empresas sofrem muito neste ambiente atual. Se consegue crédito, o prazo é curto, de seis meses, um ano no máximo. As emissões têm prazo de pelo menos três anos”, diz o sócio da Guide.

Ele afirma que o custo para as companhias está alto, por conta da taxa de juros, e da exigência de prêmio pelos investidores. “Nós conseguimos uma média de CDI mais 6% ao ano, que dá cerca de 20% de juros anuais. Em cinco anos, a dívida dobra. Mas serve para dar um respiro de prazo para as empresas”.

Outra operação destacada por Pereira, feita também no ano passado e distribuída pela Guide, foi da Expocaccer, Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado, também de Minas Gerais. A empresa levantou R$ 100 milhões.

A Guide atua no mercado em parceria com securitizadoras, como a EcoAgro, que tem quase um terço das emissões já realizadas no mercado.

Segundo a EcoAgro, já foram quase R$ 150 bilhões em CRAs emitidos desde 2012, quando o produto começou a ser distribuído. Deste total, mais de R$ 46 bilhões foram estruturados pela companhia.

Com a perspectiva de queda dos juros, Pereira acredita que os CRAs continuarão atraentes para os investidores.

“Como são indexados pelo CDI, acabam geralmente ficando acima da inflação, mesmo com taxas menores. E os prêmios ganham relevância. Imagine uma emissão com CDI a 8%, mas um prêmio adicional de 5% ao ano”, afirma o sócio da Guide.

Ele acrescenta que o mercado de Fiagros deve continuar crescendo, por conta da demanda pelo pequeno investidor. “Os fundos estão sustentando as emissões de CRA. Além disso, devemos ter uma diluição dos riscos dos Fiagros, à medida que os gestores colocam empresas diferentes de setores diversos dentro do patrimônio”, diz Pereira.