Responsável por rastrear 2,6 milhões de toneladas de hortifrúti por ano, a Paripassu foi uma das pioneiras a investir nas informações sobre a cadeia de alimentos no Brasil, antes mesmo da rastreabilidade virar obrigatória em diferentes segmentos do agro no País.
No caminho encontrou o desafio de convencer agricultores sobre a importância de comprovar a origem e a qualidade de seus produtos, mas agora conta com a demanda crescente por parte da indústria e dos consumidores internacionais.
Neste mês de maio a empresa lançou uma atualização na sua principal solução digital, a plataforma INDEX PariPassu. O sistema estabelece uma nota para o usuário que leva em conta diferentes critérios baseados em quatro pilares: rastreabilidade, padrão de qualidade, segurança do alimento, e certificações, e auditorias. O indicador permite também comparar o que está sendo atingido com a média do mercado em que atua.
"Nós incluímos agora no aspecto da rastreabilidade as informações sobre a situação da propriedade rural em relação ao Ibama, se está cumprindo regras ambientais e também do Ministério do Trabalho, que indica se há alguma não conformidade do ponto de vista social, como a relação com trabalho escravo, por exemplo”, explicou o CEO da Paripassu, Giampaolo Buso, em entrevista ao AgFeed.
O executivo ressalta que até pouco tempo a rastreabilidade estava mais associada à necessidade de cumprir legislação ou à expectativa do produtor de tentar obter um preço diferenciado no mercado.
"Com o passar do tempo, foi possível perceber que não era bem assim, agora é uma questão de garantir o seu espaço no mercado, ganhar eficiência, ter um maior controle sobre o processo produtivo que permite inclusive reduzir custos e ganhar produtividade”, afirma.
Buso acredita que a indústria de alimentos, inclusive de algumas frutas e legumes, é seguir o que já ocorreu no passado com o setor automobilístico. "É preciso ter uma comunicação combinada, um padrão a ser seguido", diz. Episódios recentes envolvendo notícias de contaminação em alimentos de marcas conhecidas só reforçam esta tendência, diz ele, referindo-se ao exemplo da indústria do tomate.
Metas de crescimento
Em 2018 foi amplamente divulgada uma fusão entre o Genesis Group e a Paripassu, ambos sob controle do Actis, um fundo de private equity britânico. Na época as duas empresas de rastreabilidade juntas contabilizavam um faturamento de R$ 100 milhões.
Buso contou ao AgFeed que a parceria foi desfeita no final de 2022, por decisão da Genesis que preferiu seguir de forma independente, “já que as sinergias esperadas não aconteceram". O faturamento atual da Paripassu não é divulgado, mas a Actis segue sendo a controladora, assim como de outra empresa ligada à segurança alimentar, a Agrosafety.
O executivo garante, no entanto, que o crescimento da Paripassu segue sustentado e deve acelerar. Nos últimos anos a média foi de um avanço anual de 20% no faturamento e também na adoção da tecnologia.
"Nossa meta é subir dos atuais 3 mil empresas cadastradas para 5 mil até 2025”, afirmou Buso.
A maior oportunidade de avanço ainda segue no chamado FLV – frutas, legumes e verduras. Giampaolo lembrou que, segundo dados do Ibrahort, Instituto Brasileiro de Horticultura, o Brasil tem cerca de 5 milhões de produtores de hortifrúti atualmente, sendo que metade deles fatura até R$ 10 mil por ano, são propriedades muito pequenas.
Além deste universo, a Paripassu vem crescendo com clientes do setor de carne e leite, que cada vez mais precisam comprovar a origem e qualidade da matéria-prima.
Buso diz que há 7 anos praticamente toda a carteira de clientes era de FLV e que agora 25% já estão em outras cadeias produtivas.
A nova legislação da União Europeia, que vai exigir rastreabilidade e comprovação de que o alimento não foi importado de áreas em que houve desmatamento, também é vista como uma oportunidade. “Mas sabemos que será um processo muito complexo, no caso destas grandes cadeias”, disse o executivo.
Enquanto isso, para seguir avançando, a empresa investe também em novas tecnologias. O CEO da Paripassu espera lançar "na virada do ano” soluções que envolvam inteligência artificial em suas aplicações.
Uma das alternativas que está sendo estudada é usar tecnologia inspirada no ChatGPT para fazer a chamada “predição de uso", ou seja, verificar se a ferramenta está sendo bem utilizada e indicar caminhos para melhorar. Em paralelo, a Paripassu pretende está testando inteligência artificial atrelada aos equipamentos que fazem imagens e geram dados em campo.