O temor de que a gripe aviária possa chegar a granjas comerciais no Brasil segue rondando empresários do setor e influenciando o desempenho das ações de frigoríficos. Mas os especialistas garantem que o risco é considerado baixo e que todas as medidas sanitárias necessárias vêm sendo adotadas no País.
Em entrevista ao AgFeed, a diretora técnica da ABPA, Associação Brasileira de Proteína Animal, Sula Alves, ressaltou que a decisão tomada esta semana pelo Ministério da Agricultura de declarar emergência zoossanitária no País, por 180 dias, é uma medida preventiva.
"Não há qualquer mudança na situação do Brasil, e portanto, não há qualquer impacto inicial nas exportações e na comercialização interna", afirmou Alves. A diretora destaca que "não quer dizer que a situação fugiu do controle, na verdade é o contrário, o objetivo de se declarar emergência é evitar que fuja do controle”.
A diretora da ABPA lembra que os casos confirmados em oito aves silvestres são os primeiros registros da doença no Brasil. Mas os países vizinhos, e todo o continente americano, já vinham convivendo com a gripe aviária nos últimos meses. Segundo dados da OMSA, a Organização Mundial de Saúde Animal, atualmente há casos registrados em 68 países.
Por conta da disseminação da doença pelo mundo, a diretora da ABPA afirma que não há, até o momento, qualquer sinalização de problema com os parceiros comerciais que compram frango do Brasil. "Há uma preocupação porque o Brasil ainda não tinha registro da doença. Mas os importadores já estão acostumados a lidar com isso", diz Alves.
“É importante notar que a doença foi detectada em aves litorâneas. E não há granjas no litoral brasileiro. Isso já diminui bastante o risco de infecção em aves comerciais. Nunca é possível dizer que o risco é zero, mas é baixo”, diz Alves.
Apesar do risco baixo, as ações de BRF e Marfrig caíram nesta terça-feira por conta do “susto” provocado pela declaração de emergência feita pelo governo. A Marfrig é a maior acionista da BRF, e por isso, as ações das duas empresas tiveram quedas próximas de 5%. Os papéis da JBS caíram menos de 1%, já que a carne de aves tem participação menor na operação.
Para analistas, os casos de gripe aviária têm pouco potencial de mudar o cenário para as empresas brasileiras, especialmente a BRF, por enquanto.
Um dos motivos é o fato de que, no próprio comunicado feito pelo governo, está claro que não há mudanças no status internacional que o Brasil possui de área livre da doença, que é concedido pela Organização Mundial de Saúde Animal, por não haver registro na produção comercial.
No último fim de semana, foi encerrada a SIAL China, maior feira de produtos alimentícios inovadores da Ásia. Segundo a ABPA, foram fechados US$ 48,4 milhões em exportações de carnes de aves e suínos do Brasil durante o evento, e a partir de negociações na feira, esse número pode chegar a US$ 260 milhões.
A feira teve início após a detecção dos primeiros casos em aves silvestres no Brasil. Segundo Alves, até agora, não há qualquer sinalização de revisão ou cancelamento dos contratos.
Mesmo neste cenário de risco baixo para os produtores e para as exportações, o Ministério da Agricultura já vinha recomendando medidas de prevenção antes da chegada da gripe aviária ao Brasil.
“Existe um plano de contingência desde 2013. Depois dos casos nos países vizinhos, nós recomendamos a suspensão de visitas de pessoas originadas destes lugares às granjas, exceto aquelas de auditoria, além de medidas mais intensas de higiene”, conta a diretora da ABPA.
Alves afirma que até as regras de instalação de uma unidade de aves comerciais no Brasil ajudam a minimizar os riscos. “As normas já estabelecem um distanciamento das granjas de outros tipos de produção”.
Ela ressalta que, historicamente, as infecções de aves criadas para consumo acontecem pela ação humana. “São pessoas que pisaram em locais infectados, ou até mesmo caminhões que passaram por ali”, diz Alves.
A diretora da ABPA explica também que o vírus H5N1 não é transmitido aos seres humanos por meio do consumo da carne. “É transmitida via aérea e também pelo contato com fezes ou algum outro material expelido pelo animal”.
Alves afirma que dificilmente a carne de um animal infectado chega até a mesa dos consumidores. “A morte das aves é muito rápida. Geralmente, elas nem chegam ao abatedouro. É muito fácil detectar. E quando acontece, todos os animais daquela unidade são sacrificados”.