A presença de uma "fazendeira” do Brasil entre os jovens empreendedores do Vale do Silício, com startups e investidores do mundo inteiro, pode até parecer improvável. Mas foi pura realidade no final deste mês de abril, durante o Brazil at Sillicon Valley, na Califórnia, nos Estados Unidos.
Algo que não poderia deixar de abordar nesta minha estreia no AgFeed, um veículo focado no agro moderno, tecnológico e financeiro, mas super conectado aos desafios que ainda temos em relação à sustentabilidade.
Tive a honra de participar de um dos painéis da conferência do Brazil at Silicon Valley, que é realizada pelos alunos das universidades de Stanford e Berkeley.
Comigo estavam Matt Barnard, cofundador da Plenty, agtech de agricultura vertical, Nolan Paul, da Yamaha Motor Ventures e Mary Pearl, cientista que já presidiu a Ecohealth Alliance, com foco em saúde humana e saúde animal.
É impressionante como mundos que parecem tão distantes, especialmente aqueles das maiores startups de tecnologia e finanças e a vida desta socióloga que cria boi no interior de São Paulo, são na verdade extremamente interligados.
O que todos buscam é um crescimento econômico sustentável, que gere riqueza, mas que acima de tudo garantam a qualidade de vida das próximas gerais.
Meu papel por lá foi falar da agricultura brasileira, mais especificamente da grande diversidade que caracteriza o nosso setor no País.
Somos gigantes em produtividade e tecnologia, líderes nas exportações mundiais de produtos como soja, café, carne bovina, suco de laranja, entre outros.
Um agro que está cada vez mais comprometido com a sustentabilidade ambiental, econômica e social.
Infelizmente, porém, 80% das propriedades rurais no Brasil são de pequenos e médios agricultores, pessoas que, na sua grande maioria, ainda têm pouco ou nenhum acesso ao mundo tecnológico.
Contei a eles que basta visitar estes outros 20% para ver de perto os milagres que a agricultura digital vem fazendo, com uso racional de insumos, mais práticas benéficas para o meio ambiente, drones sobrevoando lavouras, máquinas conectadas, aplicando defensivos e fertilizantes somente onde é preciso e na quantidade necessária.
80% das propriedades rurais no Brasil são de pequenos e médios agricultores, pessoas que, na sua grande maioria, ainda têm pouco ou nenhum acesso ao mundo tecnológico
É no universo dos 20% que cresce a agricultura regenerativa, as áreas de ILPF, Integração Lavoura Pecuária e Floresta, o acesso a mecanismos modernos de financiamento como o mercado de capitais e foco no mercado externo.
Por tudo isso era necessário deixar um apelo a estes investidores internacionais que estão em busca de novos "unicórnios": a importância global que o Brasil dos 80% representa.
Imagina quando todos os pequenos e médios conseguirem acesso ao que há de mais novo em tecnologia? O ganho na produção de alimentos e no fornecimento de energia renovável terá reflexos no mundo inteiro, algo que eles precisavam ouvir.
Saio do Vale do Silício com a sensação de que a semente foi plantada. A vitória para o nosso agro foi ter tido este espaço nobre, para que uma produtora rural fosse ouvida.
O que esperamos é nos próximos anos, a cada edição do Brazil at Sillicon Valley, mais empresários do agro do Brasil passem por lá, para mostrar o quanto seguimos evoluindo e qual nosso verdadeiro comprometimento com a sustentabilidade. O caminho está aberto.