“Uma parceria estratégica”, foi assim que os executivos da francesa Tereos, gigante global no setor sucroenergético, e da holandesa Koppert, líder mundial em controle biológico, definiram o acordo selado pelas subsidiárias brasileiras das duas companhias para fomentar pesquisa e desenvolvimento de novos insumos nos próximos três anos.

Pelos papéis do casamento, a Koppert oferecerá sua expertise no setor para sanar as “dores” da Tereos em relação aos biológicos.

Nesse contrato, a Tereos terá participação no centro avançado de pesquisa Sparcbio (São Paulo Advanced Research Center for Biological Control), especializado na descoberta de novos agentes biológicos de controle de pragas agrícolas e desenvolvimento de novas tecnologias.

O centro é mantido pela Koppert, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Esalq/USP

Na contrapartida da união, a Tereos entra com a oferta de quase 300 mil hectares de cana, onde os novos produtos poderão ser testados e validados. Hoje, a companhia já faz uso de biológicos em cerca de 40% do manejo de pragas e doenças.

Em conversa com o AgFeed, o diretor de Agricultura e Planejamento da Tereos, Carlos Simões, compartilhou sua perspectiva sobre os desafios atuais na oferta de novas tecnologias.

Para ele, muitas empresas, não somente do setor de biológicos, desenvolvem soluções sem um envolvimento próximo dos clientes, baseando-se em suposições, que pode resultar em ineficiência dos produtos.

“Agora, a gente vai poder testar essas soluções com alto potencial para mudar a agricultura no futuro e eu acredito em benefícios que vão além da nossa parceria, de acelerar uma agricultura cada vez mais sustentável e regenerativa”, destacou Simões.

Nesse sentido, o tripé — campo, indústria e academia — foi ressaltado pelo diretor Industrial da Koppert América do Sul, Danilo Pedrazzoli.

“Acho que essa é a ideia que a gente traz, de maior assertividade, na transferência da academia para a indústria”, pontuou Pedrazzoli. “É validar na prática, em larga escala, atendendo as necessidades da agroindústria, ou as necessidades do mercado consumidor no final”, complementa.

Segundo o diretor da Koppert América do Sul, o recurso financeiro envolvido na parceria “é direto e indiretamente” através dos investimentos da companhia no Sparcbio.

O valor de investimento estimado para os próximos cinco anos é de cerca de R$ 50 milhões voltado ao setor de controle biológico. “A gente vai direcionar parte dos nossos esforços financeiros para que a nossa equipe tenha uma interação maior com a equipe da Tereos", comenta Danilo.

Atualmente, a Koppert conta com uma equipe técnica em campo ao redor de 60 pessoas e parte dessa equipe será redirecionada para trabalhar em contato com a da gigante do setor sucroenergético para trocas de informações.

Remédio para a dor

Uma das dores tratadas durante a aliança será a necessidade de encontrar alternativas para a fixação biológica de nitrogênio, ponto mapeado pela Tereos.

“Isso endereça uma dor grande nossa, até porque temos metas ambiciosas de descarbonização nos próximos anos”, explicou Carlos Simões ressaltando que, atualmente, nitrogenados de origem mineral têm um processo produtivo e de logística com alta emissão de gases de efeito estufa.

Complementando essa visão, Pedrazzoli salienta que, além de se pensar na diminuição de adubos nitrogenados, o objetivo também é a redução da dependência desses insumos.

Além do mais, outra linha trabalhada pela líder mundial em controle biológico, para os próximos cinco anos, inclui trabalhar com microrganismos para a mineralização de carbono, que seria o sequestro de carbono da atmosfera.

“É uma linha que a gente quer começar a trabalhar com eles”, disse o diretor Industrial da Koppert América do Sul. “É um projeto agora novo, de longo prazo, e que agrega valor indireto na comercialização dos produtos que a Tereus coloca no mercado, seja etanol ou açúcar”.

Para atender a demanda da Tereos e do mercado brasileiro de biológicos — que na safra 2023/2024 cresceu 15% em comparação com o ciclo anterior, conforme dados da CropLife Brasil —, a Koppert está com um projeto de implementação de uma fábrica em Piracicaba.

A operacionalização da unidade ocorrerá em três diferentes anos: 2027, 2029 e 2030. “São três fases em função das diferentes tecnologias”, comenta Pedrazzoli sem abrir o valor do investimento.