O aumento da produção de soja e milho nas fronteiras agrícolas como o Matopiba – região que engloba Maranhão, Tocantins, Piauí e Oeste da Bahia – tem deslocado fortemente as exportações brasileiras para os portos do Arco Norte, sendo um dos destaques o porto do Itaqui, em São Luís, que já ultrapassa Paranaguá nos embarques de grãos.

Um dos segredos do sucesso do terminal maranhense é o fato de contar, desde 2011, com uma área concedida à iniciativa privada, o chamado Tegram, liderado por um consórcio que opera volumes de grãos de mais de 30 tradings diferentes.

O AgFeed conversou com o presidente do consórcio, André Campos, que também é diretor da Viterra, uma das 4 sócias principais do projeto. O executivo contou ter alcançado a marca de 15 milhões de toneladas exportadas no dia 10 de dezembro, um patamar simbólico para um projeto que foi concebido para embarcar 10 milhões de toneladas, em dois berços.

"Eu brinco que a equipe errou ao fazer projeções otimistas na criação do projeto, porque o crescimento da safra foi muito maior do que se esperava. Todos estimaram abaixo do crescimento exponencial que acabou acontecendo”, afirmou Campos.

O Tegram começou a operar em 2015, quando eram embarcadas pouco mais de 3 milhões de toneladas de grãos. Três anos depois já precisou aprovar a construção de um segundo berço, porque, em 2018, os volumes alcançavam 6,3 milhões de toneladas.

"No ano passado chegamos a 13,4 milhões de toneladas, muito acima do projeto original, que previa 5 milhões de toneladas em cada berço”, conta o executivo. Em 2023 a expectativa é totalizar 15,6 milhões de toneladas embarcadas no Tegram.

Segundo dados da Conab, o porto do Itaqui movimentou de janeiro a novembro deste ano um total de 12,4 milhões de toneladas de soja, pouco mais de 1 milhão acima do mesmo período do ano anterior. Deste total, quase 10 milhões de toneladas de soja foram exportadas pelo Tegram. Já no milho, Itaqui exportou 6,7 milhões de toneladas e cerca de 5 milhões foi pela operação do consórcio.

Se de um lado os números animam, de outro preocupam as empresas que operam o consórcio porque é necessário e urgente ampliar a capacidade e seguir atendendo uma produção do Matopiba, “que cresce acima da média nacional", segundo André Campos.

"A capacidade está praticamente esgotada, operamos a pleno este ano, por isso neste momento estamos com essa pauta, negociando com o governo e apresentando nosso pleito, para construir mais um berço e investir R$ 1,6 bilhão”, destaca o executivo.

O projeto foi apresentado à autoridade portuária do Maranhão e também à Secretaria de Portos, em Brasília. Se aprovado, a expectativa é de que leve 28 meses para ser concluído.

O Tegram tem quatro “donos”, que são os vencedores da licitação na época e foram orientados a criar o consórcio. O chamado lote 1 é do TCN, joint venture da NovaAgri (que pertence à Toyota) e da americana CHS.

O lote 2 é 100% da Viterra, que está em processo de fusão com a Bunge, mas que, segundo André Campos, por estar em fase de aprovação regulatória, não muda em nada o plano estratégico em relação ao terminal.

O terceiro lote é da CLI, da IG4 Capital e da Macquarie Asset Management, que presta serviços para diferentes tradings. Já o lote 4 é da ALZ, que reúne a brasileira Amaggi, a francesa Louis Dreyfus e a japonesa Zen-Noh.

Até hoje, o consórcio já investiu cerca de R$ 2 bilhões. Na ampliação pleiteada agora, mais uma vez, os aportes serão divididos em 4 partes iguais, embora os volumes embarcados sejam diferentes, dependem da condição de mercado, da livre concorrência entre eles.

O plano é aumentar a capacidade de armazenagem do Tegram das atuais 500 mil toneladas para 860 mil toneladas. Ao mesmo tempo, permitir que o embarque anual suba para 23,5 milhões de toneladas de grãos.

"Essa realidade de sobreposições da soja e milho está cada vez mais frequente.
Sempre encerrávamos o embarque de soja em Itaqui lá por agosto, mas este continuamos exportando soja até dezembro", ressalta.

O diretor da Viterra disse que o gargalo logístico está tão grave este ano, com a safra recorde, que embarques de soja de Mato Grosso estão sendo feitos por Rio Grande, no extremo Sul do País. "Em Santos não há espaço, já que o foco no momento é milho, e em Paranaguá a espera está ultrapassando 100 dias”, explica. Mais um motivo para reforçar a capacidade do Arco Norte.

O problema é que, segundo André Campos, as negociações continuam e ainda não houve um sinal verde por parte dos governos para que o projeto de ampliação possa ser iniciado.

André Campos, presidente do consórcio e diretor da Viterra

A concessão do Tegram vai até 2037. Junto com o projeto para construir o terceiro berço foi solicitada uma antecipação de renovação da concessão, o que daria mais 25 anos e assim permitiria às empresas ter o retorno do que vão investir.

"Nossa preocupação é a tempestividade deste processo, precisamos convencer o estado de que se trata de um projeto atrativo e vantajoso. Nós estamos convencidos”, afirmou o presidente do consórcio.

Caso a autorização saia no prazo de 12 meses, é possível que o terceiro berço do Tegram comece a operar no final de 2027.

"Até lá como fica esse cenário de crescimento da produção agrícola? Pode ser que o atraso para o aumento da infraestrutura logística até iniba o crescimento brasileiro? Em algumas situações sim", afirmou o executivo, que diz esperar que "o quanto antes” haja um avanço nas negociações.

Cenário para 2024

Apesar dos desafios, o presidente do consórcio Tegram espera que em 2024 o volume de 15 milhões de toneladas embarcadas se repita.

"Existe a preocupação sobre impacto do El Nino sobre o milho segunda safra, mas na soja não é tanto, até atrasa a colheita, mas não afeta tanto produtividade, por isso seguimos otimistas em relação à demanda de exportações portuárias”, afirmou Campos.

Ele acredita que o porto do Itaqui tem potencial para crescer em market share, mas depende destes investimentos em aumento da capacidade.

"Atualmente o porto tem cerca de 15% da exportação de grãos e poderia chegar a 20% no prazo de 5 anos, a depender da infraestrutura portuária, já que hoje não tem capacidade para isso”, diz.

A expectativa é de que o Porto do Itaqui feche o ano com movimentação de 36,5 milhões de toneladas em 2023 (o que inclui diferentes itens, não apenas grãos), aumento de cerca de 8% em relação a 2022.

Outro investimento fundamental neste processo de expansão está relacionado aos modais de transporte. Segundo Campos, o projeto foi concebido para ser 60 % ferroviário e 40% rodoviário. "Mas está sendo 60% caminhão e 40% ferrovia. Isso é uma preocupação".

O diretor conta que a VLI também tem projetos de investimento que aguardam o sinal verde dos governos, totalmente relacionados com o chamada fase 3 do Tegram. Uma das obras criaria um sistema de entrada e saída de vagões que aumentaria a eficiência do modal ferroviário no porto.